Diretor de Redação da Folha diz que título “Jair Rousseff” para editorial foi “escolha infeliz”

Sérgio Dávila diz que título "colocava na mesma expressão o sobrenome de uma democrata que foi torturada pela ditadura militar e o prenome de um político apologista da tortura" e ataca Jânio de Freitas por crítica

Sérgio Dávilla. Foto: Reprodução/ABI

Por Plínio Teodoro.

Diretor de Redação da Folha e um dos jornalistas mais próximos à família Frias, Sérgio Dávila diz em artigo publicado nesta segunda-feira (31) que o título “Jair Rousseff” para o editorial do dia 21 de agosto do jornal que buscava comparar a política econômica de Dilma Rousseff com a de Jair Bolsonaro para defender as políticas neoliberais do ministro da Economia, Paulo Guedes, foi uma “escolha infeliz”.

“O texto era intitulado “Jair Rousseff”, uma escolha infeliz que tentava resumir a pertinente comparação econômica sem levar em conta que colocava na mesma expressão o sobrenome de uma democrata que foi torturada pela ditadura militar e o prenome de um político apologista da tortura, que defende não só aquele regime como suas práticas vis e sanguinolentas”, escreve Dávila, após abrir o texto dizendo que se Bolsonaro seguir a “proposta econômica desenvolvimentista de seu governo” corre o risco de ter o mesmo resultado de Dilma: “popularidade momentânea e país quebrado no médio prazo.

O jornalista ainda louva a iniciativa da Folha de dar espaço a críticas ao editorial, citando a publicação na íntegra do texto escrito por Dilma Rousseff e dos artigos de Cristina Serra e Juca Kfoury.

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No entanto, Dávila se mostra indignado com o texto do veterano Jânio de Freitas, que relembrou em artigo o alinhamento da Folha de S.Paulo com a ditadura – a quem o jornal teria emprestado carros para repressão de movimentos pela democracia -, dizendo que esta é uma “tinta pegajosa e indelével” da publicação da família Frias.

“Em 2011, solicitei que uma pesquisa exaustiva fosse realizada para esclarecer o episódio. Seus resultados constam do livro ‘Folha Explica a Folha’ (2012; págs. 49 a 61), da jornalista Ana Estela de Sousa Pinto. Não foram encontrados registros que comprovem essa utilização nem nos arquivos da ditadura, nem nos jornais clandestinos mantidos pela luta armada na época. A acusação se baseia no depoimento de dois militantes presos que afirmaram ter visto veículos do jornal no prédio do DOI-Codi (Vila Mariana, SP)”, diz o texto.

Dávila ainda critica Jânio por “ressuscitar o episódio Ditabranda”. “outro termo infeliz utilizado pelo jornal em editorial de 2009 para dizer que o regime de exceção brasileiro foi menos mortal que o dos vizinhos argentino e chileno”.

“Aqui, de novo o colunista defende patrões e culpa colegas, sugerindo que Otavio Frias Filho guardou silêncio e assumiu responsabilidade alheia. No entanto, o próprio Otavio escreveu naquele mesmo ano nas páginas do jornal: ‘O uso da expressão […] foi um erro. O termo tem uma conotação leviana que não se presta à gravidade do assunto. Todas as ditaduras são igualmente abomináveis’”, escreve Dávila que, ao final, diz que nem Jânio de Freitas – “um ícone do jornalismo brasileiro” – “está a salvo de cometer injustiças e incorrer em erros facilmente evitáveis com um mínimo de apuração prévia”.

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