Em rádios de Minas, Aécio busca reabilitação para disputar Senado

Com imagem abalada após pedir dinheiro para JBS, tucano roda emissoras mineiras como estratégia para viabilizar candidatura.

Por Nivaldo Souza.

Herdeiro político do avô Tancredo Neves e acostumado a ser o centro das atenções no poder mineiro nos últimos anos, o senador Aécio Neves (PSDB-MG) saiu de cena após vir à tona uma conversa com o dono da JBS Joesley Batista.

O diálogo derruiu a imagem do tucano e está obrigando o senador, afastado em setembro pelo Supremo Tribunal Federal e reconduzido ao cargo por colegas parlamentares, a reconstruir a imagem arranhada para tentar a reeleição ao Senado.

A retomada da carreira política de Aécio, que quase venceu a disputa à Presidência em 2014, passa pela estratégia de conceder uma série de entrevistas a emissoras de rádio em cidades do interior mineiro como Muriaé, Juiz de Fora e Teófilo Otoni.

A nova realidade midiática é incomum para o senador. Ao deixar o governo de Minas, em 2010, ele assumia a postura de chefe de Estado no relacionamento com a mídia, algo potencializado ao longo da campanha presidencial. Aécio se habituou a convocar coletivas de imprensa sempre que desejava externar seus posicionamentos.

Não à toa, a assessoria do senador costumava enviar áudios dessas entrevistas para rádios mineiras reproduzirem. O tucano foca, agora, em espaços de emissoras como a Rede Atividade (Muriaé), CBN Juiz de Fora, Rádio Teófilo Otoni e Itatiaia (Belo Horizonte). As conversar locais não constam na agenda do tucano nem são divulgadas em suas redes sociais.

O senador usou os espaços nas emissoras para afirmar que sempre agiu “de forma absolutamente correta” ao longo de 30 anos de vida pública e se dizer “vítima de uma armação ardilosa” montada por Joesley e a Procuradoria-Geral da República (PGR).

deputado federal Marcus Pestana define a rodada de entrevistas como um revide ao “bombardeio de mídia” sofrido pelo senador após o áudio da JBS, no qual combina o recebimento de 2 milhões de reais para custear sua defesa em nove inquéritos que Aécio é alvo no STF. “Ele está fazendo esse esforço para explicar as razões dele, pedindo desculpa pelo diálogo infeliz e explicando a natureza do pedido [de dinheiro]”, diz.

O diálogo infeliz a que se refere Pestana é o trecho em que Aécio afirma a Joesley o envio de um emissário paga pegar o dinheiro que pudesse ser morto “antes de fazer delação”.

Às rádios, o senador se declarou arrependido da expressão. “Eu lamento os termos daquela conversa, dos termos que ela se deu”, disse à rádio de Muriaé.

Aliados do senador mineiro acreditam, contudo, que o diálogo com Joesley será a principal pedra no sapato à sua reeleição. Uma ala tucana defende que ele desista de disputar o Senado para tentar uma vaga na Câmara, onde é mais fácil se eleger – Minas tem direito a 53 vagas para deputados federais, contra duas cadeiras para o Senado na eleição de 2018.

Mas Aécio rejeita publicamente a sugestão de sair a deputado, sinalizando intenção de disputar o governo do estado – alternativa que sofre resistência no PSDB mineiro. “Acho que a candidatura natural do Aécio é a reeleição ao Senado”, diz o presidente local do partido, Domingos Sávio.

Defesa demorada

Durante a entrevista à rádio Itatiaia, Aécio foi questionado se não “estava demorando” para provar sua inocência nos inquéritos no STF. O senador alegou que as investigações no âmbito da Lava Jato dizem respeito a “ajudas eleitorais” recebidas de empresas dentro da lei e que não concedeu contrapartidas em favorecimento aos doadores.

entrevista concedida à Itatiaia foi a mais incisiva. Nas demais, o tucano teve contato com cenários amistosos, como na Atividade FM – emissora da Zona da Mata Mineira. O senador não recebeu nenhuma pergunta embaraçosa ao longo dos 21 minutos da entrevista veiculada dia 31 de janeiro.

A rádio Atividade tratou Aécio como analista político. Ele aproveitou a oportunidade para discursar sobre um novo projeto para Minas. O senador foi provocado a falar sobre o “alinhamento” do eleitorado a correntes ideológicas, as reformas do governo Michel Temer, como a da Previdência, e as eleições presidenciais.

O tom amistoso se repetiu durante a entrevista à CBN de Juiz de Fora no dia 1º de fevereiro.

Colocando a cara

A assessoria do senador afirma que não há agenda de reabilitação de imagem, indicando que as participações nas rádios seguem a normalidade das atividades realizadas por Aécio para prestar contas do mandato assumido em 2011.

Já o deputado Marcus Pestana afirma que o senador “está pondo a cara” em público para avaliar se tem condições de garantir sua reeleição.

A decisão de disputar o Senado, ou uma vaga na Câmara ou ao governo de Minas “lá para maio vai decidir”, segundo Pestana. Até lá, o senador mineiro irá avaliar a receptividade ao seu nome junto ao eleitorado mineiro.

Aécio organiza 15 encontros regionais em todo estado após o carnaval, como parte do plano para se reposicionar no estado. “Ele é um cara experiente e não vai dar murro em ponta de faca”, avalia Pestana.

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