Especial Graffit

   Arte pelas ruas de Florianópolis.

   Grafiteiro da semana: André Pardini

unnamed   Foto: Sonora Satya

Por, Madalena Giostri.

O que é graffit?

O graffit é para mim uma das formas de expressão que alimentam as ruas das cidades. É um elemento que na essência parte do movimento hip-hop, pelo ato de se associar com a vontade do ser humano de se expressar, marcar território e dialogar com o público. É um movimento que junto a pixação já se apoiou abrangendo problemáticas sociais, causas políticas, anarquismo, adrenalina e que hoje em dia é uma mistura difícil de se rotular, tem por um lado valor agregado de arte, passando por galerias, museus, bienais e por outro lado, mais próximo de como tudo começou, os bombs, trow-ups feitos sem autorização, na minha visão questionando até onde o espaço é público ou privado.

Como foi se envolver com arte? Conte-nos um pouco sobre como foi o início, o que o fez buscar o graffit, os murais, e como foram seus primeiros contatos com esse universo?

Com o graffit desde minha adolescência já apreciava nas ruas e com 15, 16 anos começaram os primeiros roles ainda em São Paulo e, em 2007 fiz o meu primeiro graffit aqui em Florianópolis. O que mais me moveu sempre a estar nas ruas era o fato de romper com o cotidiano da sociedade e tentar expor e descarregar o que eu poderia transmitir através das tintas, mudar algum ambiente que dependendo da situação, do meu ponto de vista merecia cor, normalmente imóveis abandonados, muros já depredados e assim foi indo até surgirem oportunidades de expor o trabalho em eventos com live-paint, decorações de interiores, decoração de festivais e trabalhos comissionados. Paralelo ao graffit, telas, trabalhos com serigrafia, ilustrações e oficinas.

Como você vê a arte de rua? O que era antes e o que é agora.
Eu valorizo muito qualquer forma de expressão nas ruas, considero essencial para sairmos da rotina, tanto o que se faz quanto o que se vê. Tornar os dias mais coloridos ou mais alegres, sem distinção social ou tendo que pagar para ver causa grande admiração da minha parte.

No caso do graffit, antes era reprimido, agora é polêmico. Temos políticas públicas que apoiam eventos e nos convidam para ações sociais ou trabalhos artísticos, por outro lado, sem autorização é detido e julgado. Por parte da população vejo uma grande aceitação com o graffit em particular. A opinião de muita gente já mudou, e a das novas gerações é de total curiosidade e aceitação, isso vejo no dia-a-dia no contato direto com o público quando estou fazendo algum trabalho.

Como você vê a relação da comunidade de Florianópolis com o graffit?

Por parte da população, na região onde moro e onde vivi experiências com o graffit, muito boa. Muita gente pára para ver, buzina, pergunta como funciona para ter um na sala de casa, ou no muro da residência, da empresa, pais e filhos acompanham o processo artístico, fotos e tudo mais, vejo que rola uma interação muito positiva. Quanto ao poder publico, ainda avalio o estado de Santa Catarina atrasado no aspecto cultural e artístico, precisando valorizar mais os artistas que tem aqui, muita gente boa, com pouco apoio do estado, vários estados vizinhos já dão banho quando o assunto é o incentivo a arte, de fato é um aspecto cultural que acontece na maioria das áreas artísticas por aqui, acredito e torço para que mude.
Qual a relação do graffit com a cultura underground?
Depende o que considera cultura underground hoje em dia. Vejo o graffit com proporção universal, com o acesso a informação bombando atingiu varias camadas da sociedade, do mais pobre até o mais rico. Na essência, junto a pixação, faz parte de vários movimentos culturais anti-sistema ou de caráter protestante, hoje em dia é um pouco de tudo, é um elemento de expressão contrastante, esta nas periferias, decorando casa de magnata e logo tem renome de Bienal Internacional, já esta distante da essência do movimento do final dos anos 80 e anos 90, tem uma cara nova que agrega valor de arte de mercado também.
Recomendo um documentário “O PIXO” de João Wainer e Roberto T. Oliveira, documentário sobre a pixação na cidade de São Paulo que participou da exposição Né dans la Rue (Nascido na Rua), da Fondation Cartier pour l’Art Contemporain, em Paris. Esse contraste é a cara do movimento da Street Art nos dias de hoje.
O graffit/arte urbana ainda são encarados com um certo preconceito. Por que isso acontece?
Acho que acontece porque ele é ofensivo para uns e lindo para outros. Ele bota em questão o espaço público/privado, gera conflito, e na minha visão é um dos fatores mais interessantes no movimento. A liberdade de expressão existe, porém se não autorizada pelo estado, é crime, quem gosta de ver tudo a maneira conservadora de se ver o mundo, seguindo as regras, tudo mais, geralmente não gosta.
Como é o processo de criação de seu trabalho, como seus pensamentos e vivências influenciam na criação?

