Cuba, a ilha da saúde

Por Salim Lamrani.

(Português/Español).

Após a Revolução, a medicina virou prioridade e transformou a ilha em referência; hoje, Cuba concentra o maior número de médicos por habitante.

Desde o triunfo da Revolução de 1959, o desenvolvimento da medicina tem sido a grande prioridade do governo cubano, o que transformou a ilha do Caribe em uma referência mundial neste campo. Atualmente, Cuba é o país que concentra o maior número de médicos por habitante.

Em 2012, Cuba formou mais 11 mil novos médicos, os quais completaram sua formação de seis anos em faculdades de medicina reconhecidas pela excelência no ensino. Trata-se da maior promoção médica da história do país, que tornou o desenvolvimento da medicina e o bem-estar social as prioridades nacionais. Entre esses médicos recém graduados, 5.315 são cubanos e 5.694 vêm de 59 países da América Latina, África, Ásia e até mesmo dos Estados Unidos, com maioria de bolivianos (2.400), nicaraguenses (429), peruanos (453), equatorianos (308), colombianos (175) e guatemaltecos (170). Em um ano, Cuba formou quase o dobro de médicos do total que dispunha em 1959. [1]

Após o triunfo da Revolução, Cuba contava somente com 6.286 médicos. Dentre eles, três mil decidiram deixar o país para ir para os Estados Unidos, atraídos pelas oportunidades profissionais que Washington oferecia. Em nome da guerra política e ideológica que se opunha ao novo governo de Fidel Castro, o governo Eisenhower decidiu esvaziar a nação de seu capital humano, até o ponto de criar uma grave crise sanitária. [2]

Como resposta, Cuba se comprometeu a investir de forma maciça na medicina. Universalizou o acesso ao ensino superior e estabeleceu a educação gratuita para todas as especialidades. Assim, existem hoje 24 faculdades de medicina (contra apenas uma em 1959) em treze das quinze províncias cubanas, e o país dispõe de mais de 43 mil professores de medicina. Desde 1959, se formaram cerca de 109 mil médicos em Cuba. [3] Com uma relação de um médico para 148 habitantes (67,2 médicos para 10 mil habitantes ou 78.622, no total), segundo a Organização Mundial da Saúde, Cuba é a nação mais bem dotada neste setor. O país dispõe de 161 hospitais e 452 clínicas. [4]

No ano universitário 2011-2012, o número total de graduados em Ciências Médicas, que inclui 21 perfis profissionais (médicos, dentistas, enfermeiros, psicólogos, tecnologia da saúde etc.), sobe para 32.171, entre cubanos e estrangeiros. [5]

A ELAM

Além dos cursos disponíveis nas 24 faculdades de medicina do país, Cuba forma estudantes estrangeiros na Elam (Escola Latino-Americana de Medicina de Havana). Em 1998, depois que o furacão Mitch atingiu a América Central e o Caribe, Fidel Castro decidiu criar a Elam – inaugurada em 15 de novembro de 1999 – com o intuito de formar em Cuba os futuros médicos do mundo subdesenvolvido.

“Formar médicos prontos para ir onde eles são mais necessários e permanecer quanto tempo for necessário, esta é a razão de ser da nossa escola desde a sua fundação”, explica a doutora Miladys Castilla, vice-reitora da Elam. [6] Atualmente, 24 mil estudantes de 116 países da América Latina, África, Ásia, Oceania e Estados Unidos (500 por turma) cursam uma faculdade de medicina gratuita em Cuba. Entre a primeira turma de 2005 e 2010, 8.594 jovens doutores saíram da Elam. [7] As formaturas de 2011 e 2012 foram excepcionais com cerca de oito mil graduados. No total, cerca de 15 mil médicos se formaram na Elam em 25 especialidades distintas. [8]

A Organização Mundial da Saúde prestou uma homenagem ao trabalho da Elam: “A Escola Latino-Americana de Medicina acolhe jovens entusiasmados dos países em desenvolvimento, que retornam para casa como médicos formados. É uma questão de promover a equidade sanitária (…). A Elam (…) assumiu a premissa da “responsabilidade social”. A Organização Mundial da Saúde define a responsabilidade social das faculdades de medicina como o dever de conduzir suas atividades de formação, investigação e serviços para suprir as necessidades prioritárias de saúde da comunidade, região ou país ao qual devem servir.

