Enquanto Bolsonaro derrete, Alberto Fernández ganha apoio da oposição por combate ao coronavírus

Foto: Captura de tela coletiva de imprensa

Por Marcia Carmo, Clarín.

Alberto Fernández corre contra o tempo, e com o respaldo da oposição, para que os casos do novo coronavírus não continuem subindo e o sistema de saúde não colapse. Nos bastidores do poder, teme-se que o pior deste capítulo inesperado – na história mundial – ainda esteja por acontecer na Argentina.

Por isso, a bateria de medidas de Alberto Fernández contou com o apoio opositor e incluiu as Forças Armadas na operação especial contra esse bicho que assusta o mundo inteiro. Neste domingo, soldados trabalhavam distribuindo comida nos bairros pobres, já que muitos dos que vivem do trabalho nas ruas como, por exemplo, os catadores de papel, não podem sair de casa, porque o país está em quarentena ‘preventiva e obrigatória’. A participação das Forças Armadas numa ação coletiva, liderada pelo Executivo, é algo praticamente novo em tempos democráticos no país. Mas este é só um dos braços da megaoperação que o presidente argentino lidera contra o novo coronavírus.

Num país acostumado ao racha político entre peronistas e não peronistas, Alberto Fernández apareceu diante das câmeras de TV ao lado de seus principais opositores para anunciar as medidas restritivas para tentar evitar que o vírus continue se multiplicando. Estavam com ele – a uma certa distância física, como recomendam os infectologistas – o prefeito de Buenos Aires, o opositor Horacio Rodríguez Larreta, os governadores governistas da província de Buenos Aires, Axel Kicillof, e da província de Santa Fe, Omar Perotti, e o também opositor Gerardo Morales, governador da província de Jujuy, no norte do país.

A bateria de medidas de Alberto Fernández contra a propagação do coronavírus inclui as Forças Armadas na distribuição de comida nos bairros pobres, já que ninguém pode sair de casa, e o controle dos que devem explicar os motivos para estar na rua em dias de quarentena.

Ele fez três anúncios nacionais – um deles em cadeia nacional – em uma semana. Começou anunciando a suspensão dos voos dos lugares considerados de risco devido ao novo coronavírus: Estados Unidos, Europa, China, Japão, Coreia do Sul e Irã. Cinco dias depois, o governo acrescentou o Brasil e o Chile nesta lista. Fronteiras foram fechadas, seguindo o exemplo de outros países, e na quinta-feira (19) anunciou a quarentena ‘preventiva e obrigatória’ para todo a Argentina, com exceção de serviços considerados essenciais como supermercados, farmácias e produção de alimentos.

Com voz serena, porém firme, Alberto Fernández, reconheceu que a paralisação do país, que será pelo menos até 31 de março, afetaria ainda mais a já combalida economia argentina – a crise atual começou entre abril e maio de 2018 e completa quase dois anos.

Neste domingo (22), em entrevista à emissora de televisão Telefé, o presidente argentino disse que “sair hoje às ruas é um delito”, já que a quarentena está em vigor.

À sua maneira e com o novo coronavírus, Alberto Fernández vai fortalecendo sua liderança e sem sua vice-presidente e ex-presidente Cristina Kirchner no radar, como escreveu, neste domingo, o colunista do La Nación, Joaquín Morales Solá.

Na véspera, Fernando González, do Clarín, observava que Fernández adotou medidas inéditas em tempos democráticos. “A pandemia não respeita sectarismos e não adianta ficar fechado em suas próprias tribos”, escreveu Ricardo Kirschbaum, diretor de redação do Clarín, neste domingo, ao citar a frente política de Fernández nesta batalha contra esse vírus.

A bateria de medidas do governo de Alberto Fernández incluiu a convocação das Forças Armadas para participar tanto do controle nas estradas, para que a quarentena, que irá pelo menos até o dia 31 de março, seja respeitada, quanto para fazer a distribuição de comida nos bairros mais pobres. Existe especial preocupação dentro do governo com os que dependem das ruas para sobreviver, como catadores de papel e vendedores ambulantes da Grande Buenos Aires, por exemplo. Uma pergunta que inquieta a área social do governo é: Como farão para conseguir se alimentar?

Os governos da cidade de Buenos Aires e das províncias também implementaram medidas próprias, como o governo do Chaco, por exemplo, que fechou suas fronteiras para o restante do país, após registrar 13 casos da Covid-19, incluindo o de uma criança de quatro anos de idade.

Durante entrevista, neste domingo, ao canal de TV Telefé, o presidente Alberto Fernández disse que sair de casa hoje, na Argentina, “é um delito”.

No âmbito nacional, na tentativa de fazer com que os argentinos cumpram a quarentena, quase 4 mil pessoas foram detidas desde que a medida começou, à meia-noite de sexta-feira (20). Desse total, mais de 600 foram detidas somente nesta madrugada deste domingo.

Alberto Fernández e seus opositores parecem decididos a evitar que a pandemia ganhe terreno no país. Até porque reconhecem as limitações do sistema de saúde nacional e também sabem que quanto antes esse pesadelo terminar, menos pior será para a economia, a pobreza e a desigualdade na Argentina.

 

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