Ciro: PMDB e PSDB se unem pela “morte” da Lava Jato

Broadcast Político ((Igor Gadelha e Caio Junqueira).

 

Em entrevista ao Broadcast Político, Ciro prevê que “só um milagre nos salvará” do impeachment. Ele avalia que PMDB e PSDB se articulam para “assaltar” o governo e, com isso, tentar a “morte” da Operação Lava Jato, que apura atos de corrupção na Petrobras. Na avaliação do ex-ministro, os dois partidos, que também são alvo da investigação, querem acelerar o impeachment e, com isso, sinalizar ao povo brasileiro que a Lava Jato já concluiu sua finalidade.

Confira a entrevista:

Broadcast Político – Como o senhor avalia a ida do ex-presidente Lula para o governo?
Ciro Gomes: Trazer o Lula para dentro do governo foi uma estupidez inominável que acelerou e passionalizou muito a construção de um consenso que não existia, e ainda não existe, mas que deu muitos passos à direção da ruptura democrática brasileira através desse expediente golpista, porém, protocolar, que é o processo de impeachment.

Broadcast Político – O senhor acha que Lula ainda tem poder de ajudar Dilma a reaglutinar a base aliada?
Ciro:Zero chance. O grande responsável por essa situação que Brasil está vivendo chama-se Luiz Inácio Lula da Silva, o que não quer dizer que ele não tenha direito à presunção de inocência. Colocar esse lado quadrilha da política brasileira na linha de sucessão é responsabilidade dele. Acreditar que aprofundar a entrega do Brasil, da República Brasileira, nessa linguagem de propina, de corrupção, de safadeza, como infelizmente foi o que aconteceu, e ainda achar que a solução para esse desastre é recompor mais do mesmo.

Broadcast Político – Lula é culpado pela crise por ter voltado ao governo ou pela composição política que articulou?
Ciro: As duas coisas. Ancestralmente, ele é o responsável. Montar uma aliança política, loteando o governo, sabendo que o cara vai roubar. A última vez que eu conversei com ele sobre esse tipo de assunto e me afastei foi quando ele decidiu nomear um cara do Eduardo Cunha para Furnas. Eu disse para ele: você está nomeando um cara que vai roubar e ai amanhã vai vir o escândalo e você que vai ser o responsável, (…) mas no dia seguinte nomeou. E agora essa loucura de inventar de vir para o governo, confundindo República com coisa particular.

Broadcast Político – Como o senhor avalia o atual cenário político?
Ciro: Estamos fazendo uma marcha da insensatez, com grande velocidade e grande complexidade. E nessa circunstância, vejo praticamente todos os vetores preocupantes saindo do quadro que deveriam estar. Começa com essa desbaratada ideia de trazer o Lula para dentro do governo. (…) De outro lado, você tem um juiz que é importantíssimo para o Brasil, – a obra do juiz (Sérgio) Moro é muito importante, será referência histórica, se ele não jogar isso tudo fora – começando a sair também do seu equilíbrio. (…) De outro, temos um ministro do Supremo Tribunal Federal, que é, no caso, o ministro Gilmar Mendes, que fica ao descuidado daquilo que é a ultima saída dos brasileiros que pensamos com equilíbrio, que é a confiança que eu, por exemplo, tenho de que o Supremo vai corrigir essa marcha da insensatez.

Broadcast Político – E qual o papel de Dilma nessa “marcha da insensatez?
Ciro: Ela está cometendo basicamente três gravíssimos erros, que, combinados entre si, estão ameaçando desconstituir seu mandato e levar o Brasil a uma ruptura da democracia. Primeiro de tudo, é ruinosa a administração da economia brasileira. Temos hoje a pior recessão da história moderna do País. Segunda questão: está falhando gravemente nas projeções dos sinais de decência da coisa pública. A presidente Dilma é uma mulher honrada, decente, honesta, porém, os sinais são absolutamente contraditórios. Ela entregou, por exemplo, a um afilhado do Eduardo Cunha a vice-presidência da Caixa Econômica Federal (Fábio Cleto, exonerado em dezembro de 2015). Terceiro: a destruição da esperança do conjunto da sociedade, que foi construída nos últimos 12 anos por coisas práticas.

