Em dia de luta internacional, mulheres relatam os impactos das barragens em suas regiões

Por André Vieira.

O Brasil tem 663 barragens de contenção de mineração e 295 barragens de resíduos industriais, segundo levantamento divulgado ano passado pelo engenheiro Ricardo Oliveira, um dos maiores pesquisadores do assunto. Este modelo, apontam especialistas, é responsável por gerar problemas sociais, econômicos, culturais e ambientais para diversas comunidades.

Nesta segunda-feira (14), Dia Internacional de Luta contra as Barragens, o Brasil de Fato conversou com atingidas por barragens, que relataram os impactos dos empreendimentos em suas regiões.

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Vilma é uma das afetadas pelo desastre em Mariana (MG) | Fotos: André Vieira

Samarco

Nascida na cidade de Rio Doce, em Minas Gerais, Vilma Aparecida de Castro Gonzaga, aos 50 anos de idade presenciou o momento considerado por ela o pior de sua vida: a destruição do rio Doce após o estouro de uma barragem. Casada, acompanhou todo o processo de chegada dos empreendimentos e a transformação de seu lugar. A barragem que destruiu seu lugar, a de Fundão, foi construída em 2008 e era administrada pela mineradora Samarco, uma joint venture entre a Vale S.A. e a anglo-australiana BHP Billiton.

Isso que aconteceu acabou com tudo. Matou o rio, matou os peixes e isso vai fazer com que as pessoas também morram porque elas não vão ter como trabalhar ou o que comer”, lamenta dona Vilma ao falar da tragédia ambiental da Samarco.

Aos 20 anos, Carla luta contra a instalação de barragens em São Paulo.

“De lá, ela e sua família tiravam o sustento para sobreviver. Quando questionada sobre o seu sonho para as comunidades, a ribeirinha logo responde. “Gostaria que fosse do mesmo jeito que era, o nosso rio limpinho, onde a gente pudesse pescar porque hoje em dia não dá mais”, completa.

Ribeira

Todas as gerações estão preocupadas com os impactos que a construção de uma barragem pode causar. Carla Galvão, hoje com 20 anos, ainda nem era nascida quando os moradores de Roteiro, no interior de São Paulo, começaram a mobilização para barrar a construção de barragens em sua região. Em seu caso, a luta por dignidade aos moradores do lugar vem de família. “Eu moro na região do Vale do Ribeira e há 30 anos lutamos contra as quatro barragens que querem construir por lá”, conta a jovem.

Ali, quilombolas e ribeirinhos questionam a forma como os projetos são implantados. “Somos contra isso primeiro porque não temos nem a possibilidade de dizer não ao projeto. Não somos nunca consultados. Preservamos o meio ambiente durante todo o tempo e depois vem um grande empreendimento para destruir tudo”, questiona.

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Mãe de 8 filhos, Maria não quer que sua cidade viva o mesmo processo de Mariana

Macacu

Localizada na região serrana do Rio de Janeiro, Cachoeiras do Macacu é uma das principais produtoras de frutas e verduras do estado. Conhecida também por sua beleza natural, o município pode ter grande parte de sua área devastada para a construção de uma barragem. Maria de Araújo Eugênio, de 64 anos, será uma das afetadas caso o Governo do Estado construa a barragem no local. Agricultora, mãe de oito filhos, seu desejo é permanecer no local. “Eles querem fazer com a gente como fizeram em Mariana”, diz ao lembrar da cidade mineira devastada pelo rompimento da barragem em 2015.

“Não queremos morar em outra casa, queremos dignidade. Mas nós não vamos desistir. Vamos fazer quantos protestos forem necessários para que não destruam o nosso lugar”, anuncia dona Maria.

Fonte: Brasil de Fato

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