Dilma aposta forte na relação com Cuba

Dilma e Fidel Foto Alex Castro 2

Por Eric Nepomuceno*

Foto: Alex Castro.

Em uma coincidência bastante simbólica, a presidenta Dilma Rousseff fez sua estreia no Foro Econômico Mundial que reúne em Davos, Suíça, à elite máxima do empresariado e seguiu viagem para Cuba. Tem sido a primeira vez que Dilma Rousseff foi ao Foro, e o faz quando começa o último ano de sua presidência. Com seu antecessor, Lula da Silva, foi tudo o contrário: o primeiro presidente brasileiro de um partido declaradamente de esquerda aterrissou em Davos quando acabava de estrear seu governo.

A viagem de Dilma à cidade suíça teve um objetivo claro: é parte dos esforços destinados a reconquistar a confiança dos investidores de todo o mundo, que olham com cautela e preocupação o cenário de inflação relativamente elevada (5,9% em 2013) e crescimento da economia muito abaixo do esperado (1,9%). A perda de credibilidade junto aos investidores preocupa o governo brasileiro.

Por sua vez, a viagem à Havana, muito mais do que para participar da cúpula da CELAC, obedece à nova estratégia brasileira destinada à ilha: o país, pretende no curto prazo, aumentar fortemente sua presença em Cuba e ocupar um espaço amplo e de grande peso.

Com um olho posto nas mudanças implementadas por Raúl Castro na economia cubana e nos potenciais benefícios que poderão propiciar, e o outro no campo da política, o governo de Dilma Rousseff caminha firme a uma nova etapa nas relações bilaterais.

Em sua breve estadia na Havana, além dos compromissos protocolares que incluíram um encontro com Fidel Castro, Dilma Rousseff disse uma frase que deve ser medida cuidadosamente: Brasil está determinado a transformar-se em um “associado de primeira ordem no campo econômico”, enquanto mantém no mesmo nível, desde a chegada do PT ao governo em 2003, o diálogo permanente no campo da política.

Essa nova etapa permite observar que, a partir principalmente de 2010, último ano de Lula na presidência, as relações com Cuba já não se restringem a alguns investimentos e muitas declarações de solidariedade e de críticas ao embargo norte-americano e as condições humilhantes impostas pela União Europeia.

Agora há medidas práticas e de peso específico. A participação brasileira na construção do novo porto de Mariel e na instalação do que os cubanos chamam “zona econômica especial”, mas, que na realidade pretende ser uma zona franca, tem sido decisiva. Foram destinados 1bilhão 100 milhões de dólares, e já se sabe que haverá mais aportes de alto volume para que se instalem indústria e empresas brasileiras no complexo de Mariel.

Esse é, sem dúvida, o maior projeto de Cuba, com possibilidades concretas de ser o eixo transformador da economia do país e parte essencial das reformas que trarão grandes mudanças para a sociedade ilhoa.

A mesma Odebrecht que construiu o novo porto anuncia que está no tramo final dos estudos para instalar, em Mariel, uma indústria transformadora de plástico. Além disso, aguarda luz verde do BNDES, o banco estatal brasileiro de crédito e financiamento, para participar da ampliação do aeroporto de Havana.

Tem mais: Dilma anunciou durante sua visita, créditos de arredor de 500 milhões de dólares para que Cuba importe bens e serviços do Brasil, e também para que importadores brasileiros adquiram produtos cubanos. Se não se consideram as vendas de petróleo, Brasil é o maior exportador a Cuba (16% de tudo o que a Ilha importa), superando Canadá por pequena margem. A China é a principal exportadora: 42%. Além disso, Brasil é o quarto maior importador (principalmente medicinas e vacinas). Também, 5 mil médicos cubanos trabalham no Brasil.

Para completar o cenário está a questão política. Brasil quer consolidar seu peso e sua liderança na América Latina. Com a incerteza da situação da Venezuela, principal provedor e financiador da Ilha, o Brasil surge como alternativa salvadora. E com uma vantagem sobre a Venezuela: além de dispor de um volume maior de recursos, pode apresentar um projeto vantajoso para os dois lados, ou seja, financia, com juros baixos, a venda de produtos de um país a outro e vice-versa.

Em termos políticos, fica claro que ninguém deve esperar do Brasil, um discurso em alta voz como o da Venezuela de Chávez e Nicolás Maduro. Primeiro, porque os processos internos observados no Brasil e na Venezuela estão muito distantes um do outro. Segundo, porque as linhas de política externa também são muito distintas.

Os estrategistas da diplomacia brasileira costumam dizer que acreditam mais em ações que em palavras. E em relação com Cuba, a melhor maneira de apoiar o processo de transformações internas levadas adiante por Raúl Castro é investir em grandes quantidades de recursos em projetos estruturais que podem mudar, efetivamente, a realidade interna do país.

*Escritor y periodista brasileño

Tradução ao português: https://www.facebook.com/amlapav.idiomas

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