Documentário ‘Favela Olímpica’ conta história de resistência olímpica da Vila Autódromo

Por Suzanne Chantelier.

Favela Olímpica é um documentário sobre a batalha Olímpica dos moradores da pequena favela Vila Autódromo, perto do Parque Olímpico Rio 2016, e a prefeitura. O filme inicia dois anos antes dos Jogos Olímpicos de 2016, e mostra a longa história de resistência da comunidade contra a ânsia das autoridades em remover os moradores e suas casas. Os moradores da Vila Autódromo expressam suas vozes ao longo do filme, assim como arquitetos da Rio 2016 e o ex-prefeito do Rio, Eduardo Paes. Através do filme, seu escritor e diretor, o suíço Samuel Chalard, mostra com sucesso o terrível impacto de megaeventos como os Jogos Olímpicos, questionando sua própria estrutura lógica, com a Vila Autódromo infelizmente fornecendo um claro estudo de caso. Durante mais de dois anos, um membro da equipe morou no Rio e visitou a Vila Autódromo em dias críticos para filmar, e Samuel Chalard a cada três meses passava dez dias na Vila para filmar e documentar o processo de resistência e remoção na comunidade.

As imagens do filme foram captadas principalmente na Vila Autódromo, mostrando imagens chocantes antes e depois do processo de remoção. Das 700 famílias que viviam originalmente, apenas 20 conseguiram permanecer e agora vivem em casas brancas idênticas construídas pela prefeitura. As casas originais foram destruídas uma após a outra durante vários anos. Apenas uma casa original ainda está em pé, a do ex-pescador de 51 anos, Delmo de Oliveira, que se tornou uma figura da resistência e aparece no documentário, juntamente com a querida e agora famosa Maria da Penha, fonte eterna de otimismo e esperança da comunidade.

Os cineastas conseguiram também dispor do discurso oficial entrevistando, em especial, arquitetos da arena Olímpica de handebol de 2016, que falaram sobre os planos de transformação da arena em quatro escolas públicas após os Jogos, o que nunca aconteceu. Eles também conseguiram entrevistar o excelente marqueteiro e prefeito do Rio de Janeiro, Eduardo Paes. De acordo com Samuel Chalard, foi muito difícil obter essa entrevista e, uma vez aprovada, levou mais de nove meses para uma data ser marcada. O documentário mostra a clara lacuna e os conflitos de interesse entre as autoridades e os moradores, e que as autoridades, inicialmente, não perceberam o quão bem organizados e determinados a ficar os moradores da Vila Autódromo eram.

O filme começa depois de vários anos de resistência quando alguns moradores estavam desistindo e aceitando sair em meio a intimidação, quando os ofereciam crescentes indenizações financeiras ou opções alternativas de habitação, às vezes, as duas possibilidades. Alguns recusaram, declarando que suas casas eram suas vidas e não tinham nenhum preço associado a elas. Mas, com a aproximação dos Jogos, as pressões e ofertas de compensação cresceram e mais e mais moradores aceitaram, algumas receberam chaves até para múltiplos apartamentos. Com a saída de cada família, os que resistiam ficavam cada vez mais vulneráveis. As autoridades instituíram a, altamente questionável, desapropriação via decreto para destruir casas remanescentes. O público pode sentir a tensão aumentar em todo o documentário. A falta de preocupação das autoridades e representantes da justiça é claramente notada. Um exemplo impressionante é quando os juízes federais visitam a comunidade para tomar uma decisão sobre seu futuro, mas mal saem de seus carros escuros para ouvir os líderes comunitários.

Algumas cenas são particularmente dolorosas de assistir. O confronto violento entre a polícia e os moradores em junho de 2015 terminou nos jornais do mundo inteiro com a imagem do rosto sereno da pequena Maria da Penha totalmente ensanguentado. Além disso, a triste imagem da destruição de algumas casas, como a de uma das mais dedicadas resistentes de longa data, Jane Nascimento, retirada através do decreto.

O filme termina com imagens emocionantes de Luiz, marido de Penha e professor de educação física, refletindo sobre os Jogos Olímpicos e seus valores. Não vamos contar aqui, já que você verá o filme!

O documentário foi exibido pela primeira vez no dia 9 de julho na Igreja Católica São José Operário da Vila Autódromo. A atmosfera na exibição privada e não oficial na comunidade foi muito especial, o público reagiu vividamente a certas cenas, vaiando Eduardo Paes ou chorando quando viram as casas serem destruídas ou o confronto com a polícia. A maioria dos moradores estava feliz em ver as imagens das suas casas originais. Explicando o título, Samuel Chalard disse que a escolha se deu principalmente para atrair um público estrangeiro, mas os membros da comunidade concordaram. O documentário é mais um legado da resistência da Vila Autódromo: um aviso e inspiração para outros. Mas como Delmo disse depois da exibição, a luta está longe de terminar.

No Brasil, o lançamento oficial será na 41ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, de 19 de outubro a 1 de novembro de 2017. Saiba mais sobre Favela Olímpica no Facebook.

Fonte: Racismo Ambiental

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