Coronavírus: as respostas para as perguntas mais buscadas pelos brasileiros no Google

Foto: GETTY Images

Por Camilla Veras Mota.

Com a pandemia causada pelo novo coronavírus veio uma enxurrada de informações sobre a doença que tem deixado muita gente confusa.

Entre as perguntas mais buscadas pelos brasileiros no Google desde o dia 26 de fevereiro, quando foi confirmado no Brasil o primeiro caso de covid-19, há desde dúvidas sobre a origem do vírus a questões de ordem prática, como o que fazer caso os sintomas apareçam.

A ferramenta do Google Trends mostra como cada país tem buscado sobre a doença — os americanos, por exemplo, têm pesquisado, entre outros assuntos, sobre os cheques que o governo enviará aos cidadãos para aliviar o impacto econômico negativo da pandemia; os alemães, sobre como o novo coronavírus surgiu e o que ele faz no nosso corpo.

A seguir, a BBC News Brasil responde a algumas das dúvidas mais frequentes dos brasileiros no buscador.

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Imagem: REPRODUÇÃO GOOGLE

O que é, de onde veio e como surgiu o coronavírus?

A humanidade conhece a família dos coronavírus já há bastante tempo. Ela foi identificada pela primeira vez em 1937 e descrita especificamente como corona em 1965, quando se conheceram suas características morfológicas.

O nome “corona” veio a partir da observação do vírus no microscópio: sua imagem se assemelha à de uma coroa.

Existem dezenas de tipos de coronavírus — a maioria deles infecta apenas animais. Mas coronavírus foram causa de duas epidemias recentes que provocavam síndromes respiratórias graves em seres humanos: a Síndrome Respiratória Aguda Grave (Sars), de 2003, e a Síndrome Respiratória do Oriente Médio (Mers), de 2015.

A atual pandemia é causada por um coronavírus novo, batizado de Sars-Cov-2, que começou a infectar humanos na cidade de Wuhan, na China, em dezembro de 2019.

Isso significa que o vírus não foi criado em laboratório. Um estudo da Nature Medicine de 17 de março chama atenção para isso.

Nele, cientistas fizeram uma análise do genoma do vírus e da forma como ele interage com as nossas células e viram que isso acontece de uma maneira que a Ciência ainda não havia previsto — o que torna remota a chance de que algum cientista o tenha desenvolvido.

Quando entra no nosso corpo, o novo coronavírus se acopla a uma proteína presente na superfície das nossas células chamada de ECA-2 como uma chave em uma fechadura.

É por ali que ele consegue entrar e fazer com que as nossas células trabalhem para ele, replicando seu material genético e infectando nosso corpo.

Como se pega o coronavírus, quais os sintomas e como se proteger?

O novo coronavírus é transmitido quando alguém infectado tosse ou espirra, por exemplo, expele gotículas contaminadas com o vírus e essas gotículas acabam entrando no nosso sistema respiratório.

Essas gotículas também podem recair sobre superfícies — o banco do ônibus, o móvel de casa —, e qualquer pessoa que coloque as mãos sobre elas e depois as leve às mucosas do corpo (boca, nariz, olhos) também pode ser infectado.

Os principais sintomas da covid-19 são tosse, febre e falta de ar. Mas o que isso quer dizer?

A febre é considerada apenas quando a temperatura corporal estiver igual ou superior a 37,8ºC — aferida com termômetro.

A tosse, em geral, é seca, sem muita secreção.

“A falta de ar pode ser um conceito bem subjetivo, que varia de uma pessoa para outra”, ressalta o médico pneumologista do HCor Fernando Didier.

Enquanto alguns relatam algo parecido com uma sensação de afogamento, por exemplo, outros chamam a falta de ar de cansaço, quando o peito chia.

Mas o especialista chama atenção para um detalhe: repare se você tem maior dificuldade para realizar esforços diários aos quais está acostumado — subir uma escada, varrer o quintal e até tomar banho.

Se você tiver os outros sintomas característicos da covid-19 e observar que está perdendo o fôlego mais facilmente fazendo suas atividades do dia a dia, esse pode ser um sinal de que a doença está evoluindo para uma pneumonia.

Apesar de mais recorrentes, tosse, febre e falta de ar não são os únicos sintomas: alguns pacientes infectados tiveram diarreia, congestão nasal, mal estar, cansaço, dor de cabeça; outros não apresentaram febre, por exemplo.

Mais recentemente, também tem se colocado a perda do paladar e do olfato como possível sintoma de covid-19. A Sociedade Britânica de Otorrinolaringologia chamou atenção para isso em um comunicado.

A chamada ageusia, perda do paladar, e anosmia, perda do olfato, foram observadas em pacientes na Coreia do Sul, na China, na Itália, na Alemanha e, segundo Didier, do HCor, também têm se manifestado aqui no Brasil.

“Mas são sintomas transitórios”, diz. “Depois que o paciente se recupera eles desaparecem.”

O que fazer diante de tantas possibilidades de sintomas?

A recomendação do Ministério da Saúde é que qualquer um que apresente sintomas de gripe fique em isolamento domiciliar por 14 dias e só procure o hospital se o quadro piorar, se houver falta de ar.

Isso é para evitar que o sistema de saúde seja sobrecarregado.