Broadcast Político – De que forma o governo pode superar a crise econômica?
Ciro:Há mil caminhos. O câmbio já se ajustou, é possível perfeitamente anunciar uma tendência consistente e tão rápida quanto possível de queda da taxa de juros, construir um caminho de obstrução do colapso fiscal dos municípios, especialmente se tiverem compromisso com um grande programa de reversão de expectativas e com a retomada do desenvolvimento do País. É possível fazer um fundo soberano ou um fundo garantidor com base na fração das reservas internacionais para reestruturar as dívidas de empresas nacionais brasileiras que estejam comprometidas com algum programa de investimento.

Broadcast Político – Ontem, o senhor esteve reunido com a presidente no Palácio do Planalto. O que conversaram?
Ciro:Ela me chamou ao Palácio, e fui. Conversamos sobre o momento brasileiro. Ela pediu ajuda para barrar o impeachment e eu disse que iria ajudar.

Broadcast Político – Acha que Dilma vai conseguir barrar o impeachment no final?
Ciro:Só um milagre nos salva. A nós brasileiros, porque a queda dela é a ruptura da democracia e o nascimento de um governo ilegítimo e acho que daí adiante a violência será um quadro adicional ao nosso drama.

Broadcast Político – Como o senhor vê a articulação PMDB/PSDB para um governo pós-Dilma?
Ciro:O objetivo maior é assalto ao poder, tirando o povo da jogada. E o objetivo lateral é encerrar a (Operação) Lava Jato. (…) A coalizão PSDB/PMDB está tentando, entre outras coisas, simples e puramente, o fim e a morte da Lava Jato. A democracia brasileira precisa saber que o (procurador-geral da República, Rodrigo) Janot conseguiu mil contas na Suíça de políticos de tudo que é de partido. E eles estão fazendo jantares em Brasília e conversando explicitamente que é preciso acelerar o impeachment, derrubar a Dilma, e com isso sinalizar para o povo que a Lava Jato concluiu sua finalidade e agora está na hora de encerrá-la.

Broadcast Político – Há avaliação de que, no atual estágio, será muito difícil travar Lava Jato. O que o senhor acha?
Ciro:Não estou dizendo que é fácil, nem que vão conseguir. Estou dizendo o que eles estão tentando, planejando e executando fazer. Evidentemente, assumindo a Presidência isso fica mais fácil.

Broadcast Político – O PDT deveria desembarcar do governo, mesmo votando contra o impeachment?
Ciro:A discussão entre nós está completamente aberta. Todo e qualquer companheiro que defenda essa posição tem meu respeito. Eu apenas tenho ponderado duas coisas. A primeira: eu não aceitei ser ministro, não aceito e nós no Ceará não temos indicação de nenhum cargo no governo. Porém, compreendemos que a solução para o governo, que estamos muito aborrecidos com ele, não é interromper a democracia, não é colocar no governo um cara sem voto, que vem para fazer a pior bandidagem orgânica que o Brasil pode esperar.

Broadcast Político – O senhor acredita em um futuro apoio do PT à sua candidatura à Presidência em 2018 como o presidente do PDT, Carlos Lupi, tem defendido?
Ciro: Só se eu fosse uma criança imbecil iria entrar num bobagem dessa. A natureza do PT é de ter candidato e não apoiar ninguém. (…) O que penso, proponho e quero é participar da construção de uma saída do País. Quem vem comigo, quem não vem comigo, Deus é quem sabe. Não sou nenhum bobo para achar que em 2018 vou estar com o PT.

Imagem: tribunadoceara.uol.com.br

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