EUA oferece recompensa pela cabeça de Maduro

Foto: PR Venezuela. Fotos Públicas

Por Elaine Tavares.

Nem mesmo uma epidemia mundial, que vem cobrando milhares de vidas em todo o planeta, arrefece o império estadunidense na sua sistemática campanha para dobrar os joelhos de qualquer governo que não se alinhe aos seus interesses. Derrotado em várias tentativas de desestabilizar o governo de Nicolás Maduro, na Venezuela, agora resolveu oferecer uma recompensa pela cabeça do presidente, acusando-o de ser um narcotraficante. Colocou 15 milhões de dólares à disposição para quem ofecer provas sobre a acusação.

Igualmente o Departamento de Justiça do EUA acusou o Ministro da Defesa Vladimir Padrino López de distribuir cocaína em aviões oficiais, bem como permitir que aviões de narcotraficantes colombianos pousassem no território venezuelano. Ele estaria na lista de narcotraficantes dos EUA desde 2018. Também foram citados mais 12 funcionários do governo de Maduro.

Os argumentos para acusar Maduro, sem qualquer prova como sempre, baseiam-se na amizade do presidente com algumas personalidades colombianas, como Iván  Santrich (das Farc) e Piedad Córdoba (ex-senadora).

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Na Venezuela, imediatamente o ventríloquo de Trump, Juan Guaidó, passou a disseminar a informação sobre uma possível implicação do presidente no tráfico de drogas e fez um chamado para a deposição de Maduro. Desde a Assembleia Nacional – a qual ele diz dirigir, apesar de ter sido derrotado nas eleições que definiram outro presidente – ele está, inclusive, prometendo anistia a oficiais do exército que queiram testemunhar contra Maduro e os demais implicados.

Na sexta feira o presidente venezuelano revelou detalhes de um plano que levaria a um tentado contra ele, organizado na Colômbia com a participação de um general aposentado, Cliver Alcalá Cordone, que havia se manifestado publicamente no país vizinho onde está foragido, dizendo que era hora de iniciar os movimentos conspirativos na mais obscura noite de março.

Maduro rechaçou todas as acusações e qualificou como mais um ataque rasteiro dos estados Unidos, justo num momento em que a população está enfrentando o vírus mortal Covid-19 e a Venezuela, apesar de todos os bloqueios, consegue enfrentar com eficácia.

Os militares venezuelanos de alta patente também tem se manifestado dizendo que estas acusações são cortinas de fumaça do governo estadunidense para fugir das responsabilidades de ser um país no qual o coronavírus se espalha, sem uma sistema de saúde eficaz. “Chamar para a guerra é um artifício recorrente para não enfrentar os dilemas internos”.

Conforme dados da UNODC (Escritório de Drogas e Crimes das Nações Unidas) 90% da cocaína consumida nos Estados Unidos vêm da Colômbia, 6% do Peru e 3% de Honduras. A ONU também registra o México, Guatemala e Equador como países de trânsito da droga, mas a Venezuela jamais apareceu em nenhum dos informes dessas duas organizações. Agora, surpreendentemente, o Departamento de Justiça aparece com essas informações.

Os Estados Unidos é o maior consumidor de drogas do planeta e desde a Colômbia chegam 17 toneladas ano. O país do Tio Sam é pródigo em exigir prisões de traficantes em vários países da América Latina e até já chegou a invadir o Panamá, em 1989, com o propósito de prender o então presidente Manuel Noriega, que fora, durante muitos anos, amigo e parceiro dos EUA, informante da CIA. Como ao assumir o governo, Noriega buscou distanciamento das políticas estadunidenses foi acusado de narcotraficante e teve sua cabeça colocada a prêmio por um milhão de dólares. Na invasão, os EUA colocaram 26 mil soldados no Panamá, causando mais de três mil mortes de panamenhos. Noriega fugiu, mas acabou se entregando por medo de ser assassinado.

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O interessante é que não se sabe de nenhuma ação dos Estados Unidos para caçar ou prender os traficantes locais, afinal, quem nos Estados Unidos compra a droga da Colômbia? Apenas o cinema, vez em quando, apresenta algumas teorias sobre quem são os grandes traficantes estadunidenses, no geral gente muito bem colocada na sociedade. Mas, não há ninguém obstaculizando suas ações. Ao que parece faz mais alarde intervir nos países periféricos porque, além de aparecer como guardião da liberdade, de quebra, os EUA conseguem controlar as riquezas de cada um deles com mais facilidade colocando seus governantes títeres.

Agora, Donald Trump copia a mesma tática de George Bush pai, colocando prêmio na cabeça de Maduro, fazendo com que a cobiça individual possa ser um elemento muito mais forte do que as tentativas de golpe e a guerra econômica que até agora falharam.

No mundo inteiro pouco se vê países ou organismos ditos democráticos discutindo mais essa trama estadunidense. Nicolás Maduro é um presidente eleito democraticamente, nos marcos da democracia burguesa, com olheiros internacionais respaldando cada eleição. A atitude do governo de Trump, lançando uma recompensa pelo assassinato do presidente deveria ser repudiado como um crime internacional. Mas, ao que parece, a lógica do faroeste, que tanto sucesso fez na criação dos Estados Unidos, se estende pelo mundo, sem freio, com o governo assumindo o papel de xerife mundial. Um xerife que autoproclama e que não tem qualquer autoridade legal.

Também é seguro que os “caçadores de recompensa” já estão agindo e todo o cuidado agora será pouco para o presidente Maduro.

Ao longo dos anos de governo de Nicolás Maduro essas não são as primeiras acusações de que alguns membros do seu grupo de governo estariam ligados a ações do narcotráfico, mas é a primeira que o implica pessoalmente. Pode haver alguma verdade nessas acusações? Pode! Mas, haveria que ser investigado a fundo, e serem apresentadas as provas concretas.

O que acontece é que essa tática estadunidense de produzir mentiras é bem conhecida. Tanto na história passada, como na história recente, tal como aconteceu a invasão do Afeganistão e do Iraque. As duas invasões foram baseadas em mentiras, desmentidas depois, mas quando os países já estavam dominados e milhões de pessoas estavam mortas.

Ao que parece, com a Venezuela é igual. Os EUA tentaram acabar com Chávez e com o governo bolivariano de várias maneiras. Não conseguiram. Com Maduro também tentaram a guerra econômica e o roubo dos depósitos internacionais. Ainda assim, a Venezuela saiu adiante e tem se mantido firme. Agora, além de enfrentar a falta de recursos, o bloqueio econômico, a guerra econômica e uma oposição vende-pátria, o governo precisará ficar de olhos bem aberto para um possível atentado contra Maduro.

 

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Elaine Tavares é jornalista em Florianópolis.

A opinião do/a autor/a não necessariamente representa a opinião de Desacato.info.

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