EUA registram 273 tiroteios em massa nos primeiros 275 dias de 2017, diz associação

Polícia armada é vista do lado de fora do hotel Mandalay Bay. GETTY IMAGES

Por Ricardo Senra.

O americano Stephen Paddock disparou tantos tiros de seu quarto de hotel que a leve fumaça que costuma subir após o uso de uma arma de fogo foi tão intensa que disparou o alarme de incêndio – o que teria sido o estopim para que o atirador tirasse a própria vida.

Segundo a imprensa dos EUA, o homem que matou 59 pessoas e deixou pelo menos 527 feridos em Las Vegas, na noite de domingo, tinha mais de 20 armas em seu quarto – algumas delas automáticas, com cartuchos de munição capazes de armazenar dezenas, ou até centenas de balas de uma só vez.

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O arsenal transformou Paddock, um homem nascido nos EUA há 64 anos, no autor do tiroteio em massa mais letal da história recente dos Estados Unidos.

Gráfico mostra número de mortes em ataques a tiros nos EUA.
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E a concorrência não é pequena. Nos primeiros 275 dias de 2017 (ou de 1º de janeiro a 2 de outubro), 273 atiradores como Paddock deixaram rastros de desolação, mortos e feridos pelo país.

Isso significa que, em média, apenas dois dias em todo o ano não tiveram incidentes como o ocorrido nesta semana em Las Vegas.

Os dados são da associação Gun Violence Archive (GVA – ou Arquivo da Violência Armada, em tradução livre), que registra episódios como este desde 2013 a partir de dados do governo e das forças de segurança dos EUA.

EUA x Brasil

Ainda segundo a GVA, 11.685 pessoas – morreram neste ano por disparos de armas de fogo nos Estados Unidos – 42 por dia.

O número impressiona, mas equivale a um terço das mortes por tiros registradas diariamente no Brasil – 123 por dia, segundo o Mapa da Violência 2016, estudo desenvolvido pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA) e o Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FPSP).

Pessoas correndo da cena do tiroteio
Multidão em pânico foge do festival Route 91 Harvey, alvo de ataque. GETTY IMAGES

O que difere os EUA do Brasil são os tiroteios em massa – pouco comuns no noticiário brasileiro, onde a maioria das mortes costuma ser resultado de confrontos entre policiais e traficantes, brigas entre grupos rivais ou disputas no campo.

Para chegar às estatísticas estadunidenses, a Gun Violence Archive define como tiroteio em massa (ou “mass shooting”) os episódios em que quatro ou mais pessoas são alvejadas ou mortas por um mesmo atirador ou grupo de atiradores.

“Apesar de não ter sido uma surpresa, por conta da frequência em todo o país, é muito difícil antecipar um tiroteio em massa como o ocorrido em Vegas”, disse à BBC Brasil Mark Bryant, diretor-executivo da GVA.

Praticante de tiro nas horas vagas, Bryant costuma dizer que defende a “prevenção contra a violência vinda de armas de fogo”, e não “o fim do porte de armas”.

Casal usando chapéu de cowboy se abraça durante o show.
Casal se abraça no local do show onde atirador foi ouvido abrindo fogo. GETTY IMAGES

Ele diz que a única forma de reduzir a chance de tiroteios em massa sem prejudicar o direito a posse de pistolas, rifles e revólveres, um dos pilares da Constituição americana, seria o controle na venda de cartuchos de munição de alta capacidade – como os que chegam a permitir até 200 tiros por vez.

“A Califórnia já fez isso e reduziu o limite a cartuchos de 10 tiros, no máximo. Assim, o direito de quem quer poder usar a sua arma continua preservado”, afirma.

“Mas com limite. A única razão para se ter cartuchos de 120, 200 tiros em casa é a possibilidade de alvejar várias pessoas”, diz Bryant.

Lobby

Atualmente, estima-se que 55 milhões de americanos tenham armas de fogo em casa – são 88 armas para cada 100 habitantes no país.

O forte lobby da indústria do armamento ajuda nesta popularidade.

Tradicionalíssima no país, a Associação Nacional de Rifles esteve entre os principais cabos eleitorais de Donald Trump e doou US$ 30 milhões (cerca de R$ 100 milhões, em valores atuais) ao republicano durante a campanha presidencial do ano passado.

Vigília em homenagem às vítimas de Las Vegas
Vigília é realizada após tiroteio em massa em Las Vegas. REUTERS

No início deste ano, o Senado americano decidiu, por maioria, suspender uma regra aprovada por Barack Obama para impedir a venda de armas para pessoas com problemas mentais.

A medida foi endossada por Trump e ampliou o acesso a armas a 75 mil pessoas em todo o país.

Há poucas semanas, a Câmara dos Representantes (equivalente à Câmara dos Deputados brasileira) aprovou uma lei que torna mais fácil para que cidadãos comuns comprem silenciadores para suas armas – algo bastante criticado por Hillary Clinton, derrotada por Donald Trump na última eleição presidencial.

O tema agora aguarda discussão no Senado – onde, segundo especialistas, a chance de aprovação é mais difícil.

Na comparação com 2016, as mortes totais por tiros nos Estados Unidos subiram 6%, segundo a GVA.

“Já a quantidade de tiroteios em massa caiu um pouco menos de 20% neste ano, em relação ao anterior”, diz o diretor-executivo da associação à BBC Brasil.

“Mas é impossível prever se a média continuará assim até o fim do ano”, acrescenta.

O governo americano não tem uma definição oficial para “tiroteios em massa”.

O FBI define apenas os “assassinatos em massa” – classificados como a morte de três ou mais pessoas no mesmo local público.

A polícia federal americana qualifica ainda como “assassino em massa” quem mata quatro ou mais pessoas em uma determinada situação.

 

Fonte: BBC.

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