Consciência de classe

ConstruçãoPor Julio Rudman.

Português/Español.

Quando éramos jovens sonhávamos com construir. Alguns, poucos, tornaram-se arquitetos ou engenheiros. A maioria, seguimos distintos itinerários, mas convencidos de que amor e luta eram, são, pássaros de um mesmo céu. Por isso suas coxas foram os pilares de um prédio maravilhosamente sentido e pensado.

Depois chegou aquele profundo texto de Chico Buarque, feito canção, que redime o martírio do trabalhador dos tijolos. Canção que ainda nos emociona e que nunca conseguimos decorar pela fenomenal complexidão de sua estrutura literária.

No cinema, Elio Petri nos contou que “A classe operária vai ao Paraíso”, de mãos dadas com Gian María Volonté, mas em 1971 já sabíamos que o Paraíso é mais do que nada um invento de um best seller que leva mais de dois mil anos de vigência. Então nos chegou a morte, a tragédia genocida e os trabalhadores resistiram como puderam, mas resistiram.

Conto-lhe estes pareceres porque o sol (hoje opacado por cinzas vulcânicas) deixou de ser uma metáfora de luz, embora vários revelem as suas verdadeiras intenções, como dizem as velhas.

No passado 2 de outubro, o jornal Los Andes, o nosso o clarinete pré-histórico, publicou uma matéria, assinada por Miguel Ángel Flores, com uma título enigmático: “Cortes de fitas complicam obra privada”. Tanto alarde literário me chamou a atenção e sucumbi à narração.

O colega florido afirma que os trabalhadores da construção são em redor de 16.000 em Mendoza. Uns 9.000 deles trampam em obras públicas (as inaugurações emascaram esse “corte de fitas” neoborgiano). Mas o efeito colateral é que esses 9.000 ganham um 25% a mais que os que estão conchavados por empresas privadas.

Ou seja, o que incomoda a estas últimas é que a classe operária não quer ir ao Paraíso, senão melhorar seu nível de renda. E, claro, isso é contagioso e os pobres patrãozinhos não conseguem convencer os trabalhadores de que queiram ganhar uns tostões a menos. Sempre ingratos os cabezinhas*, sempre procurando as comodidades, sempre vadiando e tentando entorpecer o patriótico empresariado nacional (o excesso de gerúndios é uma homenagem explícita a meu querido Oscar D’Ángelo).

Em vez de nivelar por cima, os caras mostram uma acabada consciência de classe. Perversa, pútrida, egoísta. Um nojo, como disse Fito.

*Refere-se aos argentinos do interior que, por sua mistura com indígenas, têm o cabelo preto e não eram bem-vistos pelos portenhos.

Versão em português: Tali Feld Gleiser.

Conciencia de Clase

Por Julio Rudman.

Cuando éramos jóvenes soñábamos con construir. Algunos, pocos, se hicieron arquitectos o ingenieros. Los más, seguimos itinerarios distintos pero convencidos de que amor y lucha eran, son, pájaros de un mismo cielo. Por eso tus muslos fueron los pilares de un edificio maravillosamente sentido y pensado.

Luego llegó aquel profundo texto de Chico Buarque, hecho canción, que redime el martirio del trabajador de los ladrillos. Canción que aún nos emociona y que nunca pudimos aprender de memoria por la fenomenal complejidad de su estructura literaria.

En el cine, Elio Petri nos contó que “La clase obrera se va al Paraíso”, de la mano de Gian María Volonté, pero en 1971 ya sabíamos que el Paraíso es otro invento más de un best seller que lleva más de dos mil años de vigencia. Entonces nos llegó la muerte, la tragedia genocida y los trabajadores resistieron como pudieron, pero resistieron.

Te cuento estos pareceres porque el sol (hoy opacado por cenizas volcánicas) ha dejado de ser una metáfora de luz, aunque varios muestren la hilacha, como dicen las viejas. El pasado 2 de octubre, el diario Los Andes, nuestro clarinete prehuárpido y zanjonero, publicó una nota, firmada por Miguel Ángel Flores, con un título enigmático: “Cortes de cintas complican obra privada”. Tanto alarde literario me llamó la atención y sucumbí al relato.

El colega florido afirma que los trabajadores de la construcción, son alrededor de 16.000 en Mendoza. Unos 9.000 de ellos laburan en obras públicas (las inauguraciones enmascaran ese “corte de cintas” neoborgiano). Pero el efecto colateral es que esos 9.000 ganan un 25% más que los que están conchabados por empresas privadas.

O sea, lo que molesta a estas últimas es que la clase obrera no quiere ir al Paraíso, sino mejorar su nivel de ingresos. Y, claro, eso es contagioso y los pobres patroncitos no consiguen convencer a laburantes que quieran ganar unos mangos menos. Siempre desagradecidos los cabecitas, siempre buscando las comodidades, siempre holgazaneando y tratando de entorpecer al patriótico empresariado nacional (el exceso de gerundios es un homenaje explícito a mi querido Oscar D’Ángelo).

En lugar de equiparar hacia arriba los tipos muestran una acabada conciencia de clase. Perversa, pútrida, egoísta. Un asco, como dijo Fito.

Foto: Álbum Construção de Chico Buarque

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