Cultura inútil: Viva o ódio!(?) Abaixo a tolerância!(?)

Por Mouzar Benedito.

“Minha disposição é a mais pacífica. Os meus desejos são: uma humilde cabana com um teto de palha, mas boa cama, boa comida, o leite e a manteiga mais frescos, flores em minha janela e algumas belas árvores em frente à minha porta; e, se Deus quiser tornar completa a minha felicidade, me concederá a alegria de ver seis ou sete de meus inimigos enforcados nessas árvores. Antes da morte deles, eu, tocado em meu coração, lhes perdoarei todo o mal que me fizeram. Deve-se, é verdade, perdoar os inimigos – mas não antes de terem sido enforcados” – Heinrich Heine, poeta alemão (1797-1856)

Um ditado popular brasileiro é menos “brabo” em relação às pessoas que nos pentelham: “Seja feliz: dê uma topada e quebre o nariz”.

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Não, não é de hoje que o ódio e a intolerância estão presentes no mundo, na convivência (ou falta dela) entre adversários… ou melhor, inimigos.

Basta lembrar os anos 1930, quando o nazismo e o fascismo se tornaram poderosos na Europa, e por aqui os galinhas verdes, quer dizer, os integralistas, seguiam seus passos.

Parece que estamos voltando a aquele tempo, não?

Dá para lembrar uma frase que se tornou comum há décadas: “Pare o mundo que eu quero descer”, que virou mote de uma música de Raul Seixas.

Bom, aí vai uma historinha contada pelo Barão de Itararé. Depois dela, frases sobre ódio e intolerância, e se alguém quiser, pode ver depois das frases uma lembrança minha sobre o que uma gente simples de um lugar perdido nas montanhas mineiras, no final dos anos 1950, pensavam sobre como seriam os dias de hoje.

O texto do Barão de Itararé é o que se segue:

Lógica impecável

Wendel Phillips, famoso líder abolicionista americano, viajou certa vez de trem por Ohio e encontrou-se no carro com um grupo de ministros da Igreja protestante em regresso de uma convenção. Um ministro do Sul, obviamente hostil a Phillips por causa das ideias abolicionistas deste, começou a conversa:

– O senhor é Wendel Phillips, não é?

– Sou, sim, senhor.

– O senhor é o homem que pretende libertar os negros?

– Sim, senhor.

– Então por que prega por aqui, em vez de ir para Kentucky, onde estão os negros?

Phillips silenciou por um momento. Depois disse:

– O senhor é ministro, não é?

– Sim, sim, senhor.

– E o senhor pretende salvar as almas do fogo do inferno, não é?

– Pretendo, sim, senhor.

– Então – prosseguiu Phillips com sua lógica impecável –, por que o senhor não vai para o inferno?

Frases dissonantes

Denis Diderot: “Há homens cujo ódio nos glorifica”.

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Dom Quixote: “Odiar é mais nobre e digno que amar: prova é que ocultamos o mais possível os nossos amores, ao passo que damos a máxima publicidade aos nossos ódios.

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Albino Forjaz de Sampaio: “O ódio dá mais prazeres que o amor”.

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Samuel Coleridge: “Vi demonstrarem uma grande intolerância em defesa da tolerância”.

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Arthur Schopenhauer: “A intolerância é intrínseca apenas ao monoteísmo: um deus único é, por natureza, um deus ciumento, que não tolera nenhum outro além dele mesmo”.

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Charles Bukowski: “Tenho uns poemas que eu sei que aumentarão o ódio.
É bom ter hostilidade, mantém a cabeça relaxada”.

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Bukowski, de novo: “Não, eu não odeio as pessoas. Só prefiro quando elas não estão por perto”.

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Charles Chaplin: “Creio no riso e nas lágrimas como antídotos contra o ódio e o terror”.

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Ditado popular: “Um poder odioso não pode ser duradouro”.

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Millôr Fernandes: “Você pode desconfiar de uma admiração, mas não de um ódio. O ódio é sempre sincero”.

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Clarice Lispector: “O tédio é de uma felicidade primária demais! E é por isso que me é intolerável o paraíso”.