A finalidade da Elam é formar médicos principalmente para fornecer serviço público em comunidades urbanas e rurais desfavorecidas, por meio da aquisição de competências em atendimento primário integral, que vão desde a promoção da saúde até o tratamento e a reabilitação. Em troca do compromisso não obrigatório de atender regiões carentes, os estudantes recebem bolsa integral e uma pequena remuneração, e assim, ao se formar, não têm dívidas com a instituição.

[No que diz respeito ao processo seletivo], é dada preferência aos candidatos de baixa renda, que de outra forma não poderiam pagar os estudos médicos. “Como resultado, 75% dos estudantes provêm de comunidades que precisam de médicos, incluindo uma ampla variedade de minorias étnicas e povos indígenas”.

Os novos médicos trabalham na maioria dos países americanos, incluindo os Estados Unidos, vários países africanos e grande parte do Caribe de língua inglesa.

Faculdades como a Elam propõem um desafio no setor da educação médica do mundo todo para que adote um maior compromisso social. Como afirmou Charles Boelen, ex-coordenador do programa de Recursos Humanos para a Saúde da OMS: “A ideia da responsabilidade social merece atenção no mundo todo, inclusive nos círculos médicos tradicionais… O mundo precisa urgentemente de pessoas comprometidas que criem os novos paradigmas da educação médica”. [9]

A solidariedade internacional

No âmbito dos programas de colaboração internacional, Cuba também forma, por ano, cerca de 29 mil estudantes estrangeiros em ciências médicas, em três especialidades: medicina, enfermagem e tecnologia da saúde, em oito países (Venezuela, Bolívia, Angola, Tanzânia, Guiné-Bissau, Guiné Equatorial, Timor Leste). [10]

Desde 1963 e o envio da primeira missão médica humanitária a Argélia, Cuba se comprometeu a curar as populações pobres do planeta, em nome da solidariedade internacional e dos sete princípios da medicina cubana (equidade, generosidade, solidariedade, acessibilidade, universalidade, responsabilidade e justiça). [11] As missões humanitárias cubanas abrangem quatro continentes e têm um caráter único. De fato, nenhuma outra nação do mundo, nem mesmo as mais desenvolvidas, teceram semelhante rede de cooperação humanitária ao redor do planeta. Desde o seu lançamento, cerca de 132 mil médicos e outros profissionais da saúde trabalharam voluntariamente em 102 países. [12] No total, os médicos cubanos curaram 85 milhões de pessoas e salvaram 615 mil vidas. [13] Atualmente, 31 mil colaboradores médicos oferecem seus serviços em 69 nações do Terceiro Mundo. [14]

Segundo o Pnud (Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento), “um dos exemplos mais bem sucedidos da cooperação cubana com o Terceiro Mundo é o Programa Integral de Saúde para América Central, Caribe e África”. [15]

Nos termos da Alba (Aliança Bolivariana para os Povos da Nossa América), Cuba e Venezuela decidiram lançar em julho de 2004 uma ampla campanha humanitária continental com o nome de Operação Milagre. Consiste em operar gratuitamente latino-americanos pobres, vítimas de cataratas e outras doenças oftalmológicas, que não tenham possibilidade de pagar por uma operação que custa entre cinco e dez mil dólares. Esta missão humanitária se disseminou por outras regiões (África e Ásia). A Operação Milagre possui 49 centros oftalmológicos em 15 países da América Central e do Caribe. [16] Em 2011, mais de dois milhões de pessoas de 35 países recuperaram a visão. [17]

A medicina de catástrofe

No que se refere à medicina de catástrofe, o Centro para a Política Internacional de Washington, dirigido por Wayne S. Smith, ex-embaixador dos Estados Unidos em Cuba, afirma em um relatório que “não há dúvida quanto à eficiência do sistema cubano. Apenas alguns cubanos perderam a vida nos 16 maiores furacões que atingiram a ilha na última década e a probabilidade de perder a vida em um furacão nos Estados Unidos é 15 vezes maior do que em Cuba”. [18]

O relatório acrescenta que: “ao contrário dos Estados Unidos, a medicina de catástrofe em Cuba é parte integrante do currículo médico e a educação da população sobre como agir começa na escola primária […]. Até mesmo as crianças menores participam dos exercícios e aprendem os primeiros socorros e técnicas de sobrevivência, muitas vezes através de desenhos animados e, ainda, como plantar ervas medicinais e encontrar alimento em caso de desastre natural. O resultado é a assimilação de uma forte cultura de prevenção e de uma preparação sem igual”. [19]

