Estudo investiga determinantes sociais da obesidade

Por André Costa.*

Características do ambiente têm papel relevante no desenvolvimento da obesidade, uma vez que podem influenciar hábitos de vida saudáveis ou não saudáveis. O consumo alimentar e a atividade física, principais causas a determinar se uma pessoa estará ou não com excesso de peso, são originados também por fatores como renda, escolaridade e sexo. Com o objetivo de investigar determinantes sociais relacionadas à obesidade, pesquisadores da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), da Faculdade da Saúde e Ecologia Humana (Faseh) e da Fiocruz Minas desenvolveram o estudo Excesso de peso em homens e mulheres residentes em área urbana: fatores individuais e contexto socioeconômico.

Publicado na revista científica Cadernos de Saúde Pública (volume 31, suplemento 2015), periódico editado pela Fiocruz, o estudo avaliou 2.936 pessoas com idades entre 20 e 60 anos residentes em Oeste e Barreiro, distritos sanitários de Belo Horizonte. Os distritos foram escolhidos por representarem as desigualdades da capital mineira referentes a indicadores demográficos, socioeconômicos e de saúde.

A pesquisa, que integra uma investigação denominada Saúde em Beagá, constatou a prevalência de excesso de peso em 52,3% dos casos analisados. O percentual foi semelhante entre homens e mulheres: respectivamente, 52,9% e 51,8%. Para entender por que mais da metade da população belo-horizontina está acima do peso, foram analisados fatores como idade, situação conjugal, escolaridade, renda familiar e hábitos alimentares.

Em relação à idade, tanto mulheres quanto homens tendem a ganhar peso no período entre os 30 e os 39 anos. Dos 20 aos 29, apenas 31,2% das mulheres e 38,2% dos homens são obesos. Na década seguinte, ocorre um grande salto, quanto o percentual de mulheres acima do peso aumenta para 54,4% e o de homens para 58,5%. Índices análogos são mantidos a estes na década seguinte, e voltam a aumentar na casa entre 50 e 60 anos, quando 69,3% das mulheres e 66,8% dos homens estão obesos. Quanto à situação conjugal, o comprometimento engorda: 57,4% das mulheres com parceiro e 61,6% dos homens comprometidos estão acima do peso, em oposição, respectivamente, a 45,3% e 42,6% dos solteiros.

A maior escolaridade foi considerada um fator protetor para o excesso de peso em mulheres, mas de risco para homes. Enquanto 70% das mulheres que estudaram entre 1 e 4 anos estão acima do peso, apenas 40,4% daquelas com mais de 12 anos de educação formal são obesas. Já entre homens, esta relação se inverte: 61,2% dos homens com mais de 12 anos de escolaridade sofrem de excesso de peso, em oposição a 53,8% dos que frequentaram a escola por entre 1 e 4 anos.

A renda mostrou ter associação positiva ao excesso de peso apenas entre os homens, com aqueles que ganham menos sendo mais magros do que os que ganham mais. O percentual de homens obesos sobe de 42,6% dos que ganham menos de dois salários-mínimos para 50,7% entre os com rendimento entre dois e cinco salários-mínimos e para 59,9% entre os que ganham mais de cinco salários-mínimos. Já entre mulheres, a diferença é pequena, não havendo relação entre obesidade e rendimento.

Segundo o estudo, esta associação entre escolaridade, renda e obesidade entre os homens se deve ao tipo de atividade exercida. Homens com maior escolaridade e renda exercem, em sua maioria, atividades sedentárias, o que os faz engordar. No caso das mulheres, por sua vez, o estudo sugere que as com maior escolaridade possivelmente sofrem maior pressão social para não engordar, assim como maior acesso a estratégias de controle de peso.

No que diz respeito a hábitos alimentares e estilos de vida, uma surpresa: o relato de refrigerante dietético foi associado à obesidade em ambos os sexos. Enquanto apenas cerca da metade daqueles que não consomem refrigerante ou consomem bebidas gasosas de todos os tipos estão acima do peso, 82,7% dos homens e 61,3% das mulheres que bebem refrigerante diet, light ou zero são obesos.

De acordo com o estudo, este resultado possivelmente se deve a um mecanismo denominado compensação calórica. Neste mecanismo, uma vez obeso, o indivíduo começa a tomar medidas para restringir o ganho de peso, passando então para tipos de refrigerante sem açúcar. Por consumir um alimento dietético, entretanto, a pessoa acredita ter permissão para consumir outras comidas mais calóricas, compensando excessivamente a ausência de bebidas dietéticas com outros alimentos que engordam.

*Agência Fiocruz de Notícias

Fonte: EcoDebate

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