Eleitores Viraram Fãs

Photo credit: wiredforlego on VisualHunt.com / CC BY-NC

Por Thais Polimeni.

Jesus é um cara legal. O problema é o fã-clube“. Essa frase tem definido muitas pessoas de uns tempos pra cá. Modéstia à parte, eu sempre fui uma fã maravilhosa. Costumo dizer que eu nasci pra ser fã. Nunca fui de gritaria, de diminuir os “concorrentes” dos ídolos e sempre dei presentinhos fofos e personalizados. Já tive aqueles ídolos inacessíveis, com os quais eu competia atenção com outros milhares de fãs, mas também tive a sorte de ter ídolos mais acessíveis, de ter sido a fã número 1 de muita gente que hoje em dia brilha muito por aí. Por várias vezes ouvi: “Ah, você não quer ser minha fã? Por favor!” e eu caía na gargalhada, porque só quem é fã sabe que não é questão de escolha. Qualquer dia eu vou me dedicar a estudar os fãs, porque é uma galera bem louca e, nessa loucura de dizer que não te quero, vou negando as aparências…, tem os loucos do bem, com aquela loucurinha saudável, e os loucos doentes. E é desses loucos doentes que eu quero alertar você, leitor, com esse texto.

Eu já falei, repeti e escrevo aqui de novo: pra mim, o diálogo é a solução para qualquer problema. Com respeito e empatia se resolve todo e qualquer ruído na comunicação. Nunca fui de me posicionar, principalmente politicamente, pois sempre achei que o não-posicionamento abriria caminho para ouvir opiniões de todos os lados e contribuir para um diálogo saudável. Essa experiência da neutralidade, por incrível que pareça, foi fundamental para a construção do meu posicionamento político. No exercício de observação que fazia, eu fui exposta, de um lado, ao ódio, e, de outro, a explicações educativas. Comentei essas características polarizadas com uma amiga e ela ficou surpresa: no caso dela, os lados eram invertidos. Descobrimos, nesse momento, sem pretensão, que a verdade, o certo e o errado realmente são bem relativos.

Conforme os diálogos iam aumentando, percebi que aquela minha neutralidade não estava ajudando ninguém: nem quem se posicionava, nem a mim mesma. Então tomei a difícil decisão de me posicionar (e isso não é só uma questão de opinião, tem a ver com passado, referências, trajetória… O estudo da Kabbalah me ajudou muito nesse processo, pois faz enxergar as faltas e excessos da nossa personalidade). Sabe quando a gente para e pensa: “Por que eu não fiz isso antes?“? Depois que tive essa atitude, descobri que se posicionar não significa nunca mudar de opinião, mas ser honesto com quem está a seu redor; escolher um lado não significa abominar o outro, mas mostrar em que você acredita; ter uma ideia diferente não faz de você uma pessoa melhor, nem mais ética, nem mais correta.

Posicionamento, ao contrário do que muitos pensam, tem a ver com diálogo, não com intolerância: concluí isso esses dias, quando me posicionei num post de um amigo (cujo candidato eu discordo veementemente) e, no meio da discussão política, amigável e respeitosa, um amigo dele entrou na conversa de uma forma que me assustou. O perfil se intrometeu empregando um gaslighting sobre mim do começo ao fim (usando o tradicional “Você tá louca!”). Aquela pessoa me julgou a partir de meia dúzia de comentários que tinha feito e do meu posicionamento contrário ao candidato dele (que é o mesmo do meu amigo). A abordagem desse eleitor foi tão espantosa que até um outro perfil que estava na conversa, que compartilha do mesmo candidato deles, reconheceu o excesso dos comentários agressivos. Mesmo assim, mantive meu posicionamento e continuei a dialogar. Tinha sido uma interferência tão louca e doentia que eu queria entender de onde vinha tanto ódio e, se eu ignorasse, seria o gatilho para aumentar a intolerância. No final, ele não destilava mais ódio e esclarecemos o ruído (que estava mais pra barulho) que havia surgido. Nós dois conseguimos nos posicionar de forma respeitosa, mesmo depois da gritaria virtual unilateral, graças ao exercício do diálogo. Um diálogo é considerado bem feito quando todos saem transformados, e não quando “um” ganha do “outro”, com conclusões fechadas, como muitos imaginam ser o ideal.

Essa situação, misturada com outras acusações que vi uns fazendo aos outros no meio dos posts do meu feed, me mostrou que, muito mais que Neutralidade x Posicionamento, o problema desse momento do Brasil é a transformação Ídolo x Político. Eleitores viraram fãs, independente do posicionamento. Polarização não é o problema, como muitos divulgam. O problema é o fanatismo: o fã que escolheu um ídolo porque tem certeza de que ele vai salvar o mundo. O mundo não precisa de salvação. Quem precisa é a gente. E, nessas eleições, está sobrando fãs e faltando gente.

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