Alto IDH

Esse investimento no campo da saúde (10% do orçamento nacional) permitiu que Cuba alcançasse resultados excepcionais. Graças à sua medicina preventiva, a ilha do Caribe tem a taxa de mortalidade infantil mais baixa da América e do Terceiro Mundo – 4,9 por mil (contra 60 por mil em 1959) – inferior a do Canadá e dos Estados Unidos. Da mesma forma, a expectativa de vida dos cubanos – 78,8 anos (contra 60 anos em 1959) – é comparável a das nações mais desenvolvidas. [20]

As principais instituições internacionais elogiam esse desenvolvimento humano e social. O Fundo de População das Nações Unidas observa que Cuba, “há mais de meio século, adotou programas sociais muito avançados, que possibilitaram ao país alcançar indicadores sociais e demográficos comparáveis aos dos países desenvolvidos”. O Fundo acrescenta que “Cuba é uma prova de que as restrições das economias em desenvolvimento não são necessariamente um obstáculo intransponível ao progresso da saúde, à mudança demográfica e ao bem-estar”. [21]

Cuba continua sendo uma referência mundial no campo da saúde, especialmente para as nações do Terceiro Mundo. Mostra que é possível atingir um alto nível de desenvolvimento social, apesar dos recursos limitados e de um estado de sítio econômico extremamente grave, imposto pelos Estados Unidos desde 1960, que situe o ser humano no centro do projeto de sociedade.

Referências bibliográficas:

[1] José A. de la Osa, “Egresa 11 mil médicos de Universidades cubanas”, Granma, 11 de julho de 2012.

[2] Elizabeth Newhouse, “Disaster Medicine: U.S. Doctors Examine Cuba’s Approach”, Center for International Policy, 9 de julho de 2012. http://www.ciponline.org/research/html/disaster-medicine-us-doctors-examine-cubas-approach (site consultado em 18 de julho de 2012).

[3] José A. de la Osa, “Egresa 11 mil médicos de Universidades cubanas”, op. cit.; Ministério das Relações Exteriores, “Graduados por la Revolución más de 100.000 médicos”, 16 de julho de 2009. http://www.cubaminrex.cu/MirarCuba/Articulos/Sociedad/2009/Graduados.html (site consultado em 18 de julho de 2012).

[4] Organização Mundial da Saúde, “Cuba: Health Profile”, 2010. http://www.who.int/gho/countries/cub.pdf (site consultado em 18 de julho de 2012); Elizabeth Newhouse, “Disaster Medicine: U.S. Doctors Examine Cuba’s Approach”, op. cit.

[5] José A. de la Osa, « Egresa 11 mil médicos de Universidades cubanas », op.cit.

[6] Organização Mundial da Saúde, “Cuba ayuda a formar más médicos”, 1º de maio de 2010. http://www.who.int/bulletin/volumes/88/5/10-010510/es/ (site consultado em 18 de julho de 2012).

[7] Escola Latino-Americana de Medicina de Cuba, “Historia de la ELAM”. http://www.sld.cu/sitios/elam/verpost.php?blog=http://articulos.sld.cu/elam&post_id=22&c=4426&tipo=2&idblog=156&p=1&n=ddn (site consultado em 18 de julho de 2012).

[8] Agência Cubana de Notícias, “Over 15,000 Foreign Physicians Gratuated in Cuba in Seven Years”, 14 de julho de 2012.

[9] OMS, “Cuba ayuda a formar más médicos”, op. cit.

[10] José A. de la Osa, “Egresa 11 mil médicos de Universidades cubanas”, op. cit.

[11] Ladys Marlene León Corrales, “Valor social de la Misión Milagro en el contexto venezolano”, Biblioteca Virtual en Salud de Cuba, março de 2009. http://bvs.sld.cu/revistas/spu/vol35_4_09/spu06409.htm (site consultado em 18 de julho de 2012).

[12] Felipe Pérez Roque, “Discurso del canciller de Cuba en la ONU”, Bohemia Digital, 9 de novembro de 2006.

[13] CSC News, “Medical Brigades Have Treated 85 million”, 4 de abril de 2008. http://www.cuba-solidarity.org.uk/news.asp?ItemID=1288 (site consultado em 18 de julho de 2012).

