Democratizar a democracia

democraciaPor Thiago Burckhart.

Em meio a tempos de ascenção de um autoritarismo, repensar a democracia e sua efetivação torna-se algo urgente. Repensar a democracia, nesse sentido, implica em democratizar a própria democracia, como já afirmava Boaventura de Sousa Santos. A busca por uma melhor qualidade de democracia também implica em trabalhar com o “sentimento democrático”, ou seja, com a democracia no plano cultural, no dia-a-dia, nas expressões populares.

O autoritarismo é o contrário da democracia, seu oposto, sua negação. Enquanto negação da democracia o autoritarismo possui um conjunto de valores que se chocam diretamente com os valores democráticos. O sentimento democrático, enquanto potencialidade, valoriza a felicidade. Não a promessa de felicidade mercadológica e mercantilizada, vendida na publicidade através dos meios de comunicação de massas, mas a felicidade filosófica, como diz Márcia Tiburi, ou seja, a felicidade poética.

Democracia x Autoritarismo

O debate entre o autoritarismo e a democracia, seus pressupostos e contrapontos é clássica na história do pensamento político. Entretanto, pensar a relação entre a democracia e o autoritarismo nos dias de hoje é algo um tanto mais complexo, pois vivemos em sociedades que são formalmente democráticas, ou seja, onde a democracia é reconhecida no âmbito jurídico, mas que a prática cotidiana de instituições e mesmo de pessoas demonstram o contrário, o autoritarismo.

O paradoxo talvez aconteça em virtude das sociedades mesmo que formalmente democráticas estarem em processo de construção – que nunca terminará, já que a democracia é um processo constante – e ainda nutrem em seu âmago valores que não são necessariamente democráticos. A filósofa Marilena Chauí afirma que a sociedade brasileira é profundamente autoritária, conservadora, verticalizada e violenta. Esses elementos ainda fazem parte do cotidiano da vida social, negando até mesmo os mitos de fundação do Brasil, como a ideia de cordialidade, de que o povo brasileiro é cordial por natureza.

Para além disso, vivemos ainda num tempo caractreizado por um levante conservador, que também é um levante autoritário, mas que em certo sentido, vem difundindo um sentimento de ódio, característico do fascismo.

Autoritarismo X felicidade poética

O autoritarismo, enquanto nega os pressupostos daquilo que constituem uma sociedade democrática, diga-se, a felicidade poética, a contrapõe não com a tristeza, mas com o sentimento de frieza em relação ao outro. Esse outro é qualquer pessoa, podendo ser o médico, a prostituta, o marginal, o empregado, dentre outros. Aquele que assume para si a condição dos valores autoritários e condiciona seus sentimentos a um alto grau de frieza passa a negar a alteridade do outro, agindo de forma ressentida. Nietzsche dizia que o ressentimento é um mal, pois não permite que a pessoa ressentida simplesmente viva.

Assim, um dos antídotos contra o autoritarismo seria a felicidade poética. Contrapor o autoritarismo e o fascismo com a felicidade, o sentimento democrático mais humano, é uma forma de democratizar a democracia. Da mesma forma que a democracia é um constante processo de aperfeiçoamento, a cultura também o é, pois ela também muda. A felicidade poética ou filosófica tem a possibilidade de transformar subjetividades e relações, na construção de uma sociedade mais democrática.

Thiago Burckhart é estudante de Direito.

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