Diferenças entre a esquerda brasileira e o socialismo ecológico de Evo Morales

Foto: Reuters
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Por Elissandro dos Santos Santana, Porto Seguro, para Desacato.info.

Não discutirei até onde a prática do PT foi de esquerda ou não, tendo em vista que a minha proposta não é essa, por isso, qualquer crítica no que tange à reflexão que farei aqui, será descabida. No entanto, ainda que fora de hora para a discussão central que pretendo, não posso permitir que as subjetividades daqueles que pensam que estão vivendo uma esquerda mais esquerda que a do Partido dos Trabalhadores sejam silenciadas, mesmo que essas esquerdas não tenham tido a experiência de presidência da República vivenciada pelo PT, e isso é importante mencionar, pois é fácil criticar quando não se viveu a empiria de ter que “dialogar” como presidente/a com uma Câmara dos Deputados e com um Senado, duas casas compostas por parlamentares, em sua maioria, corruptos; ao contrário, desejo que cada leitor/a construa outros sentidos comigo. O fundamental é que, independente de qualquer crítica, não se perca o foco da intenção central textual, a análise acerca do socialismo ecológico boliviano em comparação com o “socialismo brasileiro” a partir de Lula e Dilma.

Como bem salientei, o objeto de análise a que me proponho não é sobre ego entre quem se acha mais de esquerda ou não, mas em torno dos pressupostos conceituais e exemplificativos das experiências políticas sociológico-ambientais de Evo Morales e o tal socialismo da esquerda petista de coalizão com o neoliberalismo no Brasil.

Para a perspectiva analítica que busco fazer, cotejarei os modos de operação dos governos de esquerda que assumiram o poder no Brasil com a política sociológica ecológica do presidente indígena boliviano, para que entendamos que parte do fracasso do governo Lula e Dilma não está somente na manipulação da mídia tradicional, que sempre trabalhou para as elites políticas e econômicas brasileiras, classes estas que há muito tempo estão em consonância com os interesses e objetivos do imperialismo neoliberal estadunidense e europeu, mas, no desvio de caminho do PT em relação às noções mais básicas das ideologias de socialismo na quais acreditamos há algum tempo. Durante o governo petista, por 13 anos, fez-se um socialismo ancorado no capitalismo, se é que isso é possível e, para seguir governando, efetuou alianças com parlamentares de direita. Essa aliança teve um preço alto e quem mais saiu sofrendo foi a classe trabalhadora, o que é uma antítese gigante, já que o Partido dos Trabalhadores foi eleito justamente pela força operária e proletários sofridos.

Durante os governos de Lula e de Dilma, tivemos mudanças significativas no campo da distribuição de renda, da descentralização de indústrias por regiões do país, o que possibilitou ao Nordeste e ao Norte desenvolverem-se em alguns aspectos. Também, faz-se necessário destacar que a educação superior se expandiu por todo o Brasil e que tudo isso deve ser reconhecido, mas, esse reconhecimento não nos tira o direito de tecer críticas às práticas neoliberais da Direita conservadora recopiladas pelo PT em frentes diversas, pois nessa recopilação há parte das respostas para o fracasso do projeto petista.

Foto: Evaristo Sá. Getty Images.

As coalizões impediram mais avanços sociais e as pessoas que passaram a ter acesso a bens e serviços, infelizmente, não ecologizaram ações, mergulhando nas mesmas tendências de afluência da direita neoliberal.

