Documentário ‘A saúde está entre nós’ inspira debate sobre agroecologia, saúde e comunicação

vpaaps_curtaagroecologia2Por Marina Lemle.

Tema do documentário A saúde está entre nós, a construção de pontes entre o conhecimento tradicional e o conhecimento científico ainda se coloca como um desafio. O curta-metragem retrata experiências de cultivo de plantas medicinais e de redes sociais de apoio a produtores e também aborda iniciativas de capacitação comunitária em beneficiamento e comercialização de matérias-primas e de atendimento com fitoterápicos pelo SUS. Apesar destas iniciativas de aproximação, o filme evidencia um grande distanciamento entre os saberes. Exibido no auditório do Museu da Vida, na Fiocruz, o vídeo, que integra a série Curta Agroecologia, produzida pela Articulação Nacional de Agroecologia (ANA), VideoSaúde e Canal Saúde, inspirou uma roda de conversa sobre comunicação, saúde e agroecologia com a participação de representantes de movimentos sociais, pesquisadores e jornalistas.

Presente à abertura do debate, o vice-presidente de Ambiente, Atenção e Promoção da Saúde, Valcler Rangel Fernandes, afirmou que promoção da saúde e agroecologia caminham juntas. “A base tecnológica de produção agropecuária que temos hoje, dominada pelo agronegócio, produz doença, porque utiliza muitos produtos químicos, principalmente agrotóxicos e fertilizantes. Precisamos apontar para um novo modelo de produção agropecuária que deve passar por um novo modelo de desenvolvimento do campo. Consideramos a produção agroecológica uma alternativa concreta. O vídeo se refere à condição que precisamos construir de conhecimento da sociedade acerca dessa alternativa e serve para mobilizar as pessoas para a mudança. O papel da Fiocruz é de contribuir com essa virada para que possamos ter mais saúde”, afirmou Fernandes. Ele lembrou que a Fundação vem construindo parcerias para ação em promoção da saúde e que a articulação com movimentos sociais é basilar na área de ambiente e saúde. Segundo o vice-presidente, a primeira questão que se coloca é a dos agrotóxicos, que o Brasil consome mais que qualquer outro país no mundo. “A agroecologia é uma discussão que deve ser trazida para o campo da saúde. Assumimos essa tarefa de promover a aliança entre movimentos sociais vinculados à agroecologia e a área de pesquisa, ensino e produção, e buscamos estimular o diálogo, disseminar conhecimentos e alavancar lutas. O vídeo colabora muito para o conhecimento de alternativas saudáveis em produção de alimentos”, disse.

A professora Inesita Araújo destacou a relevância da historicidade das relações entre os saberes e do poder simbólico de cada um de fazer ver e fazer crer. “Na nossa sociedade, a saúde é um conhecimento especializado e movido por grandes interesses”, atestou. Para ela, a agroecologia precisa pensar estratégias para a sua luta. “Conseguir falar com o poder público e com o consumidor será um grande avanço”, afirmou. Márcia Corrêa e Castro, do Canal Saúde, destacou o papel da comunicação ao observar que a saúde pública ainda fala só para a saúde pública e a agroecologia para agroecologia. “É preciso articular os discursos”, enfatizou.

Natália Almeida Souza, da ANA, destacou a importância de se aprimorar o diálogo com a sociedade e elogiou a Fiocruz pela recente divulgação de uma carta aberta alertando a população sobre mudanças na legislação que regula o uso de agrotóxicos. “A Carta da Fiocruz vem em momento oportuno, porque a legislação vem sendo flexibilizada e há duas propostas: uma dos ruralistas e outra da indústria de agroquímicos”, disse. Segundo ela, o interesse desses setores é tirar da Anvisa e do Ibama o poder de avaliar os agrotóxicos, atribuindo apenas ao Ministério da Agricultura esta responsabilidade, como se não fosse houvesse relação com saúde e meio ambiente. Ela lembrou que o Encontro Nacional de Agroecologia (ENA), a ser realizado de 16 a 19 de maio em Juazeiro (BA) discutirá como a mensagem de movimentos populares como o da agroecologia pode chegar à grande mídia.

Pílulas do filme

Entrevistada em sua casa, onde cultiva ervas junto com a mãe, Elizabeth Marins, da Rede Fitovida, conta que o cultivo é uma relação do seu corpo com a terra, o quintal, a família, a rede comunitária. “A gente valoriza muito a interlocução com o outro”, ressalta. Segundo ela, o principal objetivo do movimento que integra é que o conhecimento sobre as plantas medicinais se torne patrimônio imaterial. Coordenadora do Profito – projeto do Núcleo de Gestão em Biodiversidade e Saúde do Instituto de Tecnologia em Fármacos (Farmanguinhos/Fiocruz) – ela explica que deve-se respeitar o conhecimento que os alunos trazem, mas buscar o diálogo da tecnologia e da ciência com o tradicional. “A sociodiversidade é muito mais rica do que a biodiversidade sozinha”, diz.

O médico Alex Botsaris esclarece que a fitoterapia aplicada no SUS tem base no conhecimento tradicional, mas é validada cientificamente. Ele explica que o uso da fitoterapia na saúde pública está previsto na Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares em Saúde. Por outro lado, os alunos de medicina não estudam plantas medicinais na faculdade e que tampouco a indústria farmacêutica tem interesse “nesse tipo de coisa”. “Ela sempre se movimenta para desqualificar, dizer que não funciona, que é de segunda categoria, que só serve para tratar besteira”, lamenta.

Serviço

A saúde está entre nós pode ser visto na íntegra no Canal da Articulação Nacional de Agroecologia. Os interessados em adquirir uma cópia em DVD devem entrar em contato com a VideoSaúde Distribuidora da Fiocruz pelo e-mail [email protected] ou pelos telefones (21) 2290-4745 e 3882-9109. Veja aqui o trailer e aqui o vídeo na íntegra.

Fonte: EcoDebate.

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