Haitianos que vivem no Acre enfrentam condições precárias e insalubres

Em Brasileia, alojamento que tem capacidade para abrigar 200 pessoas recebe atualmente cerca de 800 haitianos

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No final do ano passado, haitianos em alojamento eram 200; hoje já são 800 que vivem em condições precárias

O número de haitianos que buscam abrigo na pequena cidade de Brasileia, no Acre, aumentou de forma significativa nos últimos meses, porém, a infraestrutura oferecida a estes cidadãos pelo governo brasileiro não acompanhou o mesmo ritmo. Num alojamento que tem a capacidade para abrigar 200 pessoas, vivem, atualmente cerca de 800 haitianos. Os apontamentos foram feitos num relatório de autoria da ONG Conectas de Direitos Humanos, após uma visita da entidade à cidade acreana, no início de agosto.

As condições de higiene, alimentação e água são insalubres. As pessoas convivem com esgoto a céu aberto, dez latrinas e oito chuveiros. Cerca de 90% das pessoas que vivem no alojamento e são atendidas nos hospitais da cidade sofrem com doenças gastrointestinais.

Segundo João Paulo Charleaux, coordenador de comunicação da Conectas, a entidade ficou surpresa com as precárias condições do alojamento. O maior problema apontado é que o campo não para de crescer, pois chegam cerca de 40 pessoas por dia no local.

“Segundo relatos dos haitianos no campo é difícil conseguir visto em Porto Príncipe, no Haiti, e o processo está cheio de atravessadores locais que falam em nome do governo embora não trabalhem para o governo, que cobram propina e taxas para fornecer facilidades que nunca vêm. As pessoas nunca conseguem o visto, por isso se arriscam em travessias perigosas. As pessoas têm dificuldade também para obter o visto humanitário, que o governo criou na embaixada do Brasil no Haiti”, disse à Rádio Brasil Atual.

Em abril o governo federal prometeu melhorar a ajuda humanitária na região, com aumento no número de vistos provisórios concedidos, reforço na assistência médica, agilização de concessão de carteira do trabalho dos haitianos, além da liberação de recursos para pagar os fornecedores de alimentos para o alojamento. “É preciso que o governo assuma essa questão para que não fique apenas como um problema restrito a um assunto local, de Brasileia. É preciso uma abordagem mais pró-ativa para fazer com que haitianos consigam visto humanitário”, afirma Charleaux.

O acampamento em Brasileia é administrado pela secretaria de estado de Justiça e Direitos Humanos do Acre e existe há seis meses. O coordenador do alojamento, Damião Borges ressalta a dívida com fornecedor de alimentos. “A dificuldade é grande porque é muita gente, temos gasto 10 mil reais por dia de alimentação, damos café almoço e jantar. Estamos devendo aos fornecedores há mais de quatro meses, e é uma dívida de cerca de R$ 500 mil”, diz.

Ele aponta que empresas locais absorvem cada vez menos o trabalhadores como mão de obra.“Estão chegando muitas pessoas de idade avançada e muitos analfabetos, e com isso a empresa não leva.” A secretaria de Justiça informou que foram repassadas verbas federais no valor de cerca de R$ 2 milhões para aplicar no atendimento humanitário aos haitianos residentes no estado.

O Ministério Público Federal (MPF) entrou na Justiça para exigir medidas do governo federal. “A União vem falhando em dar atendimento digno àquelas pessoas. Não é questão de fazer auxílio local apenas, mas sim trabalhar outras duas frentes, de combate ao tráfico de pessoas em toda a rota, e uma maior informação aos haitianos, no seu país de origem, do quê esperar se vierem ao Brasil”, disse o procurador Pedro Keyne

Ontem (14) a Conectas enviou uma carta ao governo federal e aos órgãos internacionais como a Organização das Nações Unidas e a Organização dos Estados Americanos (OEA) pedindo providências no local, com recomendações para enfrentar crise humanitária no Acre.

Fonte: Rede Brasil Atual

Foto: Marcello Casal/ABR

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