Dia Internacional da Privada

(Português/Español).

Cronopiando por Koldo Campos Sagaseta.

Quem ia me dizer, tão descrente em aniversários e comemorações, que iria encontrar, enfim, um feliz dia internacional que valesse o festejo.

De fato, cada vez estou mais convencido de que esses dias que, supostamente, foram designados no ano em interesse de que a memória recupere algum imperdoável esquecimento, só servem para o contrário, para que a amnésia coletiva volte a sepultar a data celebrada sob um pesado calendário e, pior ainda, em atenção ao dia sinalado, acabemos pensando que guardamos memória de um grão de areia.

O dia dos pais, das mães ou da secretária, nunca me mereceram respeito algum, desnaturalizados até a náusea se viesse embrulhada e se pudesse etiquetar.

E a designação dos últimos dias que ficavam no calendário, como o dia do arbusto ou do ornitorrinco, também não conseguiram me interessar, à margem do respeito que me merecem os animalzinhos e os vegetais aniversariantes.

O que de verdade me emocionou, e no que constitui um merecidíssimo reconhecimento ao mais sublime e humano dos espaços, é esse Dia Internacional da Privada que o mundo se dispõe a celebrar tal e como você deve estar imaginando. Até é possível que se programem jubilosas manifestações em relação para todos os gostos e posturas, celebrações coletivas, desabafos grupais a través das redes sociais que para algo devem servir, porque nada nos globaliza com mais rigor e profundeza que esses restos mortais que os dias nos desprendem.

Nem sequer a suspeita de que se vendam no mundo alguns milhares de inodoros e escovas mais que em qualquer outro dia, mercurial contrapartida da data, se pode objetar a tão sentida homenagem.

Três vezes por dia, reconheço, lhe rendo preitesia, não por seus haveres, que os têm, mas por ser e ter sido sempre, esse único reduto amuralhado, provido de trinco, onde não chegam visitas indevidas; esse sagrado altar para se entregar à leitura sem campainhas nem telefonemas que interrompam.

Se não fôssemos hipócritas, tão escravos das dignas biografias que mentimos, reconheceríamos que em nenhum outro trono fomos mais próprios e felizes, sem um tabelião do lado que registre a cotidiana história na qual estamos, nem magistrado que te censure o juízo, nem banco que gestione o desembolso; sem um encontro marcado, sem uma assinatura sob o timbre, sem um reproche, só nós mesmos e a privada.

Nela sonhamos e descobrimos os dois ou três enigmas idiotas da vida, esses que são a essência de todos os humanos afãs que nos trazem e nos levam de letrina em letrina, e em cuja concorrida solidão tramamos as histórias que melhor sabemos e contamos.

Por todo isso, eu também me somo ao internacional aniversário e, como esqueci de comemorar o 12 de outubro*, este próximo 19 de novembro juntarei em uma cálida e única homenagem os dois aniversários e, cumprido o expediente com gosto e com folga, com cópia para a coroa, darei descarga e… até nunca.

 

*N. da T.: Dia da Hispanidade na Espanha.

 

Versão em português: Tali Feld Gleiser.

 

Día Internacional del Retrete

Cronopiando por Koldo Campos Sagaseta.

Quién iba a decirme a mí, tan descreído en aniversarios y conmemoraciones, que iba a encontrar, por fin, un feliz día internacional que valiera el agasajo.

De hecho, cada vez estoy más convencido de que esos días que, supuestamente, se han designado en el año en interés de que la memoria recupere algún imperdonable olvido, sólo sirven para todo lo contrario, para que la amnesia colectiva vuelva a enterrar la fecha festejada debajo de un pesado calendario y, peor todavía, en atención al día señalado, acabemos pensando que guardamos memoria de un grano de arena.

Ni el día del padre, de la madre o el de la secretaria, me han merecido nunca respeto alguno, desnaturalizados hasta la náusea si viniera empacada y pudiera etiquetarse.

Y la asignación de los últimos días que quedaban en el calendario, como el día del arbusto o del ornitorrinco, tampoco han conseguido interesarme, al margen del respeto que me merecen los animalitos y los vegetales que estén de cumpleaños.

 

Lo que de verdad me ha emocionado, y en lo que constituye un merecidísimo reconocimiento al más sublime y humano de los espacios, es ese Día Internacional del Retrete que el mundo se dispone a celebrar tal y como usted debe estar imaginando. Hasta es posible que se programen jubilosas manifestaciones al respecto para todos los gustos y posturas, festejos colectivos, desahogos grupales a través de las redes sociales que para algo es que deben servir, porque nada nos globaliza con más rigor y hondura que esos restos mortales que los días nos desprenden.

Ni siquiera la sospecha de que se vendan en el mundo algunos miles de inodoros y escobillas más que en cualquier otro día, mercurial contrapartida de la fecha, puede objetarse a tan sentido homenaje.

Tres veces al día, reconozco, le rindo pleitesía, no por sus haberes, que los tiene, sino por ser y haberlo sido siempre, ese único reducto amurallado, provisto de cerrojo, al que no llegan visitas indebidas; ese sagrado altar en el que entregarse a la lectura sin timbres ni llamadas que interrumpan.

Si no fuéramos hipócritas, tan esclavos de las dignas biografías que mentimos, reconoceríamos que en ningún otro trono hemos sido más propios y felices, sin un notario al lado que registre la cotidiana historia en la que estamos, ni magistrado que te censure el juicio, ni banco que gestione el desembolso; sin una cita previa, sin una firma debajo de un membrete, sin un reproche, sólo nosotros mismos y el retrete.

En él hemos soñado y descubierto los dos o tres pendejos enigmas de la vida, esos que son la esencia de todos los humanos afanes que nos traen y nos llevan de letrina en letrina, y en cuya concurrida soledad hemos urdido las historias que mejor sabemos y contamos.

Por todo ello, yo también me sumo al internacional aniversario y, como olvidé conmemorar el 12 de octubre, este próximo 19 de noviembre aunaré en un cálido y único homenaje los dos cumpleaños y, cumplido el expediente con gusto y con holgura, con copia a la corona, tiraré de la cadena y… hasta nunca.

 

 

 

 

 

 

 

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