Documento secreto dos EUA revela “Golpe de Mestre” já em curso contra Venezuela

Foto: Instagram Nicolás Maduro

Por Stella Calloni.

Os Estados Unidos e seus sócios preparam, em silêncio, um brutal plano para “acabar com a ‘ditadura’ da Venezuela: o Golpe de Mestre”, que já está em marcha e cuja primeira parte começaria antes das próximas eleições venezuelanas, que serão realizadas no próximo domingo (20) e, se não tiverem êxito em derrocar o presidente Nicolás Maduro com a nova ofensiva, na qual utilizarão todo o aparato propagandístico e midiático, além de ações violentas em “defesa da democracia”, acionarão o Plano B, que abarcará vários países impondo uma “força multilateral” para intervir militarmente.

Panamá, Colômbia, Brasil e Guiana são pontos-chaves do movimento militar, com o apoio da Argentina e outros “amigos”, sob o controle do Pentágono. Já estão preparadas as bases que serão ocupadas, os países de apoio direto (fronteiriços) até hospitais e centros de reserva de víveres para seus soldados.

O documento analisa a situação atual ratificando a Guerra Contra Insurgente que se dá contra a Venezuela, mas também o perverso esquema da guerra psicológica que permite estender a perseguição, o assédio, o desprestígio, a mentira criminosa e que é utilizado para liquidar, não apenas com os movimentos populares, mas contra os povos da região.

Kurt Walter Tidd, almirante da Armada dos Estados Unidos
Kurt Walter Tidd, almirante da Armada dos Estados Unidos

Isto faz parte de um documento real, que tem a assinatura do almirante USN K W TIDD, ou seja, Kurt Walter Tidd, almirante da Armada dos Estados Unidos, atual comandante do Comando Sul, e que ainda não foi divulgado.

Ao se referir à situação atual da Venezuela, o informe menciona que cambaleia a “ditadura venezuelana chavista como resultado de seus problemas internos, da grande escassez de alimentos, do esgotamento da entrada de fontes de dinheiro externo e de uma corrupção desenfreada, que diminuiu o apoio internacional, ganho com petrodólares e que o poder aquisitivo da moeda nacional está em constante picada”.

Supõem que este cenário, que admitem que eles mesmos criaram com uma impunidade que espanta, não mudará. Nesse caso, justificam suas ações advertindo que o governo venezuelano acudirá a novas medidas “populistas” para preservar o governo.

Assombra o lugar em que colocam a oposição que eles manipulam, assessoram e pagam ao entender que “o corrupto regime de Maduro colapsará, mas lamentavelmente as forças opositoras defensoras da democracia e do bem-estar de seu povo, não têm poder suficiente para pôr fim ao pesadelo da Venezuela” por causa das disputas internas e inclusive “pela corrupção similar à de seus rivais, assim como à escassez de raízes” (ou seja de patriotismo) que não lhes permite tirar “o máximo proveito desta situação e dar o passo necessário para sobrevoar o estado de penúria e a precaridade na qual o grupo de pressão que exerce a ditadura de esquerda submergiu o país”.

O que resulta aterrador é que, enquanto consideram que se está diante de “uma ação criminosa sem precedente na América Latina”, referindo-se ao governo da Venezuela, que nunca agiu contra nenhum de seus vizinhos e que tem sido de uma intensa solidariedade regional e mundial, o Plano sustenta que a “democracia se estende na América, continente em que o populismo radical estava destinado a tomar o controle. Argentina, Equador e Brasil são exemplos disso. Este renascimento da democracia (chamam assim) está amparado nas determinações mais valiosas e as condições da região correm ao seu favor. Este é o momento dos EUA provarem com ações concretas que estão implicados nesse processo no qual derrotar a ditadura venezuelana seguramente representará um ponto de inflexão continental”.

Por outro lado, estimulam o presidente estadunidense Donald Trump a agir considerando que “esta é a primeira oportunidade da administração Trump para demonstrar e levar adiante sua visão sobre democracia e segurança”, e querem convencê-lo de que “sua participação ativa é crucial, não só para a administração, mas para o continente e o mundo. O momento chegou”.

Isto significa “intensificar a derrocada definitiva do chavismo e a expulsão de seu representante, socavar o apoio popular” ao governo e “estimular a insatisfação popular”, aumentando o processo de desestabilização e o desabastecimento para “assegurar o deterioro irreversível de seu atual ditador”.

Se alguém quiser avançar na arte da perversão contra insurgente basta ler este parágrafo: “sitiá-lo, (a Maduro) ridicularizá-lo e mostrá-lo como um símbolo de torpeza e incompetência, expô-lo como uma marionete de Cuba”, mas, ao mesmo tempo, sugerem “exacerbar a divisão entre os membros do grupo de governo, revelando as diferenças de suas condições de vida e a de seus seguidores e, ao mesmo tempo, incitando-os a manter em aumento essas divergências”.

