Afinal, Cusco!

Por Urda Klueger.

(Excerto do livro “Viagem ao Umbigo do Mundo, publicado em 2006)

E na sombra do entardecer, chegamos a Cusco! Ah! Cusco, Umbigo do Mundo, como é possível alguém morrer sem ter te conhecido? Eu acho muito difícil descrever Cusco, e talvez seja mais elucidativo contar das longas ruas de construções Incas até hoje inabaladas, não importa quantos terremotos ou quantos cristãos já tenham acontecido ou vivido naquela cidade. Um dia ela foi uma Cidade Imperial, e então tudo lá foi feito da melhor qualidade possível, com as pedras tão bem cortadas como se o fossem por raios laser, e as longas ruas de construções Incas estão lá como no passado, embora tenham sofrido um exorcismo espanhol. O que aconteceu foi que os Incas gostavam das suas construções térreas, baixinhas, e os espanhóis provinham de uma cultura de cidades muradas, de casas altas e oprimidas por uma longa Idade Média. Então, o exorcismo que aconteceu quando Pizarro afinal apoderou-se de Cusco foi que seus sequazes e descendentes construíram segundos e terceiros andares nas casas térreas, e os fizeram com rendilhados balcões espanhóis, e transportaram para Cusco uma nova maneira de viver, um tanto quanto mourisca, e enxertaram nas casas Incas coisas das quais já vinham enxertados, e à primeira vista, para quem está desavisado, tem-se  até a impressão que se está a adentrar a uma cidade espanhola – mas é só olhar mais um pouquinho, olhar para o térreo sob aqueles balcões que também são lindos, para se dar de cara com o antigo passado  Imperial daquele lugar que, sem dúvida, é o Umbigo do Mundo, conforme os antigos Incas o chamavam.

Cusco é um lugar sempre tão cheio de turistas que a chegada de um bando de extraterrestres não chegou a causar estranheza, e acabamos indo dar num hotel moderno, num quarteirão moderno, mas felizmente não muito longe da Praça de Armas – dava para ir à pé até lá! E foi o que fiz assim que me acomodei e tomei meu banho, apesar da preocupação que vi estampada nos companheiros quanto à minha segurança, por sair à pé já noite fechada, sem querer tomar um táxi. Mas eu estava em Cusco – como deixaria de andar à pé por aquelas ruas onde um dia caminharam por todos os lados os Filhos do Sol? Rapidamente atingi a Praça de Armas e parei, deslumbrada, encantada, fascinada, por poder de novo estar ali! Mesmo os 3.400 m de altitude de Cusco pareciam não me fazer grandes efeitos, mesmo depois de alguns quarteirões de caminhada apressada, tamanha a emoção que estava sentindo! Como que segurando nas mãos o coração descompassado, parei no meio da Praça de Armas a olhar devagarinho o entorno, mal acreditando que estava ali! Aquele era, afinal, o Umbigo do Umbigo do Mundo! Em duas rodas fôramos aqueles muitos milhares de quilômetros sem nenhum problema, sem ninguém se acidentar, sem ninguém se machucar, embora tivesse havido tantas quedas – e agora eu podia deixar o coração pular de alegria e de encantamento tanto quanto quisesse! Valera a pena, puxa como valera a pena!

 

 

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