Diferente do que ocorreu no Brasil, na Bolívia, muitos dos processos de melhorias sociais ocorreram em vertentes profundas. No governo do presidente indígena boliviano todo o projeto desenvolvimentista arvorou-se no respeito à Mãe Terra e na valorização os cidadãos bolivianos nas bases, com a criação de leis para barrar o latifúndio, alfabetização para toda a população, erradicando o analfabetismo no país, respeito à pluralidade linguística dos vários povos originários constitutivos da nação, possibilitando que a partir de 2017 a Bolívia alfabetize os alunos em, pelo menos, 36 línguas originárias. Tudo isso possibilitou à Bolívia o fortalecimento de uma esquerda socialista ecológica com o apoio do povo, mas, mesmo lá, como todos os males causados pelos mais de 500 anos de exploração não foram vencidos, a elite, inconformada com um indígena no poder e com o empoderamento das minorias (maiorias, na verdade), já dá sinais de que a revolta ou golpe a qualquer instante poderá acontecer. Enquanto que no Brasil o governo petista se preocupou mais em dar poder de compra aos brasileiros que antes não tinham acesso a bens, por conta dos mais de 500 anos de políticas voltadas somente para os ricos, na Bolívia, o governo de Evo buscou e busca conscientizar a sociedade que muito mais importante do que o viver melhor é o viver bem, pois viver melhor implica egoísmo, com outro vivendo melhor, perdurando-se, assim, aquela construção de hierarquia de classes. No Brasil, isso não aconteceu. Aqui, os quase 50 milhões, não há exatidão nos números, que saíram da pobreza para a classe média, lá chegando, recopilaram os sonhos das elites econômicas. Diferente da Bolívia onde o viver bem se instaurou, no Brasil, o viver melhor foi a ideologia que vingou.

Na construção ideológica do viver melhor capital, como já mencionei, há competição e, nisso, um se sobressai sobre os demais e isso faz parte do pensar brasileiro, de forma bem naturalizada e difundida, diria, e ai de quem ouse confrontar esses valores do viver melhor, pois logo será tachado de louco comunista. Muitos que ousam isso recebem gritos e desaforo de “Vai para Cuba”, “Aqui não é uma Venezuela” ou “Vai, seu bolivianinho”. Para as mentes tacanhas neoliberais, os que não se encaixam no capitalismo deveriam “vazar” do país para um desses países em que o capitalismo perdeu terreno.

Mas, continuando o raciocínio comparativo, é interessante ressaltar que Lula e Dilma deram poder de compra aos mais pobres e, inclusive, contribuíram, para uma economia consolidada e forte. Nesse ínterim, não ocorreu apenas a distribuição de renda, pois a elite se beneficiou muito mais do que os pobres. O fator corroborante de que a elite lucrou bem mais com a estabilização da economia é que ela se enriqueceu ainda mais, especialmente, os banqueiros. Diante desse quadro, pode-se dizer que o ódio ao PT vai além do que supúnhamos. Esse sentimento de ódio é contra a mudança e ruptura da possibilidade de exploração daqueles que passaram, até certo ponto, a circularem pelos espaços nos quais, antes, somente os ricos passavam. Esses mesmos raivosos são contra uma série de políticas sociais que começaram a acontecer na gestão Lula-Dilma. Por exemplo, as cotas, a união civil entre pessoas do mesmo sexo, o acesso de pobres em cursos que anteriormente só eram frequentados por brancos elitistas nas universidades federais e estaduais de todo país. Tudo isso mexeu com os senhores e senhoras da Casa Grande. Esta nunca se conformaria com a Senzala podendo mudar de vida. Na Bolívia, esses raivosos também existem e tentam depreciar a estética social popular indígena de Evo a todo custo. Lá, igual ao Brasil, a classe média também começa a virar as costas para Morales. Tudo isso indica que estamos em tempos latentes de xenofobia interna e vira-latismo externo, pois essas direitas latino-americanas estão de algum modo coligadas com o poderio imperialista.

Toda essa situação de ódio das direitas poderia ter mudado um pouco com investimento em educação de base, e digo isso pelo fato de que a direita ganhou ainda mais fôlego com a cooptação de pessoas que, nem da elite são, mas que se deixaram enganar, consciente ou inconscientemente, pela mídia tradicional conservadora a serviço dos grupo de poder no país, pelo projeto de ódio.

