Contestado – 100 anos da Insurreição Xucra

Em uma aquarela de divinas cores um lindo visual na passarela vai surgir… O véu da noite será o cenário, onde a coroa que impera em nosso pavilhão verde, vermelho e branco vai girar e reluzir.

Sua luz vai nos levar ao Oeste de Santa Catarina em busca dos personagens e histórias do Contestado. E assim vamos lembrar reviver e sentir em plena folia um dos episódios mais marcantes da nossa história. Um dos mais importantes movimentos sociais do País, que na verdade foi uma Guerra Civil.

Esse é nosso enredo! E nele vamos homenagear o Profeta João Maria de Agostinho, que de 1844 a 1870, peregrinou e agrupou milhares de crentes, reforçando o Messianismo coletivo, e que até hoje é tido como Santo Milagreiro. Vamos recriar o universo da época de um episódio bélico de sangrentos combates entre a população cabocla, os poderes estadual, federal dos estados do PR e SC, no começo do século 20.

Voltar ao ano de 1912. Quando a Vila de Lages e os municípios de Curitibanos, Campos Novos e Canoinhas, estavam sob autoridades Catarinenses, e Rio Negro Vitória e Palmas, sob as autoridades Paranaenses. As estações ao longo da ferrovia ficavam em Nova Galícia, Calmon, São João, Rio Caçador e Rio das Antas. A população urbana era pouca, as atividades eram nas fazendas, latifúndios do planalto.

Numerosas famílias de caboclos se concentravam em torno dos fazendeiros e coronéis, nas matas, onde o homem de pele-parda aceitava o desafio da natureza, se dedicava as pequenas lavouras e a extração da madeira e erva-mate. Até a “colonização”, chegar…

Onde anda o som alegre do caboclo?

Cadê as crianças brincando?

As cabanas estão vazias…

E as mulheres lutando na guerra.

São os órfãos da Serra…

Crianças que estavam sem pai nem mãe.

Abandonadas a própria sorte.

Nada mais restava…

A rebeldia das massas brasileiras encontra no seu patrimônio cultural formas arcaicas de expressão, sempre estão acompanhadas de uma afeição messiânica.

Era uma vez…

Um lugar onde vivia um povo miserável que a terra não lhe pertencia legalmente. O messianismo reinava, na verdade como expressão da cultura de uma nova reordenação social, através de ação pela soberania. Na verdade esta religiosidade vem acompanhada de crenças populares praticadas desde sempre e que foram as fontes de inspiração as novas lideranças na guerra Santa a fazer uma sociedade mais igualitária.

A atitude revolucionária assim Identificada pelos latifundiários e as autoridades regionais que logo vem interceder.

A demora da legalização desenhava movimentos populares de ocupar as terras de ninguém pela população cabocla e fazendeiros.

A construção de uma ferrovia e de uma multinacional madeireira provoca a expulsão deste povo da “sua” terra. O dragão vem surgindo sobre os trilhos. Derrubaram suas matas, humilharam sua gente querendo matar seus sonhos e ainda os enxotaram de seu lugar.

Ocorre que esta gente, não é manada, de gados muares, era um povo bravo capaz de exigir respeito e dignidade, mais que isso um povo capaz de lutar com muita fé.

Sua grande arma era a fé e não lutaram só pela terra, os caboclos do Contestado defendiam um modo de vida alternativa que construíam vivendo e trabalhando nesta terra, sem dinheiro, sem polícia e sem ladrão, mas também sem fome e sem prostituição.

Estas coisas ruins já estavam logo ali, na vizinhança, na casa dos endinheirados.

A região povoou rapidamente, muitas clareiras na mata, famílias queriam um pedaço de terra e organizar uma forma econômica independente de viver, mas foram jogados na ilegalidade, eles diziam que clamavam a monarquia e o messianismo, mas porque era republicano o privilégio latifundiário que levantava a bandeira feita a ferro e fogo.

O messianismo reina…

O imigrante era bem- vindo e as terras só a eles ceder, para banir o caboclo.

A reencarnação de São Sebastião e os Doze Pares de France eram seus escudos e não tinha cowboy americano nem exército que lhe tirasse a vontade de lutar e acreditar em dias melhores.

A araucária é o templo, eles podem derrubar a madeira, mas não derrubam a fé do caboclo corta a árvore, mas a raiz representa a crença popular.

Fofoca, intriga de coronéis. Se eles podiam ir de trem e de avião o caboclo ia com fé, andando ou de mula, mas não era fácil de derrubar.

Os caboclos eram gente destribalizada, se juntaram brancos, pretos e índios que não sendo nada formaram o Homem do Contestado, caboclo firme, guerreiro decidido a matar e a morrer para seu chão defender, pois aquela extensão de terra, suja de sangue era uma exuberância e mistério que fizeram com que o Contestado entrasse na história como um reino e seus mitos, onde tinha espaço para as lendárias mulheres guerreiras que faziam curas batizados, casamentos e vidências sobre o futuro, gente anônima e de grande importância na história.

Raízes históricas…

Santa Catarina carrega com orgulho a memória desta grande revolta cabocla. Mostrou a bravura de um povo que lutou com fé e esperança, acreditando que aqui se poderia viver com paz, justiça e alegria.

São criados os quatro primeiros e grandes municípios: Cruzeiro, Chapecó, Porto União e Mafra. E agora um Oeste com seu brilhante futuro, um verdadeiro Eldorado, celeiro deste estado que faz sua gente feliz. E a Insurreição Xucra, 100 anos depois com Os Protegidos da Princesa se transformará neste carnaval.

MARTHA GONZAGA (Autora do Enredo)

Protegidos da Princesa: http://www.protegidos.com.br

1 COMENTÁRIO

  1. Estou informada que o professor doutor em Geografia e Meio-Ambiente, Nilson Cesar Fraga, será destaque em carro alegórico no desfile da Protegidos da Princesa, devido sua profunda pesquisa sobre o Contestado. Entre outras coisas, o prof. Nilson Cesar Fraga é membro do Instituto Histórico e Geográfico do Paraná e sócio correspondente do Instituto Histórico e Geográfico de Santa Catarina.
    Parabéns a mais um catarinense ilustre!
    Urda Alice Klueger

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