[14] Felipe Pérez Roque, “Discurso del canciller de Cuba en la ONU”, op. cit.

[15] PNUD, Investigación sobre ciencia, tecnología y desarrollo humano en Cuba, 2003, p.117-119. http://www.undp.org.cu/idh%20cuba/cap6.pdf (site consultado em 18 de julho de 2012).

[16] Ministério das Relações Exteriores, “Celebra Operación Milagro cubana en Guatemala”, República de Cuba, 15 de novembro de 2010. http://www.cubaminrex.cu/Cooperacion/2010/celebra1.html (site consultado em 18 de julho de 2012) Operación Milagro, “¿Qué es la Operación Milagro?”. http://www.operacionmilagro.org.ar/ (site consultado em 18 de julho de 2012).

[17] Operación Milagro, «¿Qué es la Operación Milagro?», op. cit.

[18] Elizabeth Newhouse, “Disaster Medicine: U.S. Doctors Examine Cuba’s Approach”, op. cit.

[19] Ibid.

[20] Ibid.

[21] Raquel Marrero Yanes, “Cuba muestra indicadores sociales y demográficos de países desarrollados”, Granma, 12 de julho de 2012.

[Doutor em Estudos Ibéricos e Latino-americanos pela Universidade Paris Sorbonne-Paris IV, Salim Lamrani é professor encarregado de cursos na Universidade Paris-Sorbonne-Paris IV e na Universidade Paris-Est Marne-la-Vallée e jornalista, especialista nas relações entre Cuba e Estados Unidos. Seu libro mais recente é “Etat de siège. Les sanctions économiques des Etats-Unis contre Cuba” (“Estado de sítio. As sanções econômicas dos Estados Unidos contra Cuba”, em tradução livre), Paris, Edições Estrella, 2011, com prólogo de Wayne S. Smith e prefácio de Paul Estrade. Contato: [email protected] /Página no Facebook: https://www.facebook.com/SalimLamraniOfficiel

Fonte: Opera Mundi

Cuba, la isla de la salud

Por Salim Lamrani.

Desde el triunfo de la Revolución en 1959, el desarrollo de la medicina ha sido la gran prioridad del gobierno cubano, que ha transformado la isla del Caribe en una referencia mundial en este campo. En efecto, hoy día, Cuba es el país del mundo que cuenta con el mayor número de médicos por habitante.

En 2012, Cuba formó más de 11.000 nuevos doctores, los cuales cumplieron su carrera de seis años en sus facultades de medicina reconocidas por la excelencia de sus enseñanzas. Se trata de la mayor promoción médica de la historia del país, que ha hecho del desarrollo de la medicina y del bienestar social las prioridades nacionales. Entre estos médicos recién graduados, 5.315 son cubanos y 5.694 proceden de 59 países de América Latina, África, Asia e incluso de Estados Unidos, con una mayoría de bolivianos (2.400), nicaragüenses (429), peruanos (453), ecuatorianos (308), colombianos (175) y guatemaltecos (170). Así, en un año, Cuba formó casi el doble de médicos que la cifra total de la cual disponía en 1959(1).

En efecto, tras el triunfo de la Revolución Cuba sólo contaba con 6.286 médicos. De ellos 3.000 eligieron abandonar el país para ir a Estados Unidos, atraídos por las oportunidades profesionales que les ofrecía Washington. En nombre de la guerra política e ideológica que oponía al nuevo gobierno de Fidel Castro, la administración Eisenhower decidió vaciar la nación de su capital humano, hasta el punto de crear una grave crisis sanitaria(2).

Frente a ello, Cuba se comprometió a invertir masivamente en la medicina. Universalizó el acceso a los estudios superiores e instauró la gratuidad en todas las carreras. Así existen hoy día 24 facultades de medicina (frente a una sola en 1959) en trece de las quince provincias cubanas, y el país dispone de más de 43.000 profesores de medicina. Desde 1959 se formaron cerca de 109.000 médicos en Cuba(3). Con un médico por 148 habitantes (67,2 médicos por 10.000 habitantes, 78.622 en total) según la Organización Mundial de la Salud, Cuba es la nación del mundo mejor dotada en este sector. El país dispone de 161 hospitales y 452 policlínicas(4).

Para el año universitario 2011-2012, el número total de graduados en Ciencias Médicas, que incluye 21 perfiles profesionales (médicos, estomatólogos, enfermeros, psicólogos, tecnología de salud, etc.), se eleva a 32.171, tanto cubanos como extranjeros(5).

