Cinco grandes enfermidades da era digital

neck-485x270“Pescoço de Smartphone” afeta em especial adolescentes, degrada coluna e pode exigir cirurgia. Uso abusivo de aparatos também atinge visão, audição e humor

Por Janet Allon, com tradução de Cynara Menezes, em seu blog.

Encare a realidade: estamos todos viciados em nossos dispositivos eletrônicos. Você deve conhecer alguns poucos solitários que ainda resistem, determinados a se manter afastados e a viver fora deste cercadinho, mas eles são cada vez menos numerosos. A maioria de nós estamos vivendo em um mundo cada vez mais conectado, dependente de comunicação e informação instantâneas, e entramos em pânico quando não conseguimos achar nossos smartphones.

Ninguém quer ouvir isso, mas estamos pagando um preço alto por este comportamento. Nossos hábitos tecnológicos estão arruinando nossas habilidades e nossa saúde mental e física. Estar alerta para os possíveis prejuízos é sua primeira linha de defesa contra o envelhecimento precoce, as dores e a diminuição da capacidade cerebral –assim como desconectar com maior frequência. Aqui estão cinco enfermidades digitais sobre as quais você precisa ser alertado:

1. Text Neck (“pescoço de mensagem”)

Você os vê em toda parte. Adolescentes, usuários do transporte público de meia idade e clientes de supermercado de todas as idades debruçados sobre objetos para os quais olham fixamente como se fossem pequenos milagres, com seus pescoços projetados para a frente e para baixo em um estranho e aflitivo ângulo. Eles simplesmente ficam lá, como se estivessem congelados, alheios a tudo.

Legiões de pessoas estão causando a si mesmos “text neck”, um problema do mundo moderno que pode arruinar o pescoço e a espinha de alguém. As pessoas estão debruçadas sobre smartphones, absortos em conversas online, checando o Facebook, retornando emails, postando fotos no Instagram, sem se dar conta de que estão colocando uma imensa tensão em seus pescoços e colunas vertebrais que irá atormentá-los para o resto da vida.

A cabeça é pesada. Sob a melhor das circunstâncias, tem o peso de um objeto de 5kg. Seu pescoço e coluna trabalham sem descanso para segurá-la e são feitos para isso. Ou eram, até que os smartphones vieram e deram a todo mundo o incentivo para mover suas cabeças para frente em um ângulo antinatural, por horas sem fim.

Como explica o Washington Post:

À medida que o pescoço se projeta para a frente e para baixo, o peso sobre a coluna vertebral começa a crescer. Em um ângulo de 15 graus, o peso é ao redor de 20kg; um ângulo de 30 graus corresponde a 18kg; 45 graus são 22kg; e a 60 graus o peso é de 27kg.

Esta é a carga que vem de ficar olhando fixamente para o smartphone –da mesma forma que milhões de pessoas fazem durante horas todos os dias, de acordo com uma pesquisa publicada por Kenneth Hasraj na National Library of Medicine. A pesquisa irá aparecer no próximo mês na Surgical Technology International. Ao longo do tempo, dizem os pesquisadores, esta triste postura, algumas vezes chamada de “text neck”, pode levar a um prematuro desgaste na coluna, degeneração e até mesmo cirurgia.

27 quilos!!! Mal comparando, é como carregar uma criança de 8 anos ao redor do pescoço por quatro horas ao dia. O problema é especialmente grave para pessoas jovens, Dr. Hansraj disse ao Post, que podem estar sendo conduzidos, involuntariamente e inconscientemente, a uma vida de dor na coluna.

textingneck

Algumas maneiras que ele recomenda para evitar isto:

Olhe para baixo em seu celular com os olhos. Não é necessário projetar o pescoço.

Exercite-se: Mexa a cabeça para a esquerda e para a direita várias vezes. Use as mãos para oferecer resistência e empurre a cabeça contra elas, primeiro para a frente e depois para trás. Fique de pé em uma porta com os braços estendidos e empurre o peito para frente para fortalecer “os músculos da boa postura”, disse Hansraj.

