Cuidado! ‘Frente ampla’ não é a primeira conclamada pelos corvos

Cuidado! ‘Frente ampla’ não é a primeira conclamada pelos corvos

Não é a primeira vez que, com o regime ameaçando endurecer, não é a primeira vez no Brasil que “democratas” de ocasião, apoiadores de golpe ainda fresquinho, reúnem-se numa “frente ampla” contra o degringolamento de suas pretensões iniciais, como faz agora a fileira Sorbonne-Jardim Paulistano do mais encarniçado lavajatismo, ainda que borrifado de Paco Rabanne.

Como fazem agora, com pontapé inicial na PUC de São Paulo, Fernando Henrique Cardoso, Martha Suplicy, Gilberto Kassab, Marcio França et caterva, no que contam com apoio entusiasmado de Flavio Dino e Ciro Gomes – Ciro Gomes, que não declarou voto em Haddad no segundo turno das eleições 2018 e cujo PDT, naquela ocasião, declarou apenas “apoio crítico”, cheiroso também, à candidatura remanescente contra Jair Bolsonaro.

Partiu precisamente daquele que teria sido – barbada! – o mais apaixonado dos lavajatistas, Carlos Lacerda – o mais apaixonado dos udenistas -, a iniciativa de articular uma “Frente Ampla” pela “pacificação política do Brasil” dois anos depois do golpe civil-militar de 1964. O golpe do qual Lacerda foi nada menos que a mais altissonora voz da parte “civil” daquela equação, e que, consumado, acabou com sua pretensão de chegar à presidência da República, com o Ato Institucional número 2.

Não é a primeira vez, também, que os corvos travestidos de uirapurus, pardo-avermelhados, cantam maviosos para atrair à arapuca o campo popular, visando consecução no povaréu. Cirão, afinal, e apesar do apelido, não é propriamente um cabra “das massas”.

Lacerda, velha raposa da Guanabara, já sabia bem que o movimento com que pretendia, digamos, recolocar-se no mercado, esse movimento não ganharia amplitude sem o apoio dos trabalhadores, no que, naqueles tempos idos – mas que sempre voltam -, choveram emissários do “corvo” ao Uruguai para tentar convencer um relutando João Goulart à adesão.

Tampouco é inédito que se queira, em que tais “articulações amplas”, escantear o campo popular para secundárias posições.

O despertar de uma nação

Até que algum “príncipe” das ciências sociais seja impedido de pontificar em alguma pontifícia universidade católica porque no meio do caminho havia um cabo, havia um soldado no meio do caminho.

Como no dia 5 de abril de 1968 Carlos Lacerda não apareceu na Câmara Municipal de Campos dos Goytacazes para receber o título de cidadão da cidade, porque, conforme registrou a edição do dia seguinte do Jornal do Brasil, “quarenta homens do Dops, policiais e o II Batalhão de Caçadores formavam o esquema de segurança, com ordem para prender o líder da frente ampla caso este falasse aos trabalhadores das usinas açucareiras”.

Naquele mesmo dia 5 de abril de 1968, horas depois, a Voz do Brasil divulgaria o teor de uma nova portaria assinada pelo senhor Gama e Silva, ministro da Justiça do general Artur da Costa e Silva: “a proibição de qualquer atividade política da frente ampla – manifestações, reuniões, comícios, passeatas em todo o território nacional, além da apreensão de jornais, revistas e quaisquer outras publicações que divulgassem atividades da frente ampla ou pronunciamentos de políticos cassados”.

“A atitude do governo contra o movimento liderado pelos Srs. Carlos Lacerda, Juscelino Kubitschek e João Goulart despertou, nos meios políticos, a convicção de que se iniciou uma nova fase de endurecimento político”, informou, naquela feita, o Jornal do Brasil.

O futuro tucano Mario Covas, então deputado do MDB, “despertou” dizendo assim, sobre o chega pra lá dado pelo regime de exceção de antanho naquela “frente ampla” de outrora: “um ato de violência que fere a própria legalidade instituída pela revolução e inicia a escalada para a ditadura franca”.

Mario Covas nunca foi udenista, mas the lavajatismo is the new udenismo e o PSDB virou a nova UDN, e com esta sua nova índole, por assim dizer, cotizou-se em outro golpe, o de 2016, pai de fato e de direito do bolsonarismo. Agora, e não sem estranhos prosélitos, a nova UDN conclama a um novo despertar, sem nem se dar ao trabalho de fazer cara de madalena arrependida.

Cuidado!

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