La Escuela Latinoamericana de Medicina de La Habana


Sed de la Escuela Latinoamericana de Medicina, La Habana. Wikimedia Commons

Además de los cursos brindados en las 24 facultades de medicina del país, Cuba forma a estudiantes extranjeros en la Escuela Latinoamericana de Medicina de La Habana. En 1998, tras el huracán Mitch que asoló América Central y el Caribe, Fidel Castro decidió crear la Escuela Latinoamericana de Medicina de La Habana (ELAM) –inaugurada el 15 de noviembre de 1999– con el fin de formar en Cuba a los futuros médicos del mundo subdesarrollado.

“Formar médicos prestos a ir adonde más se les necesita y a quedarse todo el tiempo necesario, tal es la razón de ser de nuestra escuela desde su fundación”, explica la doctora Miladys Castilla, vicerrectora de la ELAM(6). Actualmente, 24.000 estudiantes procedentes de 116 países de América Latina, África, Asia, Oceanía, y también de Estados Unidos (500 por promoción) cursan una carrera de medicina gratuita en Cuba. Entre la primera promoción de 2005 y 2010, 8.594 jóvenes doctores salieron de la ELAM(7). Las promociones de 2011 y 2012 fueron excepcionales con cerca de 8.000 egresados. En total, cerca de 15.000 médicos se formaron en la ELAM en 25 especialidades diferentes(8).

La Organización Mundial de la Salud rindió homenaje al trabajo de la ELAM:

“La Escuela Latinoamericana de Medicina recibe a jóvenes apasionados de los países en desarrollo y los devuelve a casa formados como médicos. De lo que se trata es de impulsar la equidad sanitaria […].

La ELAM […] ha hecho suya la premisa de la «responsabilidad social». La Organización Mundial de la Salud define la responsabilidad social de las facultades de medicina como la obligación de dirigir sus actividades de formación, investigación y servicios hacia la satisfacción de las necesidades prioritarias de salud de la comunidad, región o país al que tienen la obligación de servir.

La finalidad de la ELAM es formar a los médicos principalmente para que presten servicio público en comunidades urbanas y rurales desfavorecidas mediante la adquisición de competencias en materia de atención primaria integral, que van desde la promoción de la salud hasta el tratamiento y la rehabilitación. A cambio de la promesa no vinculante de ejercer en zonas desatendidas, los alumnos reciben una beca completa y un estipendio pequeño, y cuando se gradúan no tienen deudas escolares.

[En cuanto al proceso de selección] se da preferencia a los candidatos de bajos recursos, que de otra manera no podrían costearse los estudios médicos. «Como consecuencia, el 75% del alumnado proviene del tipo de comunidades que necesitan médicos, en particular de una gran variedad de minorías étnicas y pueblos indígenas» […].

Los nuevos médicos trabajan en la mayor parte de los países americanos, incluidos los Estados Unidos, varios países africanos y una buena parte del Caribe de habla inglesa.

Escuelas como la ELAM plantean un desafío al sector de la educación médica de todo el mundo para que adopte un mayor compromiso social. Como comenta Charles Boelen, quien fuera coordinador del programa de Recursos Humanos para la Salud de la OMS: «La idea de la responsabilidad social (merece) atención en todo el mundo, incluso dentro de los círculos médicos tradicionales… El mundo necesita con urgencia gente comprometida que genere los nuevos paradigmas de la formación médica»”(9).

La solidaridad internacional

Del mismo modo, en el marco de sus programas de colaboración internacional, Cuba forma también cada año cerca de 29.000 estudiantes extranjeros en ciencias médicas en tres carreras: medicina, enfermería y tecnología de salud, en ocho países del mundo (Venezuela, Bolivia, Angola, Tanzania, Guinea Bissau, Guinea Ecuatorial, Timor Leste)(10).

Desde 1963 y el envío de la primera misión médica humanitaria a Argelia, Cuba se ha comprometido a curar a las poblaciones pobres del planeta, en nombre de la solidaridad internacionalista y de los siete principios de la medicina cubana (equidad, gratuidad, solidaridad, accesibilidad, universalidad, corresponsabilidad y justicia)(11). Las misiones humanitarias cubanas se extienden por cuatro continentes y revisten un carácter único. En efecto, ninguna otra nación del mundo, incluso las más desarrolladas, ha tejido semejante red de cooperación humanitaria a través del planeta. Así, desde su lanzamiento, cerca de 132.000 médicos y otro personal de salud trabajaron voluntariamente en 102 países(12). En total, los médicos cubanos curaron a más de 85 millones de personas en el mundo y salvaron 615.000 vidas(13). Actualmente 31.000 colaboradores médicos ofrecen sus servicios en 69 naciones del Tercer Mundo(14).

