Cozido de pedra não faz canja

Por Khader Othman.

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Conta a lenda que uma mulher viúva e  muito pobre não podia arrumar comida para seus filhos que choravam de fome. Para acalmá-los, ela colocava em uma panela algumas pedras, um pouco de água e deixava ferver. Pedia para os filhos esperarem a canja cozinhar. Logo o cansaço vencia e os meninos dormiam…

A Autoridade Nacional Palestina (ANP) está fazendo o mesmo que a viúva fez para seus filhos! Está enganando o povo palestino com um cozido de pedra! Espera que o cansaço vença o povo. Quer que o povo durma, não quer mobilizações e nem manifestações contra esta falida política de negociações. São 18 anos de negociações sem avanços e com muitos prejuízos. Mas o povo está bem acordado e com fome! Fome de justiça! Pois foi sob a  gestão da ANP que a soberania da Palestina foi violentada através da  instalação de 244 assentamentos judaicos – colônias ilegais – sobre o território palestino. Essa usurpação do espaço revela o fracasso dos Acordos de Oslo, enquanto alguns negociavam, as terras palestinas mudavam de dono…..

Agora, querem servir outro cozido! Será que o cozido de pedra de setembro se transformará em canja para os palestinos? A ANP acredita que sim, propaga que a ONU é a solução da questão Palestina….

Na realidade os palestinos não precisam de novas resoluções na ONU. Já existe uma juridicamente mais forte: a Resolução 181 que condiciona à criação do estado de Israel a criação do estado da Palestina. Uma  campanha mais lógica seria solicitar ativação da resolução 181 e não de uma nova resolução de reconhecimento.

Sabemos que  18 anos são mais que suficientes para se obter um acordo. A realidade denuncia que as negociações praticadas desde 1993 não são sérias e nem estão próximas de atingir um acordo. Isso lembra o que  Shamir já falava na época: “conversaremos 30 anos e não entregamos nada para os Árabes”

O reconhecimento do estado palestino pela ONU se transformou numa campanha midiática em que a reflexão se faz urgente. Por que, depois de 18 anos  de negociações, Israel e os Estados Unidos  são contra uma tática simbólica da ANP? Como entender este comportamento  da ANP, projetando no reconhecimento, uma vitória inédita e crucial! Onde o reconhecimento passou a ser o sinônimo de um estado Palestino independente…

Exigimos da ANP uma mudança no seu papel. Para ser respeitada, deve primar pela autonomia e independência do povo palestino. E, para isso, tem que enfrentar questões econômicas e políticas. O modelo econômico adotado pela ANP não tem autonomia.  Depende de ajudas internacionais e dos repasses tributários de Israel para poder pagar os salários e movimentar a economia. É refém deste arranjo financeiro. É necessário investir na economia produtiva, na capacitação dos palestinos, em incentivo local, como pequenas produções agrícolas, fortalecendo a produção palestina. Também urgente é a mudança da estrutura política da ANP. É inadmissível que apenas uma facção política decida o futuro de um povo inteiro.  O debate democrático se faz com a participação do povo e de todas as forças políticas da sociedade palestina.

A falta de seriedade visível nestes anos de negociações revelou a ausência da racionalidade e de responsabilidade  no tema  de dois estados para dois povos por  ambas as partes. Virou uma grande demagogia. Serviu apenas para nutrir a imprensa e a comunidade internacional. O descrédito do povo palestino é fruto destas teatrais conversações que não concretizou a independência da Palestina. A lenda da viúva não é para os palestinos. O povo palestino se alimenta de resistência! Uma Pátria não se mendiga, se constrói, se conquista e se protege e para chegar a isso a ANP precisa mudar. O respeito ao legado de luta histórica do povo palestino pelos seus direitos tem que ser a pauta do dia.

 

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