Crise migratória e disputa geopolítica: Como se produziu 4 milhões de refugiados sírios?

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Por Pedro Otoni.

Vivemos a maior imigração humana desde a II Guerra Mundial, milhões de refugiados arriscam a vida para chegar à Europa. No caso da parcela síria, a grande imprensa geralmente atribui este acontecimento à guerra naquele país, isso é correto; porém, sem destacar, evidentemente, quais as causas mais profundas da atual crise humanitária, a saber, a disputa entre EUA e China pelo controle energético do centro da Ásia.

O Estado Islâmico – grupo fundamentalista islâmico, de clivagem sunita, derivado do Exército Livre da Síria – ELS, com pretensões em estabelecer o califado (proclamado em junho de 2014) em território sírio e iraquiano – é mais uma peça, porém não a principal neste jogo.

A brutalidade como método é o fator determinante da grande expressão que assumiram em todo mundo. A prática de execução em massa, assassinatos gravados e transmitidos via internet, venda de mulheres prisioneiras, e destruição de cidades e monumentos históricos elevam o terror a um patamar extremo. O resultado é a fuga em massa da população civil síria, porém isso não é tudo.

Como o EI obteve tanto sucesso? O Iraque foi completamente invadido em 70 dias em 2003. Por que um grupo, promotor de tamanha selvageria, permanece em operação por mais de um ano?

Sim, os EUA possuem papel determinante na produção massiva de refugiados sírios. Destaquei em 2012 que a Doutrina Obama tem papel determinante na formação do ELS, organização de origem do Estado Islâmico. A desestabilização da Síria é fundamental para o controle do Oriente Médio, principalmente pelo papel que este país tem na difusão do nacionalismo-árabe, abertamente anti-imperialista.

No Entanto, a queda do regime sírio faz parte de uma estratégia ainda maior: a competição com a China pelo controle da exploração de petróleo na Ásia Central.  A China, em 2009, inaugurou um oleoduto (a nova rota da seda) que liga as reservas do Turcomenistão (passando pelo Cazaquistão e Uzbequistão) até a província de Xingjian (oeste chinês). Resposta ao oleoduto Baku-Tbilisi-Ceyhan (BTC) que liga o Mar Cáspio ao Mediterrâneo em 2006, consórcio formado pelos EUA, Inglaterra e Israel para a extração de petróleo do centro da Ásia. A China tem como tática a realização de tratados comerciais, já os EUA assumem uma abordagem militar para garantir os mesmos interesses. As guerras no Iraque e no Afeganistão foram apenas parte de um jogo ainda maior de controle das reservas petrolíferas asiáticas. O projeto norte-americano é a construção do “oleodutistão”, ou seja, um conjunto de territórios atravessados por uma rede de oleodutos, ao exemplo do já em operação BTC.

A desestabilização da Síria é um dos passos para o enfraquecimento do Irã (o principal obstáculo ao “oleodutistão”), e até então o principal aliado de Damasco e país sobre a esfera de influência chinesa. O Irã é a barreira que separa os territórios sobre controle de Washington no Leste (Afeganistão, Paquistão), com seus sócios minoritários no Oeste (Israel e Turquia), passando pela terra arrasada iraquiana. Ainda faz parte da estratégia derrotar o Hezbollah no Líbano e enfraquecer a influência russa no Cáucaso (vide o patrocínio ao separatismo na Chechênia e o conflito na Ossétia do Sul).

As famílias refugiadas sírias são a parte visível de um plano elaborado pelo capital petroleiro norte-americano e europeu. Enquanto esta estratégia permanecer continuarão surgindo novos Estados Islâmicos, Boko Harams e Al-Qaedas.

Foto: Reprodução/Brasil em 5

Fonte: Brasil em 5

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