Continua vivo, atuante e incomodando

Por Francisco Costa.

Os livros me apresentaram um homem bem nascido, de classe média alta, pronto para usufruir as benesses da classe dominante.

Inteligentíssimo, fez a sua formação acadêmica nas Universidades de Bonn e Berlin, tornando-se filósofo, economista, jornalista e sociólogo.

Após peregrinar por diversos países, sempre sendo expulso, por causa das suas ideias, tornou-se um apátrida, um ser sem nacionalidade porque do mundo.

Fez a opção voluntária pela miséria, estudando e escrevendo quase que dia e noite, longe do mercado de trabalho formal, remunerado, casando-se e tendo sete filhos, só três sobreviventes, porque os demais com destino das crianças nordestinas, no século passado.

Odiado pelos ricos, pelos que ele chamou burgueses, os exploradores da classe trabalhadora, contou apenas com a ajuda de um amigo íntimo, companheiro de todas as horas e parceiro intelectual.

Pois é este homem o teórico divisor de águas da humanidade, citado a todo momento e em todos os lugares, seja por concordância ou discordância das suas ideias, com a sua obra só não é mais lida e vendida que a Bíblia e o Corão, livros cujas autorias se atribui a Deus, e aí a explicação.

Dentre as verdades muito bem estudadas e muito bem provadas, inclusive matematicamente, deixadas por ele, estão:
1) O Estado, como está organizado, visa defender e perpetuar os interesses da classe dominante, a proprietária dos meios de produção (fábricas, comércio, terras…);
2) O desenvolvimento da humanidade se dá em função das lutas de classe, da divergência de interesses entre os que detêm os meios de produção e os que de si só têm a capacidade de produzir trabalho, para vender aos da classe dominante;
3) Aos vendedores de trabalho, ele chamou proletários, palavra derivada de prole, filhotes, já que a característica maior, quase única, do trabalhador é fazer mais trabalhadores; e aos donos dos meios de produção, chamou de burgueses, palavra derivada de burgo, cidade, povoado, já que as atividades capitalistas, então incipientes, exigiram a concentração dos trabalhadores, tirando-os do campo e trazendo para os centros urbanos;
4) Ele nos mostrou que o que caracteriza a espécie humana é a sua capacidade de transformar a natureza, fazendo-a matéria prima de objetos úteis, utilizados pelos homens, fabricados pelos proletários, pelo seu trabalho, mas usurpado pelos burgueses;
5) Mostrou que o que caracteriza cada objeto, cada coisa, é o trabalho incorporado a ele, na transformação de matéria prima, natural, para produto final, utilitário;
6) A esse trabalho expropriado ele chamou mais-valia, descrevendo matematicamente como acontece a expropriação;
7) Como filósofo também foi um divisor de águas, apartando o idealismo, que acredita serem as idéias humanas os agentes de modificação do mundo, do materialismo dialético, que afirma ser o trabalho, a sua produção e a sua expropriação, o motor da História, da evolução das sociedades, afirmando: “até agora coube à Filosofia descrever o mundo. A partir de agora, cabe modificá-lo”;
8) Ainda hoje as suas ideias são ferozmente combatidas pela burguesia, por motivos óbvios, que nas escolas e templos religiosos impõe as “verdades” que convêm à classe dominante, cooptando o proletariado, induzindo-o a ser deixar explorado, voluntariamente, opondo-o a Deus, quando na verdade o que ele afirmou foi “a religião é o ópio do povo” e não “Deus é o ópio do povo”, o que podemos perceber no fausto e na riqueza das cúpulas de todas as religiões, também expropriadoras do trabalho e aliadas da classe dominantes, impondo a filosofia da acomodação, do aceitar sem resistência, em nome de compensações futuras, após a morte;
9) Observando a evolução das diversas sociedades, concluiu que haverá um dia em que todo o trabalho coletivo será produtor de benefícios coletivos, sem expropriados e expropriadores, quando não haverá mais classes sociais, com todos produzindo para todos, para o bem comum;
10) A esta sociedade chamou de comunista, porque com tudo comum, sendo o trabalho uma atividade comum, resultando em benefício comum para homens comuns porque iguais, não diferenciados, apartados em explorados e exploradores, com todos como se fossem um.

Assim como no dia 25 de dezembro comemoramos o nascimento de Cristo, um divisor de águas místicas, religiosas, nos dizendo ao espírito, hoje, 14 de março, comemoramos o nascimento de um outro divisor de águas, nos dizendo do cotidiano, do mundo da matéria, no qual estamos.

Esse homem se chama Karl Marx.

Foi num 14 de março, em 1883, que ele nos deixou, mas as suas idéias ficaram, não morreram e jamais morrerão, porque, assim como por mais materialista, por instinto o homem duvida, mesmo sem nunca ter ouvido falar em Marx, cada proletário, por instinto, é um marxista, um revolucionário ativo ou esperando uma voz que o acorde e liberte.

Via Facebook

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