A elite e a maior parte da classe média crendo-se elite, diferente do viver bem boliviano, afundaram-se nos desejos do consumo como sinônimo de desenvolvimento, mas, diante da crise econômica internacional, esses cidadãos se viram prejudicados e, por isso, um bode expiatório deveria ser construído. Dada a cultura do machismo no Brasil, uma mulher no poder foi o terreno propício para as mentes mesquinhas fomentarem o ódio e retomarem as rédeas do controle.

Para nossa tristeza, como em treze anos o PT não investiu, pelo menos, não como deveria, em políticas de educação de base, isso foi decisivo para que as camadas menos privilegiadas não tivessem acesso a uma escolarização crítica ao consumo e se deixassem levar pelo jornalismo opinativo que mais desinforma que informa neste país. Diante de uma educação básica sucateada, diga-se de passagem, maltratada em governos anteriores, não foi possível a ecologização do pensar no país e, pior de tudo, o governo petista não conseguiu regulamentar os meios de comunicação, dessa forma, não propiciou a diversificação da informação, que, atualmente, está nas mãos das elites adeptas do neoliberalismo.

A regulamentação da mídia era e é condição sine qua non para ampliar e diversificar os meios de formação de opinião no Brasil, se é que a opinião pública existe ou possa existir, desconcentrando a informação, e, com isso, permitindo que outras informações, para além das que são transmitidas diariamente pelos grupos de poder, que sempre estiveram contra o povo desde a Ditadura Militar, pudessem chegar ao povo. Frente a uma mídia não regulamentada, os grupos midiáticos de poder fomentam a desinformação e confundem as massas. O incrível é que este mesmo processo se dá na Bolívia e em outros países da América Latina.

Voltando à questão do viver melhor, nesse desejo louco pelo sobressair-se sobre os demais, os mais radicais da direita não escondem a vontade de ver aqueles que lutam por justiça social no Brasil, distantes, em Cuba, na Venezuela ou na Bolívia, pois nestes países há experiências que conflitam com os interesses dos seres capitais brasileiros.

Acerca do desmantelamento dos governos progressistas no Continente Latino-americano, é importante recorrer ao que afirma Atilio Borón no artigo “A América Latina deve se preparar para enfrentar o ataque dos Estados Unidos”: atualmente, os latino-americanos “vemos como a situação do império é muito delicada, porque houve o fim do cenário geopolítico bipolar e tem rivais muito fortes como Rússia, China e Índia e, por outro lado, aliados cada vez mais fracos na União Europeia”, finalizou o cientista político e assegurou que, a partir desse marco, o império estará disposto a utilizar qualquer estratégia, como a contratação de mercenários, contribuindo para fenômenos como o surgimento do Estado Islâmico, a crítica situação da Ucrânia ou a imposição de tratados comerciais para disfarçar seus objetivos militares e geopolíticos, para evitar que seu domínio seja questionado.””.

Segundo Atilio, “o objetivo do Tratado Transpacífico de Cooperação Econômica (TPP) é estabelecer um acordo ultra-neoliberal para isolar a China do contexto internacional e a Aliança do Pacífico é um acordo para debilitar a presença desse país, da Rússia e da Índia na América Latina”, apesar de que este tipo de acordo seria “suicida para nossos países”, explicou e acrescentou que o pior erro da região seria “assumir como própria a agenda dos Estados Unidos”.

Ele ainda indaga algo que é crucial para que entendamos todo o processo: “qual seria, então, a melhor estratégia para a América Latina?” e ele mesmo apresenta uma reflexão que serve como resposta: “consolidar-se como um território de paz, neutralizar a guerra cultural que promove o país do norte consagrando a ideia de que os Estados Unidos são o país modelo ao qual devemos imitar porque qualquer modelo alternativo é retrógrado e reafirmar a união latino-americana anti-imperialista, como colocavam o Libertador Simón Bolívar e o Comandante Hugo Chávez.”.

