Do estadista globaL aos malabares de bolinha de papel

Por Raul Longo.

Inesquecível a cena de Chaplin “jugueteando”, como se diz em espanhol, com o Globo terrestre, numa paródia de Hitler em “O Grande Ditador”.

Quando o Presidente Lula foi distinguido por um título inédito do Forum Econômico Mundial, muita gente achou que a empáfia do ex – operário seria imensurável e acabaria quebrando a vidraça da história, chutando o globo mundial pro lado errado. De fato, o Fórum sediado em Cologny na Genebra e que se reúne em Davos, na mesma Suíça, é considerado a mais alta organização empresarial e política do planeta desde sua fundação em 1971; e nem é preciso a megalomania de um FHC para tal honraria subir à cabeça de qualquer um.

Mas dias antes de embarcar para a Suíça, Lula demonstrou mais uma vez não ser qualquer um, declarando no evento antagônico realizado em Porto Alegre, o Fórum Social Mundial, que com a crise econômica global o WEF (a sigla em seu idioma original: inglês) perdera o glamour.

“Ohhhh!” – sussurraram alguns brasileiros. Mas o professor Klaus Schwab, ideólogo do Fórum, não demonstrou nenhum constrangimento. Muito pelo contrário, lamentando a ausência do Presidente brasileiro representado pelo chanceler Celso Amorim, declarou: “Pela primeira vez em sua história, este Fórum quer honrar um extraordinário homem de Estado, entregando um prêmio ao ‘Estadista Global’” E o próprio professor explicou o motivo que impossibilitou a presença do homenageado.

Para completar, no discurso de agradecimento lido pelo Ministro Amorim, depois de reconhecer que “Este prêmio aumenta minha responsabilidade como governante e de meu país como um ator mais ativo e presente no cenário internacional”, o Presidente Lula lembrou que em sua primeira visita à Davos: “o mundo temia o futuro do Brasil porque não sabia o rumo exato que nosso país tomaria sob a liderança de um operário sem diploma universitário e nascido politicamente no seio da esquerda sindical”, complementando: “Sete anos depois, posso olhar nos olhos de cada um de vocês e, mais do que isso, nos olhos de meu povo, e dizer que o Brasil, com todas suas dificuldades, cumpriu com sua parte”.

Essas lembranças se me assomaram quando fui desperto nessa manhã por um telefonema do Daniel. Antigo companheiro dos tempos de militância contra a ditadura, Daniel teve de se exilar na França onde desde então trabalha como jornalista, apesar de ter se formado em sociologia como aluno de Fernando Henrique Cardoso na Sorbonne.

Segundo o pai abastado, o exílio foi a melhor coisa que podia ter acontecido ao Daniel que por lá largou dos “exotismos marxistas”. Já Daniel me garantiu não ser bem assim, embora visse no modelo de governo do antigo professor o melhor que se podia fazer pelo Brasil; o que nos fez discutir na passagem do ano 2002 para 2003 quando, aproveitando uma visita à família, venho conhecer onde eu me enfiara.

Claro que o motivo da discussão foi a então vitória de Lula e derrota de Serra à quem Daniel, então, transferia suas admirações pelo ex-professor. De lá para cá Daniel me ligou umas duas ou três vezes, apenas para desejar “bom ano novo” e saber dos passares, mas nunca mais tocamos em política e como não perguntou, também não pedi endereço eletrônico.

Pois hoje Daniel me acorda indignado com uma cópia de vídeo que lhe chegou, lá em Paris, do malabarismo do Jornal Nacional para tentar convencer que José Serra foi atacado por uma fita crepe na cabeça.

Ainda sonado perguntei se o episódio fora noticiado na imprensa francesa, mas ao invés de responder ficou me dando preleção moral, como se eu fosse o Ricardo Molina. Descompensado, repetia que será uma vergonha internacional para o Brasil e todos os brasileiros se o sucessor do Estadista Global for um farsante que sequer tem dignidade para uma situação como essa da bolinha de papel. E que é ridículo, que “vocês tem de fazer alguma coisa”, que “hoje o que acontece no Brasil tem projeção mundial”, que “não é admissível eleger um canastrão”. E mais tanto do que se espera do país na Europa e no mundo inteiro, e mais disso e daquilo que, bocejando, de ressaca, desculpei-me por ter de ir ao banheiro, pedindo que ligasse mais tarde.

Tô esperando até agora, mas não retornou. Fico aqui imaginando a vaidade do Daniel, ferida por uma bolinha de papel lançada do alto da Torre Eiffel. José Serra e o pessoal da Globo estão muito longe do talento de Charles Chaplin, mas nesse domingo até que me fizeram rir.

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