Entre Vales, lamas e mortes

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Ilustração: Anderson Awvas

Por James Ratiere, para Desacato. info.

Mãe, não sei por quanto tempo a gente vai aguentar. Ontem eu chorei novamente, semana tensa, tantas coisas acontecendo, tantas mortes, tantas renúncias. Hoje precisamos renunciar para proteger nossa vida, precisamos deixar luta, resistir calado, num canto amedrontado, não por nós, mas pelos nossos.

 

Mãe, hoje vidas não são nada, o que precisamos é dinheiro, pra quê vida, pra quê ficar exaltando a natureza? Por que preservá-la? Temos que enriquecer mãe, sim, deixar o pobres na misérias, e através de seu trabalho escravo, de sol a sol durante anos, vamos ficar ricos, milionários! E depois abandonamos seus descendentes em cidades de risco próximas a barragens onde eles vão morrer soterrados pois a barragem, se rompeu! Ué, mas não tava desativada?

 

Mãe é isso, somos descartáveis, nosso suor, tempo, calos nas mãos, orta, casa construída com o dinheirinho escasso, bloco a bloco, financiando 40 anos até depois de morrer pra perder tudo em uma tsunami de lama onde ninguém tem culpa.

 

Tá tudo engasgado mãe, e se a gente falar muito pode desaparecer, vão ligar no nosso telefone, mandar mensagem por internet, e dizer que vão nos matar!

Pensar diferente virou veredicto de condenação, e o juiz anda por aí, nas ruas, escondido por detrás das telas, passando pela esquina onde podemos nos encontrar, e um joinha do imperador para baixo, somos ceifados da terra. Então o joinha pra cima dizendo “Dia Feliz” vai aparecer? Será?

 

Eu tenho medo mãe, minha ansiedade alcança níveis altíssimos ao ler os jornais, e a gente vai se perdendo nesse charco imenso que se tornou a pátria amada, mas estuprada, assassinada, enlameada, ameaçada de morte, Brasil!

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