Cinema de Belém inaugurado em 1912 resiste ao tempo e continua exibindo filmes

Escrito por Polly Sousa

Imagem: Reprodução

A origem, mas sem Dicaprio

O espaço municipal Cine Olympia, como é chamado atualmente, é uma sala de cinema clássica localizada na avenida Presidente Vargas, em Belém. Inaugurado em 24 de abril de 1912, Olympia é o cinema mais antigo ainda em funcionamento no Brasil.

Com influência na arquitetura da Belle Époque (Movimento Francês do século 19 que foi marcado por intensiva modernização artística e tecnológica, tanto em Belém quanto em Manaus) o cinema foi construído no governo de Antônio Lemos, pelos empresários Carlos Teixeira e Antonio Martins, donos do Grande Hotel e do Palace Theatre, respectivamente.

Por dentro e por fora

Naquela época, as pessoas entravam no cinema por baixo da tela, o que era muito comum em cinemas franceses. Ao lado, ficava uma orquestra que tocava a trilha sonora do filme, pois naquela époica o cinema ainda era mudo. Com a chegada do som gravado, a orquestra encerrou seu trabalho em 1930. A sala de espera tinha detalhes de mármore de Carrara branca, um tipo de material de alta qualidade, e no teto, lustres de cristal. Isso em 1912. A decoração da sala atualmente é bem diferente.

O espaço formava um conjunto de construções graciosas no centro de Belém, junto com o Teatro da Paz. Como são dois lugares próximos, as pessoas costumavam se hospedar no Grande Hotel (que foi demolido na década de 70 dando lugar ao que hoje é o Hotel Hilton) e fazer um pequeno lanche no teatro do Hotel após as sessões de cinema. Uma dessas pessoas, foi o ilustre Walter Disney, que na ocasião, passou alguns dias em Belém, antes de seguir viagem para o Rio de Janeiro.

A partir da década de 40, o cinema começou a sofrer modificações. A belíssima arquitetura da Belle Époque deu lugar à Art Déco, e com o avanço da tecnologia cinematográfica, o filme mudo dava espaço para o primeiro sistema “movie tone” com o som gravado na película.

Comprado pelo grupo Severiano Ribeiro em 1950, o lugar recebeu tela panorâmica e “Cinemascope” e, nos anos seguintes, trocaram as poltronas, as tapeçarias e instalou-se ar-condicionado, construindo, assim, o cinema Olympia que nós conhecemos atualmente.

“Quando tinha condições, eu ia lá nos meus tempos de menino. Era algo caro e muito chique, naquela época não era qualquer um que podia ir, não. Era só praça. Égua, aquela época era muito boa, tu é doido… lembranças boas.”, me contou meu avô Guilherme, de 80 anos.

“Nós trupica, mas não cai”

A partir de 1980 o cinema Olympia começou a ser esquecido, e, no ano 2000, acabou fechando por um período, virando alvo de diversas lojas que queriam o prédio. Houve bloqueios e greves na porta do lugar. Quando sua última sessão foi anunciada, em 2005 (com o filme “Syriana”, com George Clooney), o público foi para o cinema protestar e até o prefeito apareceu, sentenciando: “O Olympia não fecha”.

Em 2006, após uma mobilização de intelectuais e artistas, ficou garantida a preservação do prédio, que sofreu sua quarta intervenção e foi entregue como Espaço Cultural Cinema Olympia. Hoje ele recebe filmes, eventos e exposições, e você pode acompanhar a programação pela página do Cine Olympia no Facebook.

Com mais de 100 anos, não é fácil derrotar o cinema Olympia. Depois de vencer o cinema mudo, a concorrência faraônica, a chegada dos multiplex e o centro tão modernizado de Belém, ele continua firme e forte para contar sua trajetória a todos que gostam de uma boa história, seja os mais antigos, seja a nova geração.

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