Comunidade do MST inaugura horta comunitária voltada para doação de alimentos, em Ortigueira (PR)

Mais de 400 pessoas participaram do mutirão. A comunidade Maila Sabrina está há 18 anos na luta pela Reforma Agrária.

Foto via WhatsApp/MST.

Na quarta-feira (25), cerca de 400 pessoas do acampamento Maila Sabrina, de Ortigueira (PR), realizaram um mutirão de inauguração da horta comunitária Antonio Tavares. A ação tem como objetivo garantir a continuidade das doações de alimentos para famílias em situações de vulnerabilidade nas cidades, hospitais e asilos.

Os alimentos também vão suprir as necessidades de famílias recém chegadas na comunidade e que ainda não começaram a colher, além de viabilizar um banco de sementes crioulas para uso da própria comunidade.

Foram plantados cerca de 400 bananeiras, 100 quilos de arroz, feijão e milho, 10 mil pés de mandioca e 300 mudas de mandioquinha salsa. Nesta área já foram plantados 1.500 pés de melancias. A roça tem ao todo 2 alqueires.

A horta comunitária recebeu o nome de Antônio Tavares em homenagem ao militante do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) assassinado pela Polícia Militar no ano de 2000. Esta iniciativa ocorre também em mais de 20 comunidades do Paraná, com esse mesmo nome.

A militante Jocelda Oliveira, integrante da coordenação do acampamento Maila Sabrina reforçou o papel da Reforma Agrária na garantia de alimento para os mais necessitados. “Esta produção de alimentos prova que a Reforma Agrária dá certo, que a Reforma Agrária é pra produzir alimentos e matar a fome do povo”.

Desde o início da pandemia, a comunidade já doou cerca de 34 toneladas de alimentos e 1.900 pães caseiros para famílias em situação de vulnerabilidade de Curitiba e Londrina. “Nós aqui sempre tivemos esta prática de produzir comida e produzir subsistência. Esta horta que estamos inaugurando hoje é para continuar nossas doações que estamos praticando desde abril, e o que as famílias estão doando estão tirando do que elas produzem para doar para as famílias das cidades que estão passando fome e piorou com esta questão do Covid-19 e com o desemprego”, explica a dirigente.

Esta atividade se soma à campanha nacional de solidariedade encampada pelo MST desde o início da pandemia. Com esta ação, as famílias Sem Terra do Acampamento Maila Sabrina plantam a terra e cultivam a solidariedade, com o objetivo de continuar as iniciativas de doações de alimentos para as comunidades vulneráveis das áreas urbanas.

No Paraná as doações já chegaram à marca de 442 toneladas de alimentos doados ao longo dos meses. Ao todo, 51 acampamentos e 121 assentamentos do MST participaram das campanhas solidárias.

18 anos de luta pela terra
Famílias do MST ocuparam a chamada fazenda Nossa Senhora do Carmo em 2003, em busca de terra para produzir alimentos e construir a Reforma Agrária Popular. A fazenda era um dos maiores latifúndios do Paraná, onde não eram cumpridos os critérios de Reserva Legal e havia criação de búfalos, que inicialmente impedia o cultivo da terra, pois os búfalos degradavam o solo.

A comunidade Maila Sabrina é formada por aproximadamente 2 mil pessoas, que foram se organizando e logo iniciaram a produção de alimentos. Através da organização das famílias e muito trabalho coletivo foram sendo construídas as estruturas hoje existentes: moradias, escola, unidade de saúde, igrejas, mercado, lanchonete, campo de futebol, pista de laço, salão social, poços artesianos e churrasqueiras.

O acampamento Maila Sabrina é o 5º maior distrito rural do Paraná, com mais habitantes do que 30 municípios do estado, conforme estudo realizado pela Universidade Federal do Paraná (UFPR).

O casal de agricultores Ademar Ramos Godoy e Adelir dos Santos Alves vivem no acampamento há 2 anos, e cultivam uma variedade de alimentos para o autossustento, além de garantir uma renda com a produção de vassoura caipira, vendidas na própria comunidade e para as cidades vizinhas.

“Aqui é o sonho que a gente pediu, viver uma vida, ter um lote, fartura, muita coisa pra você poder receber os parentes, o pessoal da organização chegar aqui e se sentir à vontade, esse que é o sonho da gente”, garante Ademar.

Os camponeses têm um filho de 13 anos e agora Adelir está grávida de 8 meses. “Pra ele [filho] aqui é o lugar certo, fora da cidade, porque na cidade tá complicado criar filhos. Aqui vai ser ensinado desde pequeno a trabalhar e a viver em comunidade”.

DEIXE UMA RESPOSTA

Please enter your comment!
Please enter your name here

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.