#Editorial – Allende não se dá por vencido

Leitoras e leitores do Portal Desacato e audiência do JTT Agora, bom dia.

Na próxima sexta-feira, 11 de setembro, se completarão 47 anos de um dos ataques mais vis do imperialismo norte-americano à nossa Pátria Grande. O império paranoico, em plena Guerra Fria, via crescer revoluções por toda parte. As juventudes se alçaram no ‘68 de Córdoba e Paris. A resistência crescia nos países asiáticos e na América Central. Isso tudo era um desafio que Henry Kissinger, o secretário de Estado norte-americano, não estava disposto a permitir. O imperialismo e o sionismo se reuniam no punho dessa figura genocida que hoje, aos 97 anos de idade, continua impune das suas atrocidades contra as nações que lutavam por libertar-se do jugo estadunidense.

Olhando em perspectiva, pouco importa se Salvador Allende, primeiro presidente socialista do Chile, se suicidou no Palácio da Moneda ou foi assassinado nas escadarias do sacrifício montado por um exército servil, traidor e covarde. Em 11 de setembro morria junto com Allende a democracia chilena. Uma espada fora cravada no Cone Sul. As oligarquias locais associadas aos mais violentos interesses de Washington mutilavam o sonho acalentado durante décadas pelo bravio povo chileno.

Mas, apesar do Pinochet, da Thatcher, do Reagan, apesar dos mortos e desaparecidos, das torturas, das perseguições e dos exílios, do espólio, apesar da morte, o Chile resiste. Não se furtou a juventude do seu papel histórico na luta pela justiça, junto com os excluídos, os povos originários. A resistência mapuche nunca esmoreceu. Allende era uma síntese do seu povo e o povo ainda tem o rosto do Allende.

Muitas e muitos daqueles jovens secundaristas e universitários que nos inícios do século 21 foram para as ruas hoje são parlamentares, prefeitos, lideranças sociais e não permitiram que os ideais do Allende fossem avassalados pelos governos que se sucederam à ditadura sangrenta do Pinochet. Nenhum governo pós-ditadura teve paz. Nem os socialdemocratas nem a direita retrógrada hoje representada por Sebastián Piñera. A semente allendista deu frutos muito além das alamedas.

Por isso, nas pesquisas eleitorais para as eleições presidenciais de 2021, o prefeito comunista de um dos bairros mais empobrecidos de Santiago do Chile, Recoleta, lidera as intenções de voto. Daniel Jadue é o nome da esperança dos rejeitados pela mão impiedosa do pinochetista Piñera, cujo mandato tem um 80% de desaprovação.

Os candidatos da direita tem o dinheiro, os meios de comunicação, o apoio norte-americano, as forças de repressão. Tem, em definitivo, um sistema que não aceitará facilmente uma derrota. Os mais cotados da direita e a ultradireita chilena representam o mais excludente da oligarquia: Evelyn Matthei, prefeita de Providencia, Joaquín Lavín e o declaradamente fascista e amigo de Jair Bolsonaro, José Antonio Kast, estão no páreo. Ainda tem, num lugar mais afastado das pesquisas, a ex-candidata da Frente Ampla, a jornalista Beatriz Sánchez.

A direita tem 14 meses para melhorar seu desempenho. No entanto, a resposta popular a Daniel Jadue, primeiro líder comunista em aparecer no topo das pesquisas eleitorais na história do país, permite reconsiderar o sonho do Salvador Allende.

Allende está vivo no povo chileno. Allende é mais que uma lenda, é o sangue de resistência que mobiliza a possibilidade de uma revanche libertadora contra o legado maldito do Pinochet e Kissinger.

2 COMENTÁRIOS

    • Saudamos a luta dos antifascistas portugueses desde a Ilha de Santa Catarina no Brasil e desde a ilha da República Dominicana. Desacato abraça vocês!

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