Contratação uberizada de professores por aplicativo já é realidade

Plataformas de cadastramento de professores para servir ao processo contínuo de substituição tanto na educação básica quanto superior precarizam trabalho docente

Foto: Rawpixel

Sistema similar ao Uber está cadastrando docentes para atuarem como substitutos na rede privada e pública.  O uber-docente abriu cadastro no site do aplicativo Prof-e, com inscrição para professores. Na página da empresa diz o seguinte, “será um Processo Seletivo Simplificado Nacional para Formação de Cadastro de Professores.

Os professores aprovados no processo seletivo serão chamados para substituir aulas presenciais (se for na cidade onde reside) ou online em qualquer cidade do Brasil, com EAD invertido (alunos na escola e Professor a distância).  Todos os candidatos inscritos terão acesso gratuitamente a um curso de 80 horas de formação para docentes em Metodologias Ativas, Didática, Metodologia do EAD e como gravar e transmitir suas aulas com seu próprio equipamento (celular ou notebook)”.

A Prof-e se apresenta como uma startup educacional que tem foco na “maior dor das escolas públicas e privadas” a falta de professores e aulas vagas.

PRECARIZAÇÃO DO TRABALHO – Marcio Pochmann, economista especializado no mundo do trabalho,  pesquisador e professor da Unicamp e ex-presidente do Ipea, de 2007 a 2012, afirma que trata-se de precarização do trabalho do professor. Em sua conta no twitter ele destaca que, após ser autorizado esse tipo de contratação pelo governo Temer há dois anos com a Lei Nº 13.467/17 (da Rerforma Trabalhista), “começou a instalação da uberização nacional da docência privada”, para ele, trata-se da antessala da educação pública , a ocorrer por “cadastramento de professores” para servir ao processo contínuo de substituição em aulas presenciais ou não, em qualquer local do país.

PUBLICIDADE – O anúncio diz que os docentes terão acesso também ao aplicativo Prof-e, e receberão pela aula ministrada integralmente, sem nenhum desconto, diretamente da Unidade Escolar que solicitar a aula. Caso a unidade não pague o valor da aula, a “Edtech Prof-e garante o pagamento aos Professores”.

UBER EDUCACIONAL – O próprio gestor do aplicativo define o serviço como “uma espécie de Uber Educacional” em que Professores aprovados no Processo Seletivo tem a garantia de receber pelas aulas que ministrarem (presencial ou a distância). Conforme o site qualquer unidade escolar, de Ciclo II, Ensino Médio, Técnico, e IES (Superior) do Brasil cadastrada no serviço pode solicitar a Aula por meio de Plataforma Web responsiva e os Professores habilitados na aula solicitada, são chamados pelo aplicativo, e podem aceitar ou não. Da mesma forma que uma chamada de Uber.

Obviamente os docentes que quiserem fazer parte da plataforma precisam pagar um valor para a inscrição, que é de R$20,00 para o ensino fundamental Ciclo II (todas as disciplinas); R$30,00 para o ensino médio e técnico (todas as disciplinas) e R$ 40,00 para instituições de ensino superior – Ies (todas as disciplinas).

Não há prova nem classificação de candidatos. O resultado é publicado como aprovado ou não aprovado, sendo avaliados os requisitos mínimos que constam no Edital. O prazo de inscrição encerra em 7 de fevereiro.

Os candidatos preenchem o formulário, postam os documentos solicitados e gravam uma vídeo-aula de até 5 minutos em alguma disciplina de sua graduação ou licenciatura como se fosse se candidatar ao Big Brother.

O valor da hora aula será o que a Unidade Escolar solicitante paga para seus Professores. A Unidade Escolar (do ciclo II até superior) pode fazer filtros e chamar apenas os docentes específicos que necessita, tais como: Licenciados, Especialistas, Mestres ou Doutores. Quando o Docente receber o chamado no aplicativo já vem com o valor da hora aula ofertada pela UE solicitante.

PRESERVAÇÃO DOS DIREITOS – O professor Marcos Fuhr, da direção do Sindicato dos Professores do Ensino Privado do RS (Sinpro/RS), diz que “esse formato de contratação é um absurdo e que o Sindicato já está estudando formas de atuar diante de eventuais irregularidades ocorridas no Rio Grande do Sul e outros descumprimentos da legislação vigente, buscando respeito aos pisos salariais e manutenção dos direitos dos professores”.

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