Coronavírus: a antítese do neoliberalismo. Por Jean Carlos Carlesso.

Imagem StockSnap por Pixabay.

Por Jean Carlos Carlesso, para Desacato. info.

O ser humano, enquanto indivíduo, tem uma característica universal de se esquecer rápido e de não prestar atenção nas pedras que tropeça. Tanto é que está aí o ditado popular que diz que “o ser humano é o único animal que tropeça duas vezes na mesma pedra“.

A crise provocada pelo Coronavírus está comprovando isso, pois a massiva maioria dos noticiários convencionais se dedica a reportar os efeitos da doença para a saúde pública e a economia.

Assim, podemos dizer que, fazendo uma apertada síntese, todas as notícias giram em torno de duas verdades: a de que o isolamento social é a única medida efetiva cientificamente comprovada para combater o alastre da doença; e que o Estado precisa intervir na economia para salvar empresas, empregos e a renda dos trabalhadores para que não morram de fome.

Diante dessas verdades, eu não consigo deixar me surpreender toda a vez que vejo figuras como Donald Trump, Angela Merkel e Boris Johnson defendendo políticas de intervenção do Estado na economia para resgatar empresas, afinal, são eles os grandes nomes representativos do sistema capitalista em vigor no mundo, e que tanto defendem que o Estado não deve se meter nos negócios empresariais, pois o mercado deve correr livre sem qualquer intervenção pública.

Mas fico ainda mais surpreendido em ver o Ministro da Economia do Brasil defender a intervenção do Estado brasileiro na economia para salvar empresas e (aqui não me surpreendo) BANCOS. Ora, não era ele o grande nome que salvaria a economia? Não era ele quem defendia a independência do mercado? Não era ele quem dizia que a mão invisível do mercado resolveria todos os problemas? Não era ele o príncipe do Estado Mínimo? Não era ele quem dizia que o Estado é um grilhão preso nas pernas do empresário que tenta gerar riqueza?

Ainda mais revoltado fico quando vejo que nosso Ministro da Saúde, Paulo Henrique Mandetta, liderando tal pasta crítica, no passado, foi um gladiador das grandes empresas vendedoras de planos de saúde e um crítico da gratuidade universal do SUS e do programa “Mais Médicos”. Mais um defensor do Estado Mínimo nas rédeas do Estado brasileiro e que agora diz que o Estado precisa salvar a todos.

Pessoas como Guedes, Mandetta e Cia. sempre lutaram pelo Estado Mínimo (ou até mesmo o Estado Zero, que hoje é buscado por nosso ineficaz Presidente da República). Mas se o Estado Mínimo é tão bom, por que agora é o ESTADO que tem que salvar as empresas? Porque o ESTADO tem que salvar os Bancos?

Expressando as ideias do economista Eduardo Moreira, na hora da fartura concentra-se a riqueza, na hora das dificuldades se socializa o prejuízo.

Por isso escolhi o subtítulo para este artigo “a antítese do neoliberalismo” para o coronavírus, pois é este vírus que está mostrando que o capitalismo, em especial na sua versão neoliberal, não quer saber de salvar vidas, não quer

saber de salvar empregos, não quer saber de distribuir renda, ele só quer é LUCRO, concentrar a riqueza, e diminuir prejuízos. Essa prova da ineficiência do neoliberalismo já foi produzida inúmeras vezes na história, porém, a do coronavírus é a atual prova, a qual devemos explorar para mostrar para os indivíduos (com suas memorias curtas) da importância de combatermos esse sistema econômico perverso.

Ainda, sempre que esse sistema se depara diante de sua auto-aniquilação ele busca ajuda do antes desprezado Estado! Querem prova maior de que o capitalismo selvagem é impossível, leiam a realidade! Estão agora os barões da economia brasileira implorando pelo auxílio do Estado, e os Bancos estão enchendo suas carteiras com dinheiro público durante essa crise para emprestar aos miseráveis trabalhadores brasileiros a juros extorsivos, que terão que gastar uma vida de trabalho mal pago para “honrar” seus compromissos.

Essa lógica para o grande capital é perfeita, pois o Estado serve como uma empresa de seguro barata, que quando seu lucro está em xeque vem a “seguradora” para lhe resgatar, e com um bônus de fidelidade, sem nenhuma franquia para desembolsar!

O Neoliberalismo é um fracasso e ceifará a vida de muitos brasileiros, pois nos últimos anos se dedicou a destruir a capacidade financeira do Estado e se prestou para destruir a capacidade de prestar serviços públicos de qualidade, e agora ainda recebe uma “mãozinha” nada invisível do Estado.

Que essa crise sirva de lição para vermos que precisamos de um Estado Forte (não confundir com Autoritário, Estado este que é objetivo de nosso atual mandatário), precisamos cobrar a conta daqueles que concentraram historicamente a incomensurável riqueza fruto do trabalho de nossos irmãos brasileiros. São eles, os usurpadores das riquezas dos trabalhadores, que devem pagar a conta, pois do contrário muitos morrerão para que poucos permaneçam no topo da pirâmide social.

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Jean Carlos Carlesso é Advogado, de São Miguel do Oeste/SC. Formado em direito pela Universidade do Oeste de Santa Catarina – UNOESC – e especialista em direito penal e processo penal pela Faculdade de Direito Damásio de Jesus.

 

A opinião do/a autor/a não necessariamente representa a opinião de Desacato.info.

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