O novo coronavírus infecta muita gente ao mesmo tempo — entre outras razões, porque ele é transmissível mesmo quando o sujeito infectado não apresenta sintomas.

É possível estar infectado mesmo sem apresentar qualquer um dos sintomas listados anteriormente, o que facilita o contágio.

Essa alta transmissibilidade do novo coronavírus se reflete nos números: em três meses, mais de um milhão de pessoas no mundo foram diagnosticadas com covid-19 e mais de 60 mil morreram por causa da doença.

O Ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, disse em uma coletiva que o novo coronavírus não ataca apenas o corpo, mas também o sistema de saúde.

O comentário foi feito quando o titular da pasta explicava sobre a importância das medidas de distanciamento social. Quando se reduz a mobilidade e o contato entre as pessoas, um paciente infectado que passaria o coronavírus para outros seis, por exemplo, transmite apenas para duas.

E, com um curva de infecção mais suave, maior a probabilidade de que os leitos de UTI disponíveis deem conta de tratar os doentes.

O que fazer se estiver com os sintomas leves?

O Ministério da Saúde recomenda o isolamento domiciliar e, em paralelo, aponta como referência para esses pacientes as unidades básicas de saúde, as UBS e postos de saúde.

Os hospitais deveriam ficar restritos àqueles que apresentarem sintomas mais graves — a falta de ar.

O médico pneumologista Fernando Didier, do HCor, faz uma recomendação: o ideal, para quem apresenta sintomas leves, é tentar administrá-los em casa, repousando, tomando bastante líquido.

Procure as unidades básicas se não tiver alívio dos sintomas — uma dor de cabeça muito forte que não vai embora, dor intensa no ouvido.

Até porque você pode estar sendo acometido por outro tipo de síndrome gripal, causada por outro vírus, e pode precisar de um medicamento específico para aliviar os sintomas.

Como idosos e pessoas com doenças crônicas estão no grupo de risco para a covid-19, também deveriam recorrer à UBS ou a um posto de saúde se identificarem sintomas da doença, ainda que mais leves, para que sejam acompanhados e orientados.

E se o dignóstico de covid-19 for confirmado?

Segundo o Ministério da Saúde, o paciente deve ser isolado dos demais moradores da casa.

Isso vale também para os casos suspeitos, já que no Brasil há uma escassez de testes e muitos casos leves não estão sendo diagnosticados.

O ideal é que a família tome todas as precauções para evitar que outras pessoas que dividem o mesmo espaço fiquem doentes. Assim, a pessoa com sintomas deve transitar pelos espaços compartilhados de máscara e evitar partilhar utensílios domésticos — talheres, copos, toalha, cadeiras.

Ela deveria ainda dormir em um quarto separado, com boa ventilação, que permanecesse com a porta fechada.

Para milhões de brasileiros, entretanto, não é trivial seguir essas recomendações, seja porque dividem o imóvel com muitos parentes ou porque vivem em uma casa de um cômodo só.

E é aí que as medidas de prevenção se tornam ainda mais importantes: lavar as mãos com frequência, evitar levá-las aos olhos, nariz e boca, usar o álcool gel para higienizar as mãos quando não for possível lavá-las e manter as superfícies da casa limpas.

Na maioria dos casos, o corpo consegue lutar contra o novo coronavírus e a recuperação acontece sem a necessidade de tratamento específico.

E se começar a sentir falta de ar?

Procure a rede hospitalar, um pronto socorro. Lá, os médicos vão auscultá-lo, checar sua oxigenação sanguínea para avaliar se ela está dentro dos parâmetros de normalidade e eventualmente fazer uma tomografia dos pulmões para avaliar se há algum tipo de comprometimento.

Dependendo do resultado, se confirmado um quadro de pneumonia, por exemplo, os médicos podem optar pela internação.

O que fazer na quarentena?

Ao lado das perguntas sobre o vírus e sobre a doença, essa é uma das mais buscadas pelos brasileiros no Google desde o fim de fevereiro.

A quarentena no Brasil, ao contrário de outros países, não proíbe as pessoas de saírem de casa. A recomendação é que se evite o máximo possível, mas as pessoas ainda podem ir ao supermercado e à farmácia, por exemplo.

Assim, a maioria tem passado muito mais tempo em casa. Tem muita gente aproveitando para fazer aquela faxina na casa, telefonar mais para os familiares, fazer videochamadas entre os amigos — há vários aplicativos com esse tipo de função. E tem gente acumulando o teletrabalho com os cuidados com filhos e a casa.

Para se divertir, para quem gosta de arte, a oferta é variada. O Google Arts & Culture, por exemplo, reúne acervos de vários museus pelo mundo. Dá para fazer visita virtual percorrendo os corredores de vários deles e olhar algumas obras no detalhe, em alta definição.

Filarmônica de Berlim, por sua vez, liberou todo o seu conteúdo. Com um cadastro simples dá para ter acesso a mais de 600 concertos realizados nas últimas seis décadas.

Várias instituições de ensino também abriram o conteúdo online para quem quer aproveitar o tempo livre para se qualificar: Senai, Casa do Saber, a escola de negócios da ESPM e a Saint Paul, a FGV, por exemplo.

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