“Esse pessoal pode invadir a sua casa”

Por Mariana Vedder.

Ontem, por volta de umas 15h da tarde, estava indo ao Botafogo Praia Shopping e percebi uma movimentação de uns 10 ou 15 Policiais Militares na porta. Entrei, perguntei pra um dos seguranças o que estava acontecendo. Eu já tinha visto que alguns deles traziam nas mãos um tanto de papéis. A resposta do segurança foi que ele estava ali para proteger a minha integridade física de uma “suspeita de rolezinho”. Notei, então, que o que os seguranças tinham nas mãos eram mesmo fotos e informações impressas do Facebook, e perguntei o que era. Resposta: “é um controle nosso de trabalho”.

Segurei a onda e fiz uns tweets contando o que aconteceu. Isso durou um minuto, tempo entre minha pergunta ao segurança e a chegada de três policiais militares e dois oficiais de justiça (um homem e uma mulher). Os cinco me abordaram para me fazer uma série de perguntas. Isso durou cerca de 20 minutos. Perguntaram se eu costumava frequentar aquele shopping, o que eu tinha ido fazer ali, se eu estava sabendo antes do que estava acontecendo, se eu fazia parte do movimento rolezinho e o motivo pelo qual fui perguntar ao segurança sobre o assunto. Uma abordagem surreal, típica de ditadura.

O oficial de justiça homem disse por mais de uma vez que uma liminar os protegia e permitia as abordagens. Disse também que a multa no valor de 2 mil reais seria paga por todos aqueles que descumprissem a ordem, e completou “vc não faz parte do movimento mesmo?”. Repeti que não fazia porque sequer estava sabendo, mas que poderia fazer se assim julgasse justo. Foi quando a mulher me interrompeu e disse que se eu continuasse defendendo “esse pessoal” daqui a pouco eles “invadiriam minha casa”. Respondi que isso era impossível, porque minha casa não representava nenhum processo de opressão a essas pessoas. Ela disse, então, que o MST invadiria minha casa. E eu falei que não, já que o MST só ocupa terras em busca de assentamentos. “E os sem-teto?”, disse ela. “Só ocupam prédios públicos com o objetivo de conseguir suas moradias”, respondi. “Eu sei, já tirei muitos deles de lá”, ela retrucou sorrindo, satisfeita.

Segurando o choro e um documento que poderia servir para “me intimar”, segundo eles (abaixo pra quem quiser ler), e com as mãos trêmulas, disse que me sentia intimidada com aquela abordagem. Completei que se no shopping aquilo era feito, daqui a pouco me parariam na rua, na minha casa e onde mais julgassem necessário.

O diálogo foi longo e muito mais sério do que posso expressar por aqui. Mas liguei para o Matheus que disse que eu poderia, se quisesse, registrar queixa por constrangimento ilegal. Fui então pra delegacia e liguei pro advogado do DDH, que me orientou a não registrar a ocorrência por entender que a polícia não é um órgão de confiança e que a denúncia poderia se voltar contra mim.

Os policiais que me abordaram junto aos oficiais de justiça eram negros, assim como os garotos das fotos que eles tinham nas mãos. Tive muita vontade de chorar, mas segurei. A luta continua.

PS: eu aleguei também ter perguntado aos seguranças para saber mais informações, já que sou jornalista e pesquisadora. Estou escrevendo também, há cerca de um mês, um artigo sobre os rolezinhos. Estava lá também como pesquisadora.

vedder

Fonte: https://www.facebook.com/marivedder?ref=ts&fref=ts

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