Em 12 anos, novo líder do PMDB aumentou patrimônio em 56 vezes

Por Alceu Luís Castilho.

As prestações de contas do deputado Leonardo Quintão (PMDB-MG), novo líder do PMDB após manobra do presidente da Câmara, não podem ser acusadas de ausência de transparência. Lá ficamos sabendo que, entre 2002 e 2014, esse economista de Taguatinga (DF), 40 anos de idade, multiplicou seu patrimônio em 56 vezes: de R$ 315 mil para R$ 18 milhões.

Lá estão também registrados os R$ 2 milhões recebidos, como doações de campanha em 2014, de mineradoras ou empresas ligadas ao setor – ele que é relator do novo Código de Mineração, em franca atividade para aumentar os benefícios das empresas. Leia aqui: Relator do Código de Mineração foi reeleito com milhões do setor.

E lá estão os R$ 800 mil recebidos de farmácias e drogarias também no ano passado, conforme os registros na Justiça Eleitoral. Entre elas a Raia Drogasil, com R$ 257 mil; a Drogaria Araújo, com R$ 120 mil; a Drogaria São Paulo, com 82 mil; a rede de farmácias Indiana (Irmãos Mattar e Cia), com R$ 73 mil; e a Drogaria Pacheco, com R$ 61 mil. As doações são legais.

Quintão é autor de vários projetos de lei que beneficiam o setor. Ou participou diretamente das negociações de outros projetos, como o PL das Farmácias e Drogarias, aprovado em 2014. Segundo o presidente da Federação Nacional dos Farmacêuticos, Ronald Ferreira dos Santos, o deputado atuou como negociador em defesa dos interesses da ABC Farma, a associação dos comerciantes.

Do total de R$ 4,96 milhões registrados na Justiça Eleitoral em 2014, mais da metade – R$ 2,8 milhões – vieram desses dois setores: farmácias e mineração.

Outros R$ 200 mil vieram da Bradesco Saúde, uma espécie de conexão entre o setor da saúde e o da mineração. É que o Bradesco, o banco que controla a seguradora, é um dos acionistas da Vale – aquela que já foi do Rio Doce, dona de metade da Samarco, a responsável pela catástrofe ambiental em Mariana (MG), em novembro.

QUINTÃO E A MINERAÇÃO

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Em 2014, relator do Código de Mineração recebeu R$ 700 mil de empresa da Vale (Foto: ISA)

O PMDB controla desde 2007 as indicações para o Ministério das Minas e Energia e para as superintendências do Departamento Nacional de Produção Mineral (DNPM). A Quintão coube indicar o chefe dos superintendentes, o diretor-geral. Para saber mais sobre as conexões entre o PMDB e as mineradoras leia esta reportagem da Agência Pública: Teia de interesses liga políticos a mineradoras.

Poucos políticos de fora do PMDB têm essa prerrogativa de indicar superintendentes do DNPM, o órgão responsável por autorizar e fiscalizar as lavras. Um deles era o senador Delcídio Amaral (PT-MS), hoje preso pela Polícia Federal, que fazia as indicações no Mato Grosso do Sul.

Segundo a BBC Brasil, o texto do novo Código de Mineração – relatado por Quintão – foi escrito no escritório de advocacia Pinheiro Neto, que tem como clientes as duas donas da Samarco, a brasileira Vale e a anglo-australiana BHP Billinton: Novo código da mineração é escrito em computador de advogado de mineradoras.

Estas foram as empresas diretamente ligadas ao setor que mais doaram ao deputado em 2014: Vale Mina do Rio Azul (empresa da Vale no Pará), R$ 700 mil; Anglogold, R$ 300 mil; Gerdau, R$ 263 mil; Arcelormittal, R$ 183 mil; Usiminas, R$ 133 mil; Kinross, Flapa Mineração e Companhia Brasileira de Metalurgia e Mineração (CBMM, do grupo Moreira Salles), com R$ 100 mil cada.

ENRIQUECIMENTO

Em 2002, o economista Leonardo Quintão possuía R$ 315 mil em bens. Era eleito deputado estadual em Minas. Em 2006, R$ 983 mil. Em 2010, reeleito deputado federal, o valor tinha saltado para R$ 2,64 milhões. Em 2014, novo incremento: o novo líder do PMDB declarou ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) possuir R$ 17,9 milhões – entre os quais R$ 2,6 milhões (o total de 2010) em espécie.

Em doze anos, portanto, ele aumentou seu patrimônio em 56 vezes.

O deputado foi escolhido ontem (09/12) pelos rebeldes do PMDB, com o aval do presidente da Câmara, para substituir Leonardo Picciani (RJ) – contrário ao impeachment de Dilma Rousseff – como líder do partido na Casa. É o mesmo cargo que projetou Eduardo Cunha como uma das peças-chave do Congresso.

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