O plano está destinado a ser executado de forma rápida e furiosa, como as medidas tomadas pelos mordomos de Washington, Mauricio Macri e Michel Temer que, com uma escandalosa história de corrupção, foram transformados pelo império em “líderes da transparência” e que tomaram em poucas horas medidas para a destruição dos Estados Nacionais com a certeza do disparo de um míssil.

Demanda o plano dos EUA tornar insustentável o governo de Maduro, forçando-o a claudicar, negociar ou escapar. O Plano para acabar em prazos muito curtos com a chamada “ditadura” da Venezuela apela a “incrementar a instabilidade interna a níveis críticos, intensificando a descapitalização do país, a fuga de capital estrangeiro e o deterioro da moeda nacional, mediante a aplicação de novas medidas inflacionárias que incrementem esse deterioro”.

Outro objetivo é “·obstruir todas as importações e ao mesmo tempo desmotivar os possíveis investidores de fora” para — e vejam só a bondade capitalista — “contribuir para fazer mais crítica a situação da população”.

O Plano também abarca em suas onze páginas “apelar a aliados domésticos como também a outras pessoas inseridas no cenário nacional com o objetivo de gerar protestos, distúrbios e insegurança, pilhagem, saques, roubos, assaltos e sequestros de barcos e outros meios de transporte, com a intenção de desabastecer o país, através de todas as fronteiras e outras possíveis maneiras, pondo em perigo a segurança nacional de seus vizinhos”.

Consideram importante “causar vítimas” assinalando como responsáveis desses fatos os governantes “aumentando diante do mundo a crise humanitária a que está submetida o país”, usando a mentira de uma corrupção generalizada dos governantes, e ligar o governo ao narcotráfico para desacreditar sua imagem diante do mundo e de seus seguidores domésticos”,  além de promover “a fadiga entre os membros do Partido Socialista Unificado da Venezuela (PSUV) “incitando o inconformismo entre eles mesmos, para que rompam ruidosamente as relações com o governo e para que rechacem as medidas e restrições que também os afetam” e “torná-los tão fracos como é a oposição, criando fricções entre o PSUV e o Somos Venezuela”.

A proposta vai subindo de tom quando chama a “estruturar um plano para conseguir a deserção dos profissionais mais qualificados do país, para deixá-lo absolutamente sem profissionais, o que agravará mais a situação interna e nesse sentido culpar o governo”.

A mão militar

Como em um romance de suspense, o documento propõe “utilizar os oficiais do Exército como uma alternativa de solução definitiva” e “continuar endurecendo a condição dentro das Forças Armadas para levar a cabo um golpe de estado, antes que termine 2018, se essa crise não fizer com que a ditadura colapse ou o ditador não decida afastar-se”.

Entendendo que tudo o anterior pode falhar e com evidente desprezo pela oposição apela para “continuar o fogo contínuo na fronteira com a Colômbia, multiplicar o tráfico de combustível e de outros bens, o movimento dos paramilitares, incursões armadas e tráfico de drogas, provocando incidentes armados com as forças de Segurança da Fronteira venezuelana e, além disso “recrutar paramilitares maiormente dos campos de refugiados em Cúcuta, Guajira e do Norte de Santander, áreas extensamente povoadas por cidadãos colombianos que emigraram para a Venezuela e agora retornaram, fugindo do regime que intensificou a desestabilização das fronteiras entre os dois países, usando o espaço vazio que deixou as FARC (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia), a beligerância do ELN (Exército de Libertação Nacional) e as atividades na área do cartel do Golfo (paramilitares)”.

Aqui vem a armação do golpe final, quando se planeja “preparar o envolvimento de forças aliadas em apoio aos oficiais da armada venezuelana ou para controlar a crise interna caso demore muito a iniciativa (…) estabelecer em uma linha de tempo rápida que preveja que o ditador continue ganhando o controle do cenário interno. Se for necessário, atuar antes das eleições estipuladas para o próximo mês de abril”. Na realidade serão no dia 20 de maio e desde já não as reconhecem.

O nó da questão é “obter o apoio de cooperação das autoridades aliadas de países amigos (Brasil, Argentina, Colômbia, Panamá e Guiana). Organizar as provisões das tropas, apoio logístico e médico a partir do Panamá. Fazer bom uso das facilidades da vigilância eletrônica e dos sinais inteligentes; de hospitais e dotações conseguidas no Darién (selva panamenha), o equipamento de drones do Plano Colômbia, como também as terras das antigas bases militares de Howard e Albrook (Panamá) assim como as pertencentes a Rio Hato. Além disso, no Centro Regional Humanitário das Nações Unidas, desenhado para situações de catástrofe e emergência humanitárias, que conta com um campo de aterrissagem aéreo e seus próprios armazéns”.