Según el Programa de las Naciones Unidas para el Desarrollo (PNUD), “uno de los ejemplos más exitosos de la cooperación cubana con el Tercer Mundo es el Programa Integral de Salud para América Central, el Caribe y África”(15).

En el marco del Alianza Bolivariana para los pueblos de Nuestra América (ALBA), Cuba y Venezuela decidieron lanzar en julio de 2004 una amplia campaña humanitaria continental con el nombre de Operación Milagro. Consiste en operar gratuitamente a latinoamericanos pobres víctimas de cataratas y otras enfermedades oculares, pero que se encuentran en la imposibilidad de financiar una operación que cuesta entre 5.000 y 10.000 dólares según los países. Esta misión humanitaria se ha extendido a otras latitudes (África, Asia). La Operación Milagro dispone de 49 centros oftalmológicos en 15 países de América Central y el Caribe(16). En 2011, más de dos millones de personas de 35 países recobraron la vista(17).

La medicina de desastre

En cuanto a la medicina de desastre, el Centro por la Política Internacional de Washington, que dirige Wayne S. Smith, antiguo embajador estadounidense en Cuba, apunta en un informe que “no hay ninguna duda en cuanto a la eficiencia del sistema cubano. Sólo unos cubanos perdieron la vida en los 16 huracanes más importantes que golpearon la isla en la última década, y la probabilidad de perder la vida en un huracán en Estados Unidos es 15 veces superior a la de Cuba”(18).

Este informe agrega que

“contrariamente a Estados Unidos, la medicina de desastre en Cuba forma parte integrante de la carrera médica, y la educación de la población sobre el modo de actuar empieza en la escuela primaria […]. Incluso los niños más pequeños participan en los ejercicios y aprenden los primeros auxilios así como las técnicas de supervivencia, muchas veces a través de dibujos animados, así como el modo de plantar hierbas medicinales y encontrar comida en caso de catástrofe natural. El resultado es la adquisición de una fuerte cultura de prevención y de una preparación sin equivalente”(19).

Un índice de desarrollo humano elevado

Esta inversión en el campo de la salud –un 10% del presupuesto nacional– ha permitido a Cuba conseguir resultados excepcionales. Así, gracias, entre otros, a su medicina preventiva, la Isla del Caribe dispone de la tasa de mortalidad infantil –un 4,9 por mil (frente a un 60 por mil en 1959) – más baja de América –inferior a la de Canadá y Estados Unidos– y del Tercer Mundo. Del mismo modo, la esperanza de vida de los cubanos –78,8 años (frente a 60 años en 1959) – es similar a la de las naciones más desarrolladas(20).

Las más importantes instituciones internacionales alaban este desarrollo humano y social. Así, el Fondo de Población de las Naciones Unidas señala que Cuba “adoptó hace más de medio siglo programas sociales muy avanzados, que han posibilitado al país alcanzar indicadores sociales y demográficos comparables con los de países desarrollados”. El Fondo agrega que “Cuba es una evidencia que permite concluir que las limitaciones de las economías en desarrollo no constituyen necesariamente un obstáculo insalvable en el progreso del estado de salud, el cambio demográfico y el bienestar”(21).

Cuba sigue siendo una referencia mundial en el campo de la salud, particularmente para las naciones del Tercer Mundo. Demuestra que es posible alcanzar un alto nivel de desarrollo social, a pesar de los recursos limitados y de un estado de sitio económico sumamente severo que impone Estados Unidos desde 1960, con tal que se ubique al ser humano en el centro del proyecto de sociedad.

