Em ato em frente ao Planalto, mulheres pedem a cassação de Bolsonaro

Por Larissa Calixto.

Na manhã desta quinta-feira (4) movimentos feministas e de esquerda fizeram uma manifestação em frente ao Palácio do Planalto contra o presidente Jair Bolsonaro. A principal pauta estava ligada a condução da crise de covid-19 pelo governo Bolsonaro e o crescimento das mortes por coronavírus no país.

Atualmente, o Brasil é apontado como o novo epicentro da doença no mundo, enfrentando uma fase de crescimento nos números de infecção e mortes. São ao todo 587.017 infectados e 32.602, só na última quarta-feira (3) morreram 1.349 pessoas no Brasil.

O movimento também demanda políticas de proteção às mulheres, maioria nos hospitais como enfermeiras e auxiliares de limpeza. O Brasil é um dos países líderes no mundo em mortes de profissionais da enfermagem. O grupo aponta também o aumento da violência doméstica que coloca mulheres em situação de maior vulnerabilidade durante a pandemia e acusa o governo de não possuir uma política de enfrentamento desta realidade.

Veja a nota na íntegra:

Mulheres em luta contra o desgoverno genocida Nós, mulheres, estamos na linha de frente do combate à pandemia da covid-19 no Brasil, somos a maioria nos hospitais, em casa e em nossas comunidades. Somos nós que estamos gerindo a vida, protegendo, alimentando, cuidando e curando, enquanto o desgoverno genocida contamina, abandona, violenta, mata, permite que matem e deixa morrer milhões de pessoas. Somos nós, as mulheres, majoritariamente negras, que assumimos a responsabilidade social, afetiva e profissional do cuidado e também a responsabilidade política da luta e da denúncia, da defesa de direitos e da democracia.

Somos quase duas milhões de enfermeiras, técnicas e auxiliares de Enfermagem, as primeiras que tomamos a praça pública para denunciar a irresponsabilidade do Poder Público. Fomos as últimas a receber os equipamentos de proteção individuais (EPIs) e as primeiras a tombar: 103 já foram mortas pela covid-19. Somos as que empacotam os corpos, as que velam os mortos, as que embalam as filhas e filhos. Somos as que limpam e mantém higienizados os hospitais e suas UTIs. Somos as trabalhadoras domésticas, cuidadoras profissionais expostas, sem direito de nos recolhermos em nossas casas para nos proteger na pandemia. Somos diaristas com nossa remuneração interrompida, com renda emergencial negada em meio ao apagão deste desgoverno.

Somos milhões de trabalhadoras informais, afroempreendedoras e desalentadas sem acessar políticas emergenciais de assistência social para sobreviver à pandemia. Somos as que não têm comida na mesa e dependem de cestas básicas para garantir o mínimo de alimentação, porque não somos atendidas pelas políticas públicas. Somos as professoras buscando preservar a Saúde e a aprendizagem na pandemia. Somos as mães e as filhas cuidadoras sobrecarregadas pelas tarefas domésticas e familiares não compartilhadas nem pela família, nem pelo Estado. O ônus do cuidado afetivo recai desigual e injustamente sobre as mulheres-mães, mesmo que estejamos trabalhando de casa, e ainda quando recorramos à Justiça para obter uma divisão minimamente equitativa do cuidado com as crianças, nossa demanda é negada.

A sobrecarga de trabalho cresceu. A pandemia deixou claro que guarda compartilhada é uma ficção e que, no Brasil, todo o ônus do cuidado recai sobre as mulheres-mães, mesmo que sigam com dupla jornada de trabalho, mesmo que recorram à Justiça para obter uma divisão minimamente equitativa do cuidado com as crianças. Somos as mães que lutam pela justiça e pela memória de nossas filhas e filhos negros, assassinados pela polícia dentro de nossas próprias casas, onde os protegíamos da Covid 19. Somos mulheres indígenas e quilombolas lutando para decolonizar o poder, em defesa dos territórios dos povos tradicionais, somos aldeadas, vulnerabilizadas pelo desmonte da Secretaria de Saúde Indígena, pela invasão das nossas terras, trazendo sabedoria ancestral para resistir ao genocídio.

A violência doméstica aumentou. Somos as meninas e mulheres violadas, silenciadas, cuja parca rede de apoio institucional foi desmontada, com corte radical do recurso destinado a combater a violência contra as mulheres, e com a irresponsável execução do recurso que ainda restou. Mas somos também mulheres ativistas, somos as que sempre estivemos e continuamos nas ruas, nas praças, nos espaços virtuais sem medo, contra o patriarcado racista. Somos feministas afirmando #ElesNão. Somos mulheres negras que marcham contra o racismo e reivindicam o bem viver como solução para o Brasil e o fim da política de morte. Fazemos o levante negro nas periferias, nas favelas, nos quilombos e nas cidades contra a violência racista. Somos LBTI+ lutando pela liberdade sexual e contra a ordem heteronormativa. Somos mulheres camponesas e trabalhadoras rurais, em defesa da Reforma Agrária, produzindo alimentos saudáveis, semeando alternativas agroecológicas e denunciando a injustiça socioambiental, lutando por soberania alimentar e pelo direito a terra. Somos trabalhadoras lutando contra a exploração capitalista.

Somos mulheres na luta feminista, antifascista, antirracista, antiLGBTI+fóbica denunciando o poder policial organizado pelo Estado para o genocídio da juventude negra e para eliminar todos aqueles sujeitos (individuais ou coletivos) vistos como inimigos deste desgoverno racista, xenófobo, etnocêntrico.

O desgoverno Bolsonaro mata mais de 33 mil pessoas

Diante do evidente crime de responsabilidade, do boicote a qualquer ação que contribuísse para conter a pandemia, ultrapassamos 550 mil casos de Covid-19 e 34 mil mortos. Exigimos a cassação imediata da chapa Bolsonaro, pelo crime contra a saúde e a vida e pela fraude a legislação eleitoral, evidenciadas no inquérito das fake news. Nosso ato é uma defesa da vida dos 209 milhões de pessoas que vivem no nosso país. A saúde é direito de todos e dever do Estado. Seguimos em defesa do Sistema Único de Saúde (SUS) e do Sistema Único de Assistência Social (SUAS), pela manutenção da Renda Básica Emergencial, pela revogação da Emenda Constitucional 95 que corta recursos para às políticas públicas e pela taxação das grandes fortunas, para ampliar a nossa capacidade de resposta à pandemia e à desproteção social agravada que dela decorre. Sem a garantia de direitos, não há saída para a crise.

Brasília, 4 de junho 2020.
Articulação de Mulheres Brasileiras
Fórum de Mulheres do DF e Entorno
Frente de Mulheres Negras do DF e Entorno
Movimento de Mulheres Camponesas
Articulação de Povos Indígenas no Brasil
Setorial de Mulheres do PT
Secretaria de Mulheres do PSOL
Consulta Popular
Movimento dos Pequenos Agricultores
Cirandas Pela Democracia
a partidA
Secretaria de Diversidade da Associaçao Brasileira de Juristas
pela Democracia
Coletivo de Mulheres Jornalistas
Coletivo de Estudantes Indígenas e Mulheres da UnB

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