Diário da Pandemia – dia 08 – Terça, 24.03.2020. Por Urda Alice Klueger

Por Urda Alice Klueger, escritora catarinense.

Creio que meus cachorros estão mais felizes, agora que não saio mais de casa, e até as gatas. Manuelita Saenz, que teve diversos e sérios problemas de adaptação depois que nos mudamos para cá, e que nesta casa só morava nos fundos, agora circula pela casa toda.

Atahualpa até parece um cachorrinho novo, apesar dos doze anos e meio. Ele primeiro foi cachorro de apartamento; depois, foi cachorro de uma casinha que tinha 4 m2 de jardim e onde não podia latir; depois foi cachorro com espaço na outra casa onde moramos logo que chegamos aqui e aprendeu a latir até por horas seguidas (dez da noite sempre eu mandava ele ficar quieto) e a correr na praia, mas continuava a enterrar seus ossos ou outras preciosidades debaixo do meu travesseiro. Nestes dias, no entanto, ele aprendeu a fazer buracos lá fora. Há pouco ele estava até vesgo cuidando de um montículo de brita onde eu sei que ele enterrou um pedaço de gordura. Voilá!

E estive aqui pensando nos extremismos religiosos. Os povos sempre acabam criando crenças como a gente sabe que criam e acabam botando suas vidas em risco. Basta lembrar de um encontro religioso acontecido na França faz poucas semanas e que espalhou o coronavírus pela França inteira, isto só para usar exemplos domésticos. Pois na Idade Média não era muito diferente.

Na Idade Média se morria de medo de bruxaria. Não foram poucas as moças bonitas de olhos verdes que foram sumariamente assadas em fogueiras, naquele período, pois se acreditava que moças bonitas de olhos verdes eram feiticeiras e serviam ao Diabo. Na rabeira dessa crença, passou-se a matar gatos, pois muitos deles tinham os olhos verdes e… os olhos dos gatos brilhavam no escuro, com certeza iluminados por Satanás! Pela Europa toda houve matança de gatos, e tanto mataram a esses bichinhos, que a Europa acabou ficando infestada de ratos. Ali pelo século XIV (14) era tanto rato gordo pela Europa, prosperando sem seu inimigo natural, cheios de gordas pulgas transmissoras de uma praga, que começou o que chamamos de Peste Negra. Tratava-se, na verdade, da peste bubônica, e não havia água benta, bênção, procissão ou milagre dos silas malafaias da época que dessem conta daquilo. E, pior, ninguém fazia ideia de como a peste se propagava nem o que fazer para evitar ou tratar. Regiões inteiras foram devastadas e sobreviveram relatos de como as carroças que passavam, de manhã, para carregar os corpos dos que tinham morrido durante a noite e que eram abandonados do lado de fora das suas casas, e de como as carroças ficavam tão carregadas que não cabia todo o mundo. E a rataria com suas pulgas circulando numa boa, aproveitando para roer os cadáveres! Há diversas estimativas sobre quanta gente morreu, mas minha professora de História no Científico disse que de cada quatro europeus que existiam então, três morreram na Peste Negra.

Passaram-se séculos para ficar clara a coisa da peste, as pulgas dos ratos, os ratos, a morte dos gatos e as crenças na feitiçaria. E pensar que milênio e meio, antes, os gregos já estavam tão adiantados em Ciências! A quanto pode chegar o ser humano!

Só contei isso para clarear o que pode ser uma peste e tentar fazer com que um pouco da muita gente que não acredita nela saiba o que a ignorância pode fazer. Tomara que você esteja se cuidando bem!

Para ver o diário completo, clique em https://www.facebook.com/urdaalice.klueger

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