Dallagnol e Lava Jato fizeram vazamentos seletivos para manipular delações: “Vamos controlar a mídia de perto”

Foto: Pedro de Oliveira/ ALEP

Em novas conversas divulgadas pela reportagem do The Intercept Brasil nesta quinta-feira (29), procuradores da Lava Jato admitem ter utilizado a imprensa como ferramenta para manipular suspeitos da operação e intimidá-los a fazer delações. Isso comprova que o procurador Deltan Dallagnol mentiu ao negar publicamente que os agentes vazassem informações sobre os procedimentos da força-tarefa.

Além de participar de todos os grupos que planejavam, discutiam e realizavam esses vazamentos seletivos, Dallagnol foi responsável direto por um desses casos. Ele e o procurador Orlando Martello anunciaram em junho de 2015, em um dos chats privados, que vazaram a informação de que os Estados Unidos iriam ajudar a investigar Bernardo Freiburghaus, um dos operadores da Odebrecht, para repórteres do Estadão. O objetivo era pressionar o investigado a realizar delações.

Dallagnol escreveu ao repórter do Estadão contando o caso e perguntou se ele tinha interesse em publicar a história. “Hoje ou amanhã, mantendo meu nome em off. Pode falar fonte no MPF”, disse. O repórter afirma que iria publicar e que a reportagem seria manchete no dia seguinte. Em seguida, Deltan comenta o seu feito no grupo privado com os demais procuradores, dizendo que tentou ler a reportagem, mas não conseguiu. “Amanhã vejo. Vamos controlar a mídia de perto”, afirmou.

Depois que a reportagem foi publicada, Dallagnol comentou no chat que a estratégia, a partir dessa divulgação, seria dizer a Bernardo Freiburghaus que ele “perderia tudo”  e “colocar ele de joelhos e oferecer redenção”, em tentativa de fazer o operador delatar outras pessoas. Porém, no final das contas, Freiburghaus não delatou.

O que faz desse acontecimento ainda mais relevante é que Dallagnol negou publicamente diversas vezes que os agentes da Lava Jato tenham feito qualquer vazamento. Em uma entrevista para a BBC Brasil, após um discurso que ele proferiu em Harvard, em abril de 2017, Dallagnol disse que “agentes públicos não vazam informações” e que a brecha estaria no “acesso inevitável a dados secretos por réus e seus defensores”. Quando perguntado diretamente se a força-tarefa havia cometido vazamentos, o procurador respondeu: “Nos casos em que apenas os agentes públicos tinham acesso aos dados, as informações não vazaram”.

DEIXE UMA RESPOSTA

Please enter your comment!
Please enter your name here

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.