Desafios e conquistas das mulheres nos espaços políticos. Por Ana Laura Baldo.

Foto: Divulgação.

Por Ana Laura Baldo, para Desacato. info.

Deputada mulher mais votada no estado catarinense nas últimas eleições presidenciais, Luciane Carminatti (PT) defende a paridade de gênero na política e afirma que a violência contra a mulher no parlamento é velada.

A dificuldade de lançar e eleger mulheres na política está ligada a uma conjuntura histórica. Foi assim que Luciane Carminatti, deputada estadual por Santa Catarina, definiu a baixa participação das mulheres na política, onde é possível perceber uma nítida disparidade de gênero. Carminatti falou ainda sobre os desafios e conquistas das mulheres nos espaços de poder e como mudar a realidade para mais mulheres serem eleitas a cargos políticos no Brasil.

Para a deputada, uma das frases mais tristes e incoerentes ditas pelas pessoas é, “ah, mas as mulheres não se interessam por política, as mulheres têm a oportunidade, mas não ocupam os espaços”. Segundo Carminatti, é preciso entender que hoje a baixa participação das mulheres na política está ligada ao fato de que historicamente as mulheres ocuparam um lugar que foi destinado a elas, sem direito à escolha. “É só fazermos uma pergunta, qual era o lugar das nossas mães e avós na história?. Esse conjunto todo,  de um lugar específico para mulher, que era o local do privado e não público, vai construindo também uma definição na política”, afirmou.

No que diz respeito às cotas de mulheres na política, Luciane afirma que é uma conquista importante da luta das mulheres e que graças a essa política de inclusão, hoje mais mulheres conseguiram ser eleitas a cargos políticos. Já referente a Emenda Constitucional (EC) nº 97/2017, que vedou a partir deste ano, 2020, as coligações partidárias nas proporcionais, Carminatti avaliou como ótima e que segundo a deputada trouxe bons resultados nas eleições municipais de 2020. “Nós tivemos um número expressivo de mulheres inscritas, comparando 2016 com 2020. Nas últimas eleições, o total de candidaturas femininas em Santa Catarina foram em torno de 31.5% e nas eleições de 2020, nós tivemos quase 35%. É um avanço, porque os partidos deixam de apoiar somente um ou outro candidato e passam a apoiar mulheres também”.

Violência de gênero no Parlamento

A violência contra a mulher no meio político é velada, afirma Luciane Carminatti. “A violência nós sofremos durante a campanha eleitoral, e em outros momentos da vida pública. Um dos preconceitos que a gente vive é que para muitas pessoas, se enxerga um corpo e não uma parlamentar, não uma candidata, e as mulheres sofrem muito com isso”.

Carminatti explica que quando se vai pedir voto, em tempos de campanha eleitoral, muitos chegam e falam, “é bonitinha, é gostosa”, frases baixas, como denominou a deputada. Já referente a violência no parlamento, Luciane afirma ser velada. “Quando a gente entra numa disputa por cargos de expressão maior, a violência fica mais explícita. Tanto é que nós nunca tivemos uma presidenta da Assembleia Legislativa de Santa Catarina mulher. Fora as piadinhas, ‘olha como ela tá bonita hoje, deve tá amando’, coisas assim”.

Luciane relatou que certa vez estava em trabalho na Assembleia e escutou frases machistas de um colega deputado, cansada com as inúmeras importunações ela respondeu ao parlamentar que não estava naquele ambiente para enfeitar “coisa nenhuma”, porque não era vaso de flor, mas estava lá porque tinha sido eleita como ele. “É uma luta permanente, que nós enfrentamos todos os dias, mas continuamos firmes”, afirmou a deputada.

Caminhos para a mudança

“A legislação precisa ser modificada”. É assim que Luciane acredita que um dia teremos igualdade de gênero na política. “Eu defendo paridade de gênero no parlamento. Nós temos que ficar de olho nas candidaturas laranjas. Precisamos colocar os recursos não só para as mulheres serem candidatas, mas para elas decidirem onde usar”, salientou.

Já referente aos recursos que vão para os fundos partidários, Carminatti acredita que eles  precisam ser usados na lógica de incentivar mulheres a se fortalecer com lideranças políticas e também trazer debates sociais para espaços como as escolas. “Precisamos discutir gênero nas escolas, discutir como as mulheres sentem na pele a violência, para que os homens entendam e modifiquem esse pensamento”, explicou Luciane.

A deputada defende ainda que é preciso debater os temas: “violência contra a mulher e mulheres na política”, dentro dos partidos políticos. Ela acredita que formando mulheres como lideranças de suas comunidades, apoiando e amparando as suas candidaturas, teremos mais mulheres eleitas na política.

 

A opinião do/a autor/a não necessariamente representa a opinião de Desacato.info.

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