Deutsche Bank: Ações caíram mais de 50% desde o início do ano

Em 16 de setembro, foi conhecido que as autoridades dos EUA querem aplicar uma pesada multa ao maior banco alemão, pela sua responsabilidade na crise do subprime: 14.000 milhões de dólares (12.400 milhões de euros). Na passada sexta-feira, 23 de setembro, a revista alemã Focus noticiava um encontro entre o presidente do banco, John Cryan, e Angela Merkel, na qual esta teria recusado qualquer apoio estatal ao Deutsche Bank.

Os problemas do banco são muitos, para além da referida multa e do valor final que ela venha a ter, que pode obrigar a uma recapitalização. O banco já foi multado por diversas vezes e não passou nos teste de stress dos EUA. No ano passado, o Deutsche Bank teve perdas de 6.800 milhões de euros. O banco está altamente exposto a produtos especulativos pois tem produtos derivados no montante superior a 72 biliões (milhões de milhões) de dólares – um montante equivalente ao PIB mundial. As ações do banco caíram mais de 50% desde o início de 2016 e cerca de 67% desde meados de 2015.

As suas obrigações “Coco” (“contingent convertible bonds”), que podem ser convertidas em ações em caso de falência, estão em queda, valiam, na semana passada, 83 cêntimos para um valor nocional de um euro, e 73 nesta.

O Deutsche Bank tem dezenas de litígios e pode ser condenado a novas multas. A provisão que fez para o conjunto dos litígios é de 5.500 milhões de euros e tudo aponta que seja insuficiente, mesmo que a recente multa das autoridades norte-americanas (12.400 milhões de euros) seja bem inferior ao valor noticiado. A necessidade de recapitalização parece bem real. Onde irá o banco buscar os fundos necessários à sua recapitalização? Conseguirá recorrendo ao mercado, com uma situação tão complicada e uma queda continua? É neste quadro que ganha relevo a posição atribuída a Angela Merkel.

O resultado da política de elevados superavits

É normal pensar-se que o Deutsche Bank, nunca será um Lehman Brothers porque o estado alemão virá em seu socorro. Contudo, tal não pode ser garantido à partida, por razões políticas, internas à própria Alemanha e por razões ligadas à União Europeia e ao euro.

Angela Merkel e a CDU alemã perderam terreno em todos os atos eleitorais realizados este ano na Alemanha e viram formar-se e crescer um seu novo concorrente: o partido da extrema-direita AfD. A extrema-direita da AfD, assim como os liberais do FPD, irão contra qualquer ajuda do estado alemão ao Deutsche Bank e irão usar todos os pretextos no combate a Merkel e à CDU alemã e as eleições legislativas terão lugar no próximo ano.

Mas Merkel e a CDU alemã têm também razões europeias: a sua posição na União Europeia e na zona euro. As regras que têm ditado, nomeadamente as novas regras da chamada união bancária, implicam que os custos da recapitalização sejam pagos pelos acionistas, pelos portadores de títulos e até pelos depositantes.

Merkel para já nem sequer quer falar do assunto. O seu porta-voz, Stefan Seibert, recusou comentar “especulações”, a própria Angela Merkel disse esperar que “problemas temporários” no Deutsche Bank sejam resolvidos.

O jornalista Romaric Godin levanta a hipótese da tentativa de contornar o problema, lembrando que alguns dias antes da falência do Lehman Brothers, a Deutsche Post, empresa de correios do estado federal alemão, vendeu o Postbank (banca postal e terceira rede bancária de retalho do país) ao Deutsche Bank, dando-lhe “um acesso direto à poupança das famílias alemãs que salvaram o banco em 2008-2009”.

Outra hipótese, muito divulgada, seria a hipótese de fusão entre o Deutsche Bank e o Commerzbank. Mas ambos os bancos estão com grandes problemas e uma fusão poderá até agravá-los.

Angela Merkel, o seu partido e o seu governo procurarão para já evitar o problema e tentar que se resolva por si. Poderão tentar contorná-lo. Mas a crise do Deutsche Bank é assunto que vai continuar na agenda e um dos maiores riscos da Alemanha, da Europa e até do sistema financeiro mundial, como assinalou o FMI.

O jornalista francês critica dois erros na política alemã: primeiro, a má gestão dos bancos alemães e a “cegueira do poder federal” neste dossier; segundo, “a manutenção na Alemanha de um excedente de poupança, encarnado num superavit corrente monstruoso de 8% do PIB, que incapaz de investir na Alemanha, se dirige para produtos financeiros mais rentáveis e portanto mais arriscados”.

Fonte: Esquerda.net

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