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Clarice Lispector, de novo: “Por dentro eu sempre me persegui. Eu me tornei intolerável para mim mesma. Vivo numa dualidade dilacerante. Eu tenho uma aparente liberdade mas estou presa dentro de mim”.

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Umberto Eco: “Para ser tolerante, é preciso fixar os limites do intolerável”.

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Umberto Eco, de novo: “Fundamentalistas dão um toque de arrogante intolerância e rígida indiferença para com aqueles que não compartilham suas visões de mundo”.

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Giacomo Leopardi: “Nenhuma qualidade humana é mais intolerável do que a intolerância”.

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Alexandre Herculano: “Dois ódios acordes são como o amor mútuo. Compreendem-se, adivinham-se”.

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Ieda Graci: “O ódio é um amor exaltado: odiar é amar inconscientemente”.

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Renato Russo: “Vamos festejar a inveja, a intolerância e a incompreensão. Vamos festejar a violência e esquecer a nossa gente, que trabalhou honestamente a vida inteira e agora não tem mais direito a nada. Vamos celebrar a aberração de toda a nossa falta de bom senso. Nosso descaso por educação”.

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Renato Russo, de novo: “A diferença do amor e do ódio é que pelo ódio a gente mata, e pelo amor a gente morre”.

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Afrânio Peixoto: “O ódio vê, como o amor: vê de longe”.

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Khalil Gibran: “Aprendi o silêncio com os faladores, a tolerância com os intolerantes, a bondade com os maldosos; e, por estranho que pareça, sou grato a esses professores”.

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Machado de Assis: “Não há nada mais tenaz que um bom ódio”.

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Júlio Diniz: “Os homens faltos de sentimentos de honra não ofendem quando insultam: não se lhes deve pedir razão da infâmia, porque não reconhecem como tal: identificaram-se com ela”.

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John Pollard: “Tolerância é saber rir quando alguém vos pisa os calos mentais”.

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Honoré de Balzac: “O ódio tem melhor memória do que o amor”.

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Balzac, de novo: “O ódio sem desejo de vingança é um grão caído sobre o granito”.

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Lord Byron: “O ódio é o prazer mais duradouro. Os homens amam com pressa, mas odeiam com calma”.

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Lord Byron, de novo: “Aqueles que se recusam a serem chamados à razão são intolerantes; aqueles que não conseguem, são idiotas; e aqueles que não ousam, são escravos”.

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Marquês de Maricá: “A opinião que domina é sempre intolerante, ainda quando se recomenda por muito liberal”.

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Maricá, de novo: “As nossas necessidades nos unem, mas as nossas opiniões nos separam”.

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Maricá, mais uma vez: “Um povo corrompido não pode tolerar um governo que não seja corrupto”.

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Ditado popular: “A um ruim, ruim e meio”.

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Rui Barbosa: “As injúrias são as razões de quem não tem razão”.

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George Bernard Shaw: “O ódio é a vingança dos covardes”.

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Terêncio: “O obséquio produz amigos; a verdade, ódio”.

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Ditado popular: “Ódio velho não cansa”.

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Provérbio ugandense: “O papagaio pode ofender impunemente, porque voa na hora do castigo”.

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Jean Genet: “O que precisamos é de ódio. Dele nascerão as nossas ideias”.

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Madonna: “A razão pela qual a intolerância, sexismo, racismo e homofobia existem é o medo. As pessoas têm medo de seus próprios sentimentos, medo do desconhecido”.

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Edmund Burke: “Há um limite em que a tolerância deixa de ser virtude”.

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Provérbio turco: “Quem planeja viver em paz deve ser cego, surdo e mudo”.

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Bertrand Russell: “O coração humano, tal como a civilização moderna o modelou, está mais inclinado para o ódio do que para a fraternidade”

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Martin Luther King: “Não permita que nenhum homem o faça descer tão baixo a ponto de sentir ódio”.

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Anton Tchekov: “Nada une tão fortemente como o ódio: nem o amor, nem a amizade, nem a admiração”.