Notas:

(1) José A. de la Osa, «Egresa 11 mil médicos de Universidades cubanas», Granma, 11 de julio de 2012.
(2) Elizabeth Newhouse, «Disaster Medicine: U.S. Doctors Examine Cuba’s Approach», Center for International Policy, 9 de julio de 2012. http://www.ciponline.org/research/html/disaster-medicine-us-doctors-examine-cubas-approach (sitio consultado el 18 de julio de 2012).
(3) José A. de la Osa, « Egresa 11 mil médicos de Universidades cubanas », op. cit.; Ministerio de Relaciones Exteriores, «Graduados por la Revolución más de 100.000 médicos», 16 de julio de 2009. http://www.cubaminrex.cu/MirarCuba/Articulos/Sociedad/2009/Graduados.html (sitio consultado el 18 de julio de 2012).
(4) Organisation mondiale de la santé, «Cuba: Health Profile», 2010. http://www.who.int/gho/countries/cub.pdf (sitio consultado el 18 de julio de 2012); Elizabeth Newhouse, «Disaster Medicine: U.S. Doctors Examine Cuba’s Approach», op. cit.
(5) José A. de la Osa, «Egresa 11 mil médicos de Universidades cubanas», op.cit.
(6) Organisation mondiale de la santé, « Cuba ayuda a formar más médicos », 1 de mayo de 2010. http://www.who.int/bulletin/volumes/88/5/10-010510/es/ (sitio consultado el 18 de julio de 2012).
(7) Escuela Latinoamericana de Medicina de Cuba, «Historia de la ELAM». http://www.sld.cu/sitios/elam/verpost.php?blog=http://articulos.sld.cu/elam&post_id=22&c=4426&tipo=2&idblog=156&p=1&n=ddn (sitio consultado el 18 de julio de 2012).
(8) Agencia cubana de noticias, «Over 15,000 Foreign Physicians Gratuated in Cuba in Seven Years», 14 de julio de 2012.
(9) Organisation mondiale de la santé, «Cuba ayuda a formar más médicos», op. cit.
(10) José A. de la Osa, «Egresa 11 mil médicos de Universidades cubanas», op. cit.
(11) Ladys Marlene León Corrales, «Valor social de la Misión Milagro en el contexto venezolano», Biblioteca Virtual en Salud de Cuba, marzo de 2009. http://bvs.sld.cu/revistas/spu/vol35_4_09/spu06409.htm (sitio consultado el 18 de julio de 2012).
(12) Felipe Pérez Roque, «Discurso del canciller de Cuba en la ONU», Bohemia Digital, 9 de noviembre de 2006.
(13) CSC News, «Medical Brigades Have Treated 85 million», 4 de abril de 2008. http://www.cuba-solidarity.org.uk/news.asp?ItemID=1288 (sitio consultado el 18 de julio de 2012).
(14) Felipe Pérez Roque, «Discurso del canciller de Cuba en la ONU», op. cit.
(15) Programme des Nations unies pour le Développement, Investigación sobre ciencia, tecnología y desarrollo humano en Cuba, 2003, p.117-119. http://www.undp.org.cu/idh%20cuba/cap6.pdf (sitio consultado el 18 de julio de 2012).
(16) Ministerio de Relaciones Exteriores, «Celebra Operación Milagro cubana en Guatemala», República de Cuba, 15 de noviembre de 2010. http://www.cubaminrex.cu/Cooperacion/2010/celebra1.html (sitio consultado el 18 de julio de 2012) Operación Milagro, «¿Qué es la Operación Milagro?». http://www.operacionmilagro.org.ar/ (sitio consultado el 18 de julio de 2012).
(17) Operación Milagro, «¿Qué es la Operación Milagro?», op. cit.
(18) Elizabeth Newhouse, «Disaster Medicine: U.S. Doctors Examine Cuba’s Approach», op. cit.
(19) Ibid.
(20) Ibid.
(21) Raquel Marrero Yanes, « Cuba muestra indicadores sociales y demográficos de países desarrollados », Granma, 12 de julio de 2012.

[Doctor en Estudios Ibéricos y Latinoamericanos de la Universidad Paris Sorbonne-Paris IV, Salim Lamrani es profesor encargado de cursos en la Universidad Paris-Sorbonne-Paris IV y en la Universidad Paris-Est Marne-la-Vallée y periodista, especialista de las relaciones entre Cuba y Estados Unidos. Su último libro se titula Etat de siège. Les sanctions économiques des Etats-Unis contre Cuba, París, Ediciones Estrella, 2011, con un prólogo de Wayne S. Smith y un prefacio de Paul Estrade. Contacto: [email protected]
Página Facebook: https://www.facebook.com/SalimLamraniOfficiel
Fuente: Opera Mundi].

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