Meu processo de criação é basicamente no chamado “freestyle”, estilo livre, gosto de ir para o muro sem esboço, com um arsenal de tintas e decidir e sentir na hora para onde vai correr o trabalho, as cores e as formas. Tento exercer o trabalho da maneira mais livre possível, isto eu consigo quando tenho um muro autorizado, ninguém esta me pagando e tenho o domingo inteiro para curtir o trabalho. Normalmente em trabalhos comissionados se apresenta uma ideia, uma paleta de cores, ou um trabalho como referencia, as vezes um esboço e dai o trabalho segue conforme a risca.

Como foi o processo de desenvolver seu estilo próprio nas paredes?

É uma soma de fatores, em grande parte o que me inspira é a natureza, as cores, as formas, tento expressar o que nem vejo e sim o que sinto, de forma abstrata com alguns elementos visuais para compor o trabalho. Ultimamente tenho estudado os olhos e aliado meu estilo livre de formas e cores com olhos.
Qual sua fonte de inspiração? Artistas, Músicas, qualquer coisa vale!
Admiro muito o trabalho do Kobra, grafiteiro, muralista, brasileiro reconhecido internacionalmente, Acidum Project de Fortaleza, L7M de São Paulo entre vários outros grafiteiros. Nas artes plásticas Jackson Pollock, pelo processo de criação, liberdade de expressão exercida em cada trabalho, por botar os sentimentos na tela de maneira única. A música sempre me acompanha também, desde criança em casa muita música popular brasileira de qualidade, samba de raiz, a turma da tropicália, baião.
Qual foi a experiência mais marcante enquanto grafiteiro?
O mural de 75 metros na faixada da APAE de Florianópolis, o maior mural que tive a oportunidade de pintar, e revitalizar um espaço que estava em péssimo estado.
Conte-nos sobre as oportunidades que já teve. Quais foram os projetos que você já fez?
Gosto muito de dar oficinas, passar o conhecimento e viver esta troca de ensinamentos, pois dando aulas se aprende muito e trabalhar com o SESC foi muito gratificante, eu e meu irmão Gabriel Young tivemos a oportunidade de dar oficinas para a criançada, duas turmas grandes e muita arte. Trabalhar com decorações de festivais como o Revolution Festival-SC, do qual já estou indo para a terceira edição com eles, um festival que respira arte, o Universo Paralelo-BA e Ressonar-BA também foram trabalhos que adorei fazer. O  ultimo foi na ação paralela da Bienal de Design Brasileira que aconteceu aqui em Florianópolis, um live-paint que rendeu boas parcerias e uma exposição.
Quais são seus projetos futuros?
No momento minha prioridade é acabar o curso de Artes Visuais da UDESC, seguir decorando festivais, trabalhando com arte, e continuar estudando o universo da serigrafia.
Qual seu maior objetivo enquanto grafiteiro?
Poder espalhar meus trabalhos por lugares diferentes neste mundão.
Você gostaria de deixar algum recado para quem está lendo sua entrevista e conhecendo um pouco mais seus trabalhos? Ou para quem quiser…
Gostaria de agradecer a oportunidade de trocar minhas ideias e meus conhecimentos com vocês. Também enfatizar novamente a importância e a necessidade de projetos, de revitalização de espaços comuns públicos, de incentivo a arte de maneira geral, na arte visual, plástica, cênica, música, em todas as formas de expressão artística, e a importância de estas ocorrerem em todas as camadas da sociedade, tanto em comunidades carentes, escolas publicas como em espaços, empresas privadas também, com intuito de conscientizar a população o grande valor da arte no cotidiano do ser humano.
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ollio bienal
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mini quadro

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