Especulação Internetitária

Por Guigo Ribeiro, para Desacato.info.

A especulação internetitária é o ato de investir em notícias dos mais diversos campos e formas esperando obter resultados como, dentre outros, a legitimação da violência de uma pessoa executada. Como forma, também usam de comparativos, espaços e possibilidades futuras ou passadas. Especulam sobre o evento e através desta, objetivam passar uma borracha no ponto central. “Mas, contudo, todavia…”. Marielle, no absurdo do ocorrido, teve o mundo de coisas postas em suas costas, dando a impressão de uma busca desesperada por legitimação para a bala que a levou fisicamente. Ou seja, legitimação para uma bala que levou uma vida.

Meu desafio, leitor, é conseguir ver nisso algo que o conduza ao sono do “ok”. Meu desafio é entender como o sangue alimenta. Sim, a internet é faminta. Mata sua fome de imediato. Mata a fome do imediato. Sem má digestão, caganeira. A internet não necessita de chá de boldo. Tem um paladar tão abragente que se alimenta de tudo que a faça girar, “produzir sentido”, dar oportunidade para que rolem olhos apressados sob linhas, frases. Marielle foi executada e está exposta ao instante em que buscam em desespero um “por quê” justificador. Porque as coisas precisam de um “por quê”. Mas não sempre. Só algumas. E às vezes. Só quando existe a necessidade de silenciar o horror e trocar de posto do assassino pelo da vítima. Só quando precisam um tanto aquietar o estrondo na indignação. Penso nas hipóteses levantadas pelos especuladores e nenhuma me tira o nojo de topar com o fato de uma mulher morta por mãos de quem sabe e vive para matar. Mãos que matam e dormem o sono da tranquilidade. Mãos que fazem do fim da vida profissão. Se esposa de fulano, se isso ou aquilo, mudaria o que aconteceu? Apagaria a covardia? Necessário dizer que nenhum fato foi comprovado. Melhor: Necessário dizer que são mentiras! Pensando algum caso que fosse verdade, nada importa. Pois é sangue que está derramado. Veja! O ponto chave dá-se na especulação como meio para diminuir a barbárie. É isso. E só. Me lembro de tantas vezes presenciar estes “Ah…mas olha isso”. Me lembro, inclusive, de ser responsável tantas vezes por este “Ah…mas olha isso”. O costume de adentrar o espaço da reprodução.

Veja a mágica: algo é compartilhado e se torna pertinente. Simples assim. Caso alguém, um mero mortal distraído, entregue ao delicioso e raro exercício do “fazer nada” seja fotografado quando desatento ao perigo das lentes alheias, poderão, com muita ou pouca imaginação, criar algo que as pessoas acreditarão. Sem demasiada dificuldade podemos lembrar de diversos casos. Muitos. Para além da exposição dada a “liberdade” que as redes nos possibilitam, há casos de pessoas que tiveram suas vidas tiradas pelas possibilidades criadas. Um “compartilhar” e ponto. Está propagada para o mundo a “sequestradora de crianças do litoral”. Sim, é mais sério do que parece.

O tribunal de web e sua vasta atuação julga conforme leis e meios bem estabelecidos. “Se tá na internet é verdade”. O outro é entretenimento. O outro é nosso riso ou indignação. O outro, por vezes, nem sabe que sabemos de sua tragédia. Mas sabemos e estamos determinados a construir um olhar sobre esta, a levando para lugares que bem entendemos. Sem chance de defesa. E mais. Se as informações forem originadas por alguém “importante”, como por exemplo uma desembargadora, ganha ainda mais crédito. Usarão até como argumento. “Olha…quem disse foi uma pessoa importante e não sei o quê”. Posição social como maior propagação e “coerência” da voz. Que essa coerência esteja para todos. Para qualquer outro ou outra que caia nas garras da especulação.

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[avatar user=”Guilherme Ribeiro de Santana” size=”thumbnail” align=”left” link=”attachment” target=”_blank” /]Guigo Ribeiro é ator, músico e escritor.

1 COMENTÁRIO

  1. Concordo com a sua reflexão, mas me preocupa ainda mais do que a especulação nas redes sociais, a falsa verborragia dos veículos de massa que atinge aos menos favorecidos que só têm como acesso,uma tv , rádio, ou a presença em templos “sagrados“ ,onde estas pessoas são exaustivamente manipuladas ao vivo e sem a capacidade de refletir, porque são pronunciadas por deuses ou semi deuses. Quando penso assim, sinto-me enojada do Poder de manipulação sobre os incautos.

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