“Eleições sem travestis e transexuais também é golpe”, diz Indianare Siqueira ao ter candidatura negada pelo PSOL-RJ

Foto: Reprodução

O PSOL-RJ surpreendeu muita gente nesta quarta-feira (27) ao indeferir a candidatura da militante transvestigenere Indianare Siqueira a deputade federal pelo Rio de Janeiro. Indianare conquistou 6.166 votos nas eleições de 2016, tornando-se vereadore suplente do partido. 
Em conversa com o NLUCON, Indianare declarou que não foi informada pessoalmente pelo partido, mas que ficou sabendo com indignação que indeferiram sua candidatura por meio de um comunicado enviado pelo PSOL carioca.

Neste comunicado, o PSOL disse que a candidatura foi negada por unanimidade pela Executiva Estadual. Eles mencionaram uma briga financeira e de ocupação da Casa Nem – espaço de acolhimento às pessoas trans em situação de vulnerabilidade, idealizado por Indianare– com a Casa Nuvem, nome do antigo espaço.

Segundo o PSOL, apesar de reconhecer o trabalho social e político, considera “questionável” a transformação da Casa Nuvem em Casa Nem. Disse que houve apropriação indevida do espaço, expulsão de inquilinos anteriores, deixando na conta deles o pagamento de alugueis e demais despesas. O partido alega que houve acordo entre as partes para solucionar os débitos, mas que ele não ocorreu no prazo.

Foi então que a conduta de Indianare foi encaminhada a Comissão de Ética nacional. “Essa decisão foi tomada tem em vista posturas da filiada Indianare Siqueira que o PSOL considera não compatíveis com nosso valores éticos militantes”, apontando para agressão verbal, ameaça de exposição a militantes que tenham posicionamentos políticos divergentes e ameaça de agressão.

CASA NEM E CASA NUVEM ESTÃO SE RECONCILIANDO

À imprensa, Indianare afirmou que segue pré-candidate das ruas e dos movimentos. Declarou ainda que a decisão de indeferir sua candidatura ocorreu justamente no Mês do Orgulho LGBT e na semana em que integrantes da Casa Nuvem e CasaNem realizaram uma festa de reconciliação. Nesta festa, as duas Casas farão arrecadação de fundos para o pagamento das dívidas.

“O PSOL se antecipa num processo que prioriza a seletividade do punitivismo num caso que ainda está sub júdice. Presunção de inocência para quem? Sigo pré candidata das ruas, força onde fui forjada”, escreveu Indianare.

Ela ainda afirmou que eleições sem travestis e transexuais também é golpe. “Se querem me derrotar, que venham me derrotar nas urnas”, disse.

Vale dizer que ela é idealizadora do PreparaNem, cursinho pré-vestibular que prepara pessoas trans para o ENEM, CasaNem, espaço de acolhimento às pessoas transvestigenres em situação de vulnerabilidade, e presidente da ong TransRevolução, que atende as necessidades da população travesti, mulher transexual, homens trans, dentre outras identidades.

MILITANTES QUESTIONAM

Diversos militantes e ativistas mostraram indignação nas redes sociais: “O PSOL carioca tirou a minha candidata a deputada federal”, disse a pré-candidata a deputada estadualBárbara Aires, do PSOL. “Em reta final de pré-candidaturas, sem possibilidade de filiação a outro partido, chega a decisão que já foi tomada a tempos, sem dar chance de Indianare vir candidata por outro partido, tirando assim nossa chance de votar nela. Muito triste, chocada, paralisada, sem saber o que fazer, ou pensar…”.

A pesquisadora Jaqueline Gomes de Jesus, pré-candidata a deputada estadual pelo PV-RJ, declarou que está chocada e que vê transfobia na decisão. “Esse encaminhamento oportunista, em cima do anuncia das candidaturas, é um ataque transfóbico a uma de nós com real potencial de ser eleita. Isso precisa ser denunciado e combatido. Força, mana Indianare! Estamos juntas! Esse acinte não vai passar em branco”.

A analista de sistemas e ativista transfeminista Daniela Andrade questionou a representatividade LGBT do PSOL no indeferimento: “Aquela pergunta retórica: Quantas são as mulheres transexuais, travestis, homens trans e tranvestigêneres que participam da executiva do PSOL Carioca que vetaram a candidatura de Indianare Alves Siqueira, uma das maiores lideranças trans no Brasil? Ou o máximo que o PSOL consegue chegar em visibilidade e representatividade LGBT é um homem cisgênero gay: Jean Wyllys? Vão chegar as eleições e vão correr para pedir votos para as minorias discriminadas. A mim não enganam, é a esquerda que vive de discurso. Na práxis cotidiana são as mesmas pessoas privilegiadas decidindo o nosso futuro”.

Keila Simpson, presidenta da ANTRA – Associação Nacional de Travestis e Transexuais – emitiu uma nota dizendo receber com indignação o indeferimento da candidatura. “Em tempos de representatividade e conquistas de direitos de nossa população, é inaceitável essa tentativa de apagamento da luta de pessoas comprometidas com o social e que, mesmo sem apoio institucional, tem seguido em frente com o compromisso que sempre teve pela população trans (…) Ratificamos nosso apoio à candidatura e repudiamos qualquer tentativa de silenciamento”.

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