Dando prosseguimento à comparação entre o socialismo brasileiro e o socialismo ecológico boliviano, é imprescindível trazer que há pontos verossímeis entre a estética social de Lula, Dilma e Evo, mas, também, que há diferenças e é sobre as diferenças que me debruço, pois são elas que possibilitaram a sustentabilidade boliviana, ainda que frágil, durante o governo de Evo.

Para avançar nas observações no que concerne às diferenças entre a esquerda brasileira que esteve no poder e as experiências político-ambientais do governo indígena boliviano, faz-se necessário seguir refletindo um pouco sobre o desmonte dos governos progressistas da América Latina, em especial, do Brasil e, agora, da Bolívia. Nessa linha de raciocínio, é crucial apresentar que, assim como no Brasil a elite política inconformada com as políticas de distribuição de renda fomenta a desinformação com ataques ao governo Lula e Dilma, através do apoio da mídia tradicional conservadora filha e apoiadora da Ditadura, na Bolívia, os meios de comunicação de direita também tentam desconstruir a imagem de Evo e isso não pode acontecer, pois são inegáveis as transformações positivas feitas por Evo naquele país.

O fato é que com Evo o indígena, mais da metade da população boliviana, se empoderou, começou a ter voz e direitos, ainda que mínimos, haja vista que toda a mudança necessária para a Bolívia é tarefa gigante, diante de tantos anos de opressão e de domínio das elites sobre os mais pobres e isso incomodou e incomoda a elite e a pseudo elite (aquela que mesmo não sendo elite, vive no eterno medo de retorno à pobreza e na ânsia sem fim de ser elite para oprimir) até hoje.

Acerca do incômodo que Evo causa nas elites, é interessante recorrer ao que afirma Ramonet, jornalista e editor do Le Monde Diplomatique, no artigo “Ramonet: viagem a uma nova Bolívia”: “num país onde mais de metade da população é de origem indígena, Evo Morales, eleito em janeiro de 2006, é o primeiro índio a tornar-se presidente no decorrer dos últimos cinco séculos. E, depois que assumiu o poder, esse presidente diverso rejeitou o “modelo neoliberal” e substituiu-o por um novo “modelo econômico social comunitário produtivo”. A partir de maio de 2006, nacionalizou os setores estratégicos (hidrocarburetos, indústria de mineração, eletricidade, recursos ambientais) geradores de excedentes, e investiu parte desse excedente nos setores geradores de emprego: indústria, produtos manufaturados, artesanato, transporte, agricultura e pecuária, habitação, comércio etc. Consagrou a outra parte do excedente à redução da pobreza por meio de políticas sociais (educação, saúde), aumentos salariais (para funcionários e trabalhadores do setor público), estímulos à integração (os bônus Juancito Pinto [7], a pensão “dignidade” [8], os bônus Juana Azurduy [9]) e subsídios.”. [1]

Mas voltemos ao cotejo que estamos fazendo entre a esquerda brasileira através do governo Lula e Dilma e o governo de Evo Morales. Diferente do governo boliviano que rejeitou o modelo neoliberal assim que assumiu o poder, no Brasil, houve um governo de coalização e aproximação ao neoliberalismo, como já pontuado. Enquanto no Brasil, Lula e Dilma, principalmente Lula, se preocuparam em aumentar o poder de compra do brasileiro e distribuir renda aos mais pobres, para que estes também entrassem no jogo do consumo, na Bolívia, Evo e sua equipe política desenvolveu e desenvolve políticas em torno de uma sociologia ecológica de crescimento com respeito à Mãe Terra e libertação das armadilhas do consumo.

