De moto pelo Contestado: Abandono da memória física e imaterial

“Morte ao caboclo”, de Gilead Maurício, mostra o conflito com outro olhar

Por Celso Martins.

Duas produções recentes sobre o Contestado chegam às mesmas conclusões por caminhos diferentes. De um lado o mundo acadêmico denunciando na Carta do Irani a destruição dos acervos físicos e imateriais do conflito (1912-1916). De outro um jornalista que percorreu os locais de redutos e combates.

Os acadêmicos pesquisadores que participaram do Simpósio sobre o Centenário do Movimento do Contestado em 2012 apontaram esta situação. Após se reunirem na UFSC (29.5 a 1.6), UFPEL (Peloras-RS, 29.8 a 31.8) e UFFS (Chapecó-SC, 18.10 a 22.10) lançaram a Carta do Irani, onde se mostraram “preocupados com o estado e situação de acervos documentais, locais de memória, patrimônio histórico e da população remanescente do conflito do Contestado.”

Íntegra da Carta do Irani.

Caboclo

Pilotando uma moto e usando recursos próprios, o administrador de carreira e jornalista recém formado Gilead Maurício, 49 anos, percorreu os locais de conflito. Fez anotações, sentiu o ar, o frio e o calor, entrevistou pessoas, fotografou e ao final constatou o desconhecimento do Contestado, a desfiguração de áreas de combates e redutos e a falta de manutenção das poucas placas lembrando o episódio.

Foi uma combinação de pesquisa com jornalismo temperada com expedição e aventura. Tudo movido pela curiosidade. Nascido em Natal/RN, veio morar em Santa Catarina onde “descobriu” a Guerra por volta de 2002. Começou lendo uma obra de Aujor Ávila da Luz (Os fanáticos: crimes e aberrações dos nossos caboclos). “Li, mas fiquei em dúvida”, comenta Gilead. “Me identifiquei mais com o caboclo. Se a ideia do autor era informar, no meu caso ele desinformou”.

Continuou as leituras e junto com os esclarecimentos vieram as dúvidas. “Num primeiro momento eu li os autores tradicionais com a versão oficial da guerra”, destaca. Já no curso de Jornalismo da Estácio (São José-SC), conheceu outros autores e obras, como Paulo Pinheiro Machado e o livro O mato do tigre e o campo do gato, sobre o combate do Irani.

“O Contestado não foi algo que aconteceu e morreu, como li nos primeiros autores. Ao contrário, pude conversar com os descendentes dos que combateram no Contestado, que ainda vivem na região, com uma memória bastante presente”. O título, “Morte ao caboclo”, lembra a existência de uma espécie de “ordem” de aniquilamento dos caboclos rebelados. “A chegada da ferrovia, os papéis da igreja, da imprensa e lideranças locais, levaram o Exército a uma guerra de extermínio”, avalia.

Com selo da editora carioca Livre Expressão, o livro de 240 páginas vai à vendas nas Livrarias Catarinense. O primeiro lançamento acontece no dia 11 de março na sede da AABB, em Coqueiros (Florianópolis-SC). O segundo está marcado para Santo Antônio de Lisboa (Optica Brasil) no dia 16.3. “Depois de embarcar na garupa da moto do Gilead”, comenta o professor de jornalismo Paulo Scarduelli, “você não vai mais querer parar de ler essa história”.

Fotos de Celso Martins e Gilead Maurício.

1 COMENTÁRIO

  1. viví en natal así que siento a los potiguares casi como compatriotas.

    y me interesa el contestado, espero poder leer el libro cuando me instale en florianópolis, a más tardar en un año.

    parabens, gilead (es tu nombre, y el apellido mauricio? o al revés?).

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