Egito enfrenta pressões no Sinai… vindas de mais longe

Cairo, (Prensa Latina) A vasta operação na Península do Sinai (nordeste) continuará, assegurou uma fonte militar egípcia, no meio de versões sobre sua suspensão por pressões políticas diretas de Israel e, mais discretas, dos Estados Unidos.

A movimentação de tropas e blindados egípcios, aos quais se somou a força aérea, começaram há mais de duas semanas, após o mortífero ataque de desconhecidos armados contra um posto policial na península, no qual morreram 16 soldados e vários ficaram feridos.

A agressão foi atribuída a integristas islâmicos ou partidários do ex-presidente Hosni Mubarak, segundo versões divergentes, ambas carentes de confirmação.

Por seu lado, membros dos Ajuan Musulmín (Irmandade Muçulmana), a organização à que pertenceu o atual presidente, Mohamed Morsi, acusaram a inteligência israelense de ter induzido o ataque para complicar a vida do mandatário, que assumiu a presidência no dia 30 de junho deste ano depois de ganhar no segundo turno uma eleição muito disputada.

Horas após ser eleito, Morsi renunciou à sua condição de membro da Irmandade, em um gesto pensado para deixar claro que se propõe a ser o presidente de todos os habitantes do Egito, um país no qual coexistem credos islâmicos e cristãos.

No entanto, é óbvio que sua orientação política é coerente com a dessa entidade, criada em meados da década de 20 do passado século e perseguida por vários governos egípcios, incluído o do derrocado Mubarak, que enviou Morsi à prisão durante vários anos.

Nessa sensibilidade filosófica está incluído o apoio às aspirações palestinas a um Estado independente, uma ideia que choca com o objetivo primário de Israel de ocupar os territórios autônomos e absorver sua população em condição de cidadãos de segunda ou terceira classe.

A decisão de se distanciar da relação com Israel do anterior regime ficou em evidência em junho passado quando o ex-ministro de Petróleo Sameh Fajmi foi condenado a 15 anos de prisão por assinar com Tel Aviv um tratado de venda de gás a preços inferiores aos do mercado; além disso, o pacto está sujeito a revisão.

O golpe com certeza doeu a Israel, já que 40% do gás que consome vem das jazidas egípcias, cujas vantagens, além do preço baixo, são despesas inferiores de transporte e segurança no fornecimento.

Para o governo israelense, o início das operações militares no Sinai no começo deste mês constitui outro sinal inquestionável e preocupante de que os laços com o Egito vão mudar a curto prazo, em momentos de crescente tensão regional, nos quais Tel Aviv prefere se manter concentrado nos temas sírio e palestino, mas, sobretudo, no iraniano.

Membros da cúpula dirigente israelense preparam um ataque em massa, eletrônico, de foguetes e aéreo contra as centrais nucleares da República Islâmica do Irã, na certeza de que será apoiado pelos Estados Unidos e as potências europeias, que se prestariam para tal apoio.

Teerã foi claro em suas advertências de que uma agressão contra o Irã será respondida de maneira contundente dentro e fora do Oriente Médio, uma possibilidade que poderia levar o mundo a um combate de proporções apocalípticas, cujos resultados são imprevisíveis.

Nesse contexto, altos funcionários públicos israelenses incrementaram a pressão sobre o Cairo, entre eles o chanceler Avigdor Lieberman, notório por suas posturas extremistas, quem exigiu que Morsi visite seu país como prova das intenções de manter em vigência o acordo bilateral de paz. A recusa de Morsi ao chamado é mais que provável, considerando a falta de tato que implica semelhante exigência ao presidente de um país soberano como se fosse um governo submisso.

De seu lado, a chancelaria em Washington considerou que o deslocamento de forças egípcias na península deveria ter sido informada de antemão no marco do acordo entre ambos Estados, uma forma mais sutil de tomar partido, ficando menos evidente sua parcialidade a favor de Israel.

Agora, com a bola no seu campo, o presidente egípcio tem em suas mãos uma tarefa herculana: provar, ao mesmo tempo, sua dignidade nacional, independência e flexibilidade, termos que geralmente se contrapõem.

ocs/msl/cc

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