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Pablo Neruda: “Os poetas odeiam o ódio e fazem guerra à guerra”.

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Victor Hugo: “Morte à morte! Guerra à guerra! Viva a vida! Ódio ao ódio! A liberdade é uma cidade imensa da qual todos somos concidadãos”.

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Victor Hugo, de novo: “Quanto menor é o coração, mais ódio carrega”.

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Ditado popular: “O ódio, pelo ódio existe”.

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Provérbio persa: “O buraco de uma agulha é bastante grande para dois amigos, mas o mundo é pequeno demais para dois inimigos”.

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Mia Couto: “Dizemos que somos tolerantes com as diferenças. Mas ser-se tolerante é ainda insuficiente. É preciso aceitar que a maior parte das diferenças foi inventada e que o Outro (o outro sexo, a outra raça, a outra etnia) existe sempre dentro de nós”.

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Michel Foucault: “Não há angústia nem fantasia por trás da felicidade, é esta que não toleramos mais”.

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Guimarães Rosa: “A gente carece de fingir às vezes que raiva tem, mas a raiva mesma nunca se deve de tolerar ter. Porque, quando se curte raiva de alguém, é a mesma coisa que autorizar que essa própria pessoa passe durante o tempo governando a ideia e o sentir da gente; o que isso era falta de soberania, e farta bobice, e o fato é”.

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Jorge Luis Borges: “Não odeies o teu inimigo, porque, se o fazes, és de algum modo o seu escravo. O teu ódio nunca será melhor do que a tua paz”.

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Provérbio japonês: “Quem pede aos deuses que matem seu inimigo às vezes está desejando a abertura de duas covas”.

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Jules Renard: “Tolerem a minha intolerância”.

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Bertolt Brecht: “A grande arte exige amor e ódio”.

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Stendhal: “Já vivi o bastante para ver que a diferença provoca o ódio”.

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Provérbio chinês: “Saber recalcar um minuto de cólera é economizar cem anos de arrependimento”.

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  1. Somerset Maugham: “O sucesso torna as pessoas modestas, migáveis e tolerantes; é o fracasso que as faz ásperas e ruins”.

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Ditado popular: “O ódio, como o amor, é cego”.

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Jules Renard: “Um pouco de desprezo economiza bastante ódio”.

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Rubem Alves: “Ódio produz casamentos duradouros. O ódio não suporta a ideia de ver o outro voando livre, para longe… O ódio segura, para que o outro não seja feliz. O ódio gruda mais que amor. Porque o amor deixa o outro voar”.

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Tennessee Williams: “Penso que o ódio é um sentimento que só pode existir na ausência da inteligência. Os bons médicos não odeiam os seus doentes”.

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Provérbio malgaxe: “Zebu sem chifres não deve procurar briga”.

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Catulo (poeta romano): “Odeio e amo. Talvez pergunteis porque assim procedo. Não sei, mas sinto-o e vivo num tormento”.

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François La Rochefoucauld: “O mal que fazemos não atrai contra nós tanta perseguição e tanto ódio como as nossas boas qualidades”.

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Ditado popular: “Se um diz ‘mata!’, outro diz ‘esfola!’”.

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George Orwell: “Toda propaganda de guerra, toda a gritaria, as mentiras e o ódio, vêm invariavelmente das pessoas que não estão lutando”.

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Mouzar Benedito, jornalista, nasceu em Nova Resende (MG) em 1946, o quinto entre dez filhos de um barbeiro. Trabalhou em vários jornais alternativos (Versus, Pasquim, Em Tempo, Movimento, Jornal dos Bairros – MG, Brasil Mulher). Estudou Geografia na USP e Jornalismo na Cásper Líbero, em São Paulo. É autor de muitos livros, dentre os quais, publicados pela Boitempo, Ousar Lutar (2000), em co-autoria com José Roberto Rezende, Pequena enciclopédia sanitária (1996) e Meneghetti – O gato dos telhados (2010, Coleção Pauliceia). Colabora com o Blog da Boitempo quinzenalmente, às terças.

Fonte: Blog da Boitempo.

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