Cultura e universidade precisam de união contra ofensiva fascista de Bolsonaro

Em debate no Barão de Itararé, o ator Sérgio Mamberti, o produtor cultural Tadeu di Pietro e a cineasta Eliane Caffé falam da “asfixia” que o atual governo tenta impor ao conhecimento

Imagem: Reprodução

São Paulo – “O cerco fascista à cultura”, imposto pelo governo de Jair Bolsonaro, foi tema de debate na noite desta terça-feira (7) no Centro de Estudos da Mídia Alternativa Barão de Itararé, em São Paulo. “O governo é aloprado, mas suas ações são contundentes e diárias, no sentido de desmonte, a ponto de não conseguirmos absorver tudo”, disse o ator Sérgio Mamberti.

Mamberti defende que todos os setores da sociedade comprometidos com a cultura criem juntos “uma estratégia de resistência” contra a “asfixia”. Participaram do debate também o produtor cultural Tadeu di Pietro e a cineasta Eliane Caffé.

O maior símbolo da “asfixia” de que fala Mamberti é o Ministério da Cultura (MinC). Na Wikipédia, o MinC é descrito como tendo sido criado em 15 de março de 1985 e extinto em 2 de janeiro de 2019, o primeiro dia útil do governo Bolsonaro.

Segundo Mamberti, a sociedade precisa “sair da bolha e ultrapassar o viés partidário, aglutinando todos os setores que acreditam que vale a pena lutar pela liberdade de expressão e reconstrução do país, resistir ao desmonte e a essa barbárie”.

As universidades também são vítimas da mesma demonização que ataca a cultura, disse Mamberti. Ele destacou que a desconstrução do que vinha sendo institucionalizado nas últimas décadas começou com o governo Temer.

O ator, diretor e produtor cultural Tadeu di Pietro fez um paralelo entre o que acontece hoje no Brasil e a Itália fascista de Benito Mussolini. Em oposição ao humanismo, cuja base é a solidariedade, “o fascismo tem como princípio a construção do ódio ao outro e ao diverso, o diferente.”

É o retrato do Brasil atual, o que é visível pelo aumento da violência policial e social. “O ódio foi banalizado e os sistemas robóticos (de computador) difundem o aniquilamento do outro. Isso vai contra toda a sociedade. O ódio coroa o fascismo”, disse di Pietro.

A perseguição e a tentativa de aniquilamento da cultura e do conhecimento não se dão por acaso, já que a cultura “trabalha a possibilidade da construção das diferenças”. “A arte é perigosíssima, é o locusonde se dá a resistência à ignorância. Por isso a cultura é sempre a primeira vítima junto com o conhecimento.”

Di Pietro defendeu a criação de uma frente que represente a diversidade da cultura e, para isso, propõe o estabelecimento de contato entre todas as áreas, como filosofia, cultura, sociologia, agricultura (com os trabalhadores do campo) e outras. Ele também defendeu que as pessoas saiam da “bolha”.

“Estamos na lista do ‘macarthismo‘ há um ano e meio. Vamos juntar as pessoas num processo mais massivo de ruas, além das redes. Temos que estabelecer capacidade de nos organizarmos na rua porque é o único modo de conquistar a cidadania”, disse o produtor cultural.

Segundo Mamberti, o fascismo no Brasil é hoje simbolizado pelos “pelotões de professores para delatar colegas”. “A institucionalização da delação é a base da política no sentido de cooptação pelo governo.”

O ator fez um paralelo entre a atual conjuntura e o período pós-golpe de 64, quando a comunidade cultural se uniu aos estudantes na resistência. Exemplo disso, o Centro Popular de Cultura (CPC), organização ligada à União Nacional de Estudantes (UNE), ajudou a mobilizar a sociedade contra o autoritarismo.

“Criamos uma frente suprapartidária. Artistas como Paulo Autran a Tônia Carrero, que não tinham filiação política, compreenderam a importância da liberdade de expressão e estavam nas manifestações.Cacilda Becker era um símbolo. Plínio Marcos colocou os marginais em cena com linguagem popular, como em Navalha na Carne, que foi um marco do teatro”, disse Mamberti.

Para ele, a união do movimento operário e movimentos sociais num processo de resistência e utopia, por um Brasil próspero e que respeite a diversidade, é tão importante hoje como foi no pós-64.

A roteirista e diretora Eliane Caffé discorreu sobre seus trabalhos em zonas de conflito, e falou da “importância de construir alianças” e em agregar os segmentos da classe artística e intelectuais preocupados com a democracia e a diversidade.

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