Editorial

Florianópolis, 16 de abril de 2014.

A construção de uma sociedade excludente em Florianópolis não é de agora. O acirramento da edificação vertical, amuralhada, sectária e branca, de aspecto pseudocosmopolita, é uma elaboração pensada a partir do lucro imobiliário, a apropriação constante dos espaços públicos para serviço exclusivo das classes mais abastadas, a destruição do meio-ambiente e o aumento do transporte não solidário. Isso tudo, servido por uma massa de reserva para tarefas de serviços menores e segurança.

O projeto de uma sociedade para ricos e classe média alta e média-média, é conivente com a ideia de turismo depredador que se desenvolveu nos últimos 20 anos na Capital dos catarinenses. O ‘American dream’ tardio dos setores que governam historicamente, com duas pobres interrupções (Andrino e Grando), e dominam o legislativo municipal, é uma bofetada no rosto dos trabalhadores que usam o serviço público de transporte, os moradores de aluguel e os prestadores de serviços a preço de escravidão e sem estabilidade no emprego.

A Ocupação Amarildo permitiu detectar duas situações que são ameaçantes para uma cidade onde reine uma civilização possível e justa. A primeira é o asco mecânico que as classes altas e médias têm pelos pobres, pardos, negros e originários. Isto já se tinha revelado meses antes em episódios marcantes acontecidos no bairro de Canasvieiras. A segunda: a capacidade intacta dos veículos monopólicos em introjetar discurso nas classes mais pobres contra seus iguais, quando estes iguais sofrem um infortúnio maior. Os comentários repulsivos de pobres mal empregados contra os pobres desempregados repetem cronicamente manchetes e comentários lastimosos da grande mídia local.

Essa Florianópolis atual está desumanizada, medrosa e engessada. O Poder Público, os ricos e a mídia burguesa são responsáveis. Os que pensam de forma diferente precisam união, criatividade e clareza de objetivos. Florianópolis não deve virar Miami.

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