(anúncio da prefeitura de Nova York contra o volume alto dos fones de ouvido)

2. Perda auditiva

Isto é deprimente. A perda auditiva não acontece mais só com os velhos. A maioria de nós muito provavelmente está ouvindo pior cada vez mais cedo. Se você já não está tendo problemas em ouvir conversas normais cotidianas, este dia virá, e antes do que você imagina. Isto é, ao menos que você tenha protegido seus ouvidos basicamente a vida inteira.

A perda auditiva prematura e aguda não é somente resultado de nossos dispositivos digitais, também é um produto dos ruídos do dia a dia que todos nós consideramos normal, mas que está em um nível de decibéis que causa dano: cortadores de grama, sirenes, avisos sonoros do metrô, secadores de cabelo, concertos de rock barulhentos, alarmes de carro, até mesmo sistemas de som de restaurantes e cinemas e certos brinquedos infantis podem todos ser, bem, ensurdecedores.

Todas estas coisas barulhentas mantêm nossos frágeis tímpanos vibrando e, mantidas por muito tempo e em volume exagerado, podem danificar todo este aparato insubstituível.

Mas o uso generalizado de aparelhos de música portáteis está levando esta epidemia à estratosfera. De acordo com o New York Times, “um estudo nacional feito em 2006 pela Associação Americana de Fala, Linguagem e Audição descobriu que entre usuários de aparelhos de som portáteis, 35% dos adultos e mais de 59% dos adolescentes disseram ouvir música em altos volumes.” Fones de ouvido pequenos são piores que aqueles grandões, mas não importa: se você estiver ouvindo em um volume alto o suficiente para abafar o ruído exterior, é melhor começar a aprender a linguagem de sinais.

A perda auditiva é algo cumulativo e irreversível. Continue a usar seus fones de ouvido, mas abaixe o volume.

livroskindle

3. Exaustão Cerebral

O que o uso constante de meios digitais faz a nossos cérebros é um grande e ainda aparentemente especulativo tópico. Mas a ciência está começando a chegar lá, e não é nada bonito o que está aparecendo. Em termos simples, o uso excessivo do smartphone nos faz menos produtivos, menos descansados, mais esquecidos e, em uma palavra, mais estúpidos.

Um monte de gente passa os dias em seus computadores e as noites checando seus celulares, retornando mensagens e emails. Isto, de acordo com um estudo recente conduzido pela Universidade da Florida, pela Universidade Estadual do Michigan e pela Universidade de Washington rouba das pessoas a capacidade de recarregar as energias nos momentos de folga. Com isso, a produtividade, para não mencionar a saúde mental, diminui.

Checar múltiplos dispositivos e telas durante o dia também perpetuou a ideia de que as pessoas se tornaram “multitarefas”, mais capazes de passar de uma tarefa a outra, de mudar de foco rapidamente, e tudo graças aos milagres da tecnologia.

Ilusão.

De acordo com pesquisadores, as multitarefas constantes restringem nossa habilidade de se concentrar por períodos prolongados de tempo, uma espécie de pré-requisito para realizações significativas. Finalmente, até mesmo quando todas as telas estão desligadas nossa concentração já era.

“As pessoas com quem conversamos continuamente disseram, ‘olhe, quando eu tenho que me concentrar desligo tudo e fico focado’” disse o professor Clifford Nass, da Universidade de Stanford, à NPR (rádio pública dos EUA).“Desafortunadamente, eles desenvolveram hábitos mentais que lhes impossibilita estar inteiramente focados. Eles são os bobos da irrelevância. Simplesmente não conseguem se manter concentrados.”

Você não lê mais livros? Eu raramente o faço, apesar de ler copiosamente online. Acontece que estou pagando um preço cognitivo e possivelmente psicológico por isto. Ler numa tela não é tão benéfico quanto ler algo impresso. Um estudo de 2014 “descobriu que leitores de contos de mistério em um Kindle eram significativamente piores em lembrar a ordem dos acontecimentos do que aqueles que leram a mesma história em papel”.