Já quase para concluir, externo que não estou atacando a política de distribuição de renda do governo Lula e Dilma para o aumento do poder aquisitivo das populações menos privilegiadas, ao contrário, como alguém de esquerda ecológica, queria que esse processo tivesse ocorrido ainda de forma mais profunda, entretanto, era preciso ultrapassar essa questão, pois, mais importante que possibilitar o poder de consumo e retirar da pobreza grandes parcelas da sociedade brasileira, era mostrar aos que estavam saindo da pobreza para a classe média que a noção de desenvolvimento deve ultrapassar as noções de consumo, da acumulação de capital, mas isso só se daria com políticas educacionais de valorização do docente, do discente e de todos os profissionais da área administrativa ligados ao processo de ensino e aprendizagem, mas isso não ocorreu não na educação básica. E a culpa não é do PT, temos que ser honestos. Um partido sozinho, em tão pouco tempo, ou seja, em apenas 13 anos, não conseguiria resolver problemas de mais de quinhentos anos, por isso, teve que fazer escolhas e a escolha foi por ampliar o acesso às universidades, com a criação de universidades, com a interiorização do ensino superior, ampliação de vagas, novos cursos de graduação e pós-graduação, contratação de novos profissionais, dentre outras questões, mas, nas entranhas, a mudança não se fez.

Por fim, enquanto na Bolívia foram pensadas políticas para o povo, como leis de proteção ambiental, proibição da prática dos latifúndios com legilação para uso da terra, dentre outras questões, no Brasil, por conta das coalizões feitas, inclusive com parlamentares pertencentes à Bancada BBB, Boi-Bíblia-Bala, não houve avanços significativos no plano da agricultura, pois prevaleceram os interesses dos grandes donos dos latifúndios da soja e de outros produtos, leis de proteção às minorias como a da criminalização da homofobia não foram adiante, para não contrariar os espúrios projetos da bancada evangélica conservadora mais preocupada com o prazer dos homoafetivos que com a justiça social, o meio ambiente foi devastado e, tudo isso, não pelo PT em si, mas pelas coalizões que esse partido fez para poder se manter no poder.

Algo é inegável, inclusive para aqueles de esquerda de outros partidos distantes do PT, as mudanças foram poucas, mas muitas das que foram conquistadas já são uma vitória. As conquistas deveriam ser maiores? Sim, deveriam, mas sem as coalizões que tanto criticamos, nós nem teríamos tido Dilma, a primeira mulher eleita presidenta no país, pois o golpe já teria sido dado lá no primeiro mandato de Lula. Com esse reconhecimento estou naturalizando e positivando as coalizões? Não, não e não! Só estou levantando isso para provar que a batalha que teremos pela frente será hercúlea. Não queremos e não devemos mais fazer as alianças com a direita neoliberal, mas estejamos prontos para os baques, pois nenhum governo de esquerda se alicerçará por muito tempo no Brasil diante de uma sociedade que, cada vez mais, elege governos reacionários, conservadores e, consequentemente, aliados ao modelo neoliberal.

Quem dera nós de esquerda, em especial, essa esquerda que observou os erros de coalizão do PT, criticou as alianças do referido partido, mas que nas eleições municipais de 2016 repetiram as mesmas alianças feitas pelo Partido dos Trabalhadores, alcançássemos o socialismo ecológico de Evo, pois nas experiências político-ambientais desse grande presidente indígena, um diplomata internacional em defesa da saúde do planeta, há muito que aprender.

Referências usadas para a construção do texto

 

RAMONET, Ignácio. Ramonet: viagem a uma nova Bolívia. Disponível em http://outraspalavras.net/mundo/america-latina/ramonet-viagem-a-uma-nova-bolivia/. Acesso em 22 de outubro de 2016.

BORÓN, Atilio. A América Latina deve se preparar para enfrentar o ataque dos Estados Unidos. Tradução de Elissandro dos Santos Santana. Santa Catarina: Portal Desacato, 2016. Disponível em: http://desacato.info/a-america-latina-deve-se-preparar-para-enfrentar-o-ataque-dos-estados-unidos/

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