Já estamos falando de um cenário de intervenção no qual se propõe “avançar no estacionamento de aviões de combate e helicópteros, veículos blindados, posições de inteligência e unidades militares de logística especiais (polícias, oficiais militares e prisões (…). Desenvolver a operação militar sob bandeira internacional, patrocinada pela Conferência dos Exércitos Latino-americanos, sob a proteção da OEA e a supervisão, no contexto legal e midiático, do secretário-geral, Luis Almagro”.

“Declarando a necessidade de que o Comando Continental fortaleça a ação, usando do instrumento do capítulo democrático Interamericano, com o objetivo de evitar a ruptura democrática”.

E além disso, “Unindo Brasil, Argentina, Colômbia, e Panamá para contribuir ao melhor número de tropas, utilizar sua proximidade geográfica e experiência em operação em regiões de bosques ou de selva. Fortalecendo sua condição internacional com a presença de unidades de combate dos Estados Unidos e das nações mencionadas; sob o comando Geral do Estado Maior Conjunto liderado pelos EUA”.

Assombra a impunidade com que tudo está sendo preparado pelas costas dos povos, na ilegalidade absoluta; e isso faz compreender as últimas manobras militares dos Estados Unidos: na região da fronteira do Brasil com a Venezuela (Brasil, Peru, Colômbia), no Atlântico Sul (Estados Unidos, Chile, Grã Bretanha, Argentina) sendo que no caso argentino foi sem autorização do Congresso em outubro-novembro passado.

“Usando as facilidades do território panamenho para a retaguarda e as capacidades da Argentina para a segurança de seus portos e das posições marítimas (…) Propor ao Brasil e à Guiana fazer uso de sua situação migratória à qual temos a intenção de estimular na fronteira com a Guiana. Coordenar o apoio a Colômbia, Brasil, Guiana, Aruba, Curaçao, Trinidad e Tobago e outros Estados diante do fluxo de migrantes venezuelanos devido aos eventos da crise”.

Mas, além disso, “promover a participação internacional neste esforço como parte da Operação multilateral com contribuição de estados, organismos não estatais e corpos internacionais e abastecer de adequada logística, inteligência, apoios, antecipando especialmente os pontos mais valiosos em Aruba, Puerto Carreño, Inirida, Maicão, Barranquilla, e Sincelejo, na Colômbia e Roraima, Manaus e Boa Vista no Brasil”. Incrível mapa de uma guerra de intervenção anunciada.

Informação estratégica

É assombroso o plano de silenciar “o simbolismo da presença da representatividade de Chávez e do apoio popular” e manter o assédio “ao ditador como único responsável pela crise na qual ele submergiu a nação” e seus mais próximos, os quais serão acusados da crise e da impossibilidade de sair dela.

Em outro parágrafo se chama a “intensificar o descontentamento contra o regime de Maduro, considerando assinalar a incompetência dos mecanismos de integração criados pelos regimes de Cuba e da Venezuela, especialmente a Alba (Aliança Bolivariana dos Povos de Nossa América) e a Petrocaribe”.

Quanto ao tema midiático, o plano elaborado pelos EUA insiste em aumentar dentro do país, através dos meios de comunicação locais e estrangeiros, a disseminação de mensagens elaboradas e baseadas em depoimentos e publicações originadas no país, fazendo uso de todas as capacidades possíveis incluídas as redes sociais e, por outro lado, “insistir através dos meios de comunicação na necessidade de pôr fim a essa situação porque ela é, em essência, insustentável”.

Em um de seus últimos parágrafos se trata de “assegurar” ou mostrar o uso de meios violentos por parte da ditadura para obter o apoio internacional, utilizando “todas as capacidades da Guerra Psicológica da armada dos Estados Unidos”. Ou seja, repetindo os mesmos cenários de mentiras, notícias elaboradas, fotografia e vídeos falsos, e tudo quanto foi usado nas guerras coloniais do século 21.

“Os EUA deverão apoiar internamente os estados americanos que o apoiam”, levantar a imagem deles e da “ordem multilateral de instituição do sistema interamericano, como instrumentos para a solução dos problemas regionais”. “Promover a necessidade de envio da Força Militar da ONU para a imposição da paz, uma vez que a ditadura corrupta de Nicolás Maduro seja derrocada”.  Assinado por K W TIDD. (Almirante USN commander Kurt Walker Tidd).

Stella Calloni é jornalista argentina e colaboradora de Diálogos do Sul. Escreve sobre temas políticos da América Latina. Ajudou a desvendar as entranhas da Operação Condor no continente.

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