E quanto mais você lê digitalmente, mais difícil fica mergulhar em um livro real. Outros benefícios da leitura incluem crescente capacidade de compreensão, diminuição do estresse e melhor sono. Todos eles estão mais relacionados à leitura impressa do que à digital. Muito tem se escrito também sobre o impacto destrutivo da luz azul emitida pelos dispositivos digitais no ciclo circadiano, o relógio biológico do nosso corpo, resultando em um sono pobre e os consequentes problemas mentais e físicos.

Sua incapacidade de se separar de eletrônicos também irá afetar e infectar as pessoas a seu redor, amigos, colegas de trabalho e familiares. Quando nós perdemos a capacidade crucial de desconectar, a saúde mental e o bem estar de todo mundo é afetada. Experts em relações familiares têm apontado que as crianças se sentem afetadas por pais que se encontram indisponíveis porque estão constantemente em seus celulares. Então, se não é por você mesmo, pelo menos se desconecte por causa de outras pessoas que se preocupam com você.

Leia mais (em inglês) aqui.

rugas

4. Cara de computador

Ok, basta de cérebro. Gastar incontáveis horas diante do computador está arruinando o visual das pessoas! Seu visual! Sério, se isto não o convencer a ficar mais tempo longe da tela do computador, não sabemos o que o fará.

Cirurgiões plásticos afirmam que mais e mais mulheres estão desenvolvendo a aterrorizante “cara de computador”, uma combinação de franzidos permanentes, rugas ao redor dos olhos, papada (papada!) e queixos duplos por olhar para baixo por longos períodos de tempo.

“Se você passa a maior parte do tempo olhando para baixo, os músculos do pescoço se encurtam e caem, dando a você um queixo duplo”, disse o cirurgião cosmético Michael Prager ao Daily Mail. Como quando as pessoas trabalham e estão sob estresse frequentemente têm sérias ou até malhumoradas expressões em seus rostos, estas linhas podem ficar permanentemente estampadas em rostos jovens.

A solução: levante, alongue seu pescoço, mude sua expressão, mova a tela para a altura do olho. Ou use Botox, claro, de acordo com os cirurgiões plásticos, de qualquer jeito.

Nenhuma palavra ainda sobre a terrível “cara de selfie”, mas ela não tem como ser boa.

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5. Síndrome da visão de computador

As más notícias, embora não surpreendentes: sentar-se em frente à tela do computador hora após hora, semana após semana, ano após ano, como muitos trabalhos requerem que você faça, causa dor e desconforto nos olhos, visão embaçada e dores de cabeça.

A boa notícia é que os oftalmologistaas ainda não acham que a síndrome de visão do computador causa dano permanente à visão. E há algo que você pode fazer se está experimentando as conseqüências negativas de sentar-se em frente à tela do computador em excesso –além de levantar-se e fazer outra coisa, tipo para sempre, o que não é bem uma opção.

A maior parte deste dano visual pode ser eliminado fazendo mudanças em seu local de trabalho. O Scheie Eye Institute do Penn Medical Center diz que “reduzir o brilho e os reflexos na tela do computador modificando a luz no ambiente, fechando as janelas, mudando o contraste ou o brilho da tela, ou colocando um filtro ou capa no monitor”, tudo isso irá ajudar.

Eles também recomendam:

“Mover a tela do computador para aumentar o conforto dos olhos. A tela deve estar à distância de um braço (ao redor de 50 a 70 centímetros) para obter uma distância de foco confortável à visão. A tela também deve estar em linha reta na frente do rosto e não para o lado, para evitar a fadiga ocular. O centro do monitor deve estar de 10 a 20 centímetros mais baixo que os olhos para permitir ao pescoço relaxar e para diminuir a superfície exposta do olho, o que irá reduzir a secura e a coceira.”

Acho que você provavelmente está pronto para dar um tempo da tela do computador agora mesmo.

 Fonte: Outras Palavras.

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