Cientistas encontram microplástico no gelo do Ártico

Equipe se surpreende ao achar microplástico em locais remotos do planeta, até então pensados como relativamente livres da poluição pelo material; pesquisa paralela sugere que partículas podem ser transportadas pelo ar.

Foto: Alfred-Wegener-Institut/Stefan Hendricks

Uma expedição de cientistas encontrou minúsculas partículas de plástico em núcleos de gelo durante perfurações no Ártico, aumentando os temores referentes aos efeitos desse tipo de poluição sobre a vida marinha até em locações remotas do planeta.

Os pesquisadores da equipe liderada por cientistas americanos utilizaram helicópteros para pousar em massas de gelo e remover amostras, durante uma expedição de 18 dias através da Passagem do Noroeste, no Ártico, que liga o Oceano Pacífico ao Atlântico.

“Passamos semanas observando o que parece muito ser gelo marinho intacto flutuando no oceano”, disse na quarta-feira (14/08) Jacob Strock, pesquisador da Universidade de Rhode Island, que conduziu as análises iniciais dos núcleos de gelo. Ele expressou sua frustração ao encontrar os resíduos de plástico. “Senti algo como um soco no estômago”, afirmou.

Ele e seus colegas encontraram microplásticos em amostras retiradas no Estreito de Lancaster, uma faixa isolada de água no Ártico canadense que se pensava estar relativamente preservada da poluição de resíduos plásticos. A equipe removeu 18 núcleos de gelo de até 2 metros de comprimento em quatro locais, e observou filamentos e partículas de plástico visíveis em várias formas e tamanhos.

“O plástico saltou aos olhos tanto pela abundância quanto pela escala”, disse o oceanógrafo Brice Loose, da Universidade de Rhode Island, que chefia a expedição batizada de Projeto Passagem do Noroeste. O objetivo do grupo era avaliar o impacto das mudanças climáticas provocadas pelo homem no Ártico.

Os cientistas afirmam que o gelo examinado seria de ao menos um ano e teria chegado ao Estreito de Lancaster a partir de regiões mais centrais do Ártico. A região, que seria uma espécie de sistema de esfriamento das temperaturas do planeta, está bastante comprometida em razão do rápido derretimento do gelo marinho.

O gelo recolhido será enviado para análises mais aprofundadas, que integram esforços para compreender os danos que os plásticos acarretam a peixes, aves marinhas e mamíferos de grande porte, como baleias.

Paralelamente à expedição na Passagem do Noroeste, um grupo de pesquisadores alemães e suíços publicou na quarta-feira um estudo com base em amostras obtidas no Ártico, nos Alpes suíços e na Alemanha, sugerindo que o microplástico pode estar sendo transportado a longas distâncias pelo ar, e levado à superfície quando neva.

A equipe do Centro Helmholtz para Pesquisa Polar e Marinha, na Alemanha, recolheu no arquipélago ártico norueguês de Svalbard amostras de neve que continham até 14,4 mil partículas de plástico por litro. A maior concentração de partículas – 154 mil por litro – foi encontrada próxima a uma estrada em uma área rural no estado alemão da Baviera.

A pesquisadora Melanie Bergmann, que coliderou o estudo publicado pelo jornal científico Science Advances, disse que boa parte das grandes quantidades de plástico encontradas no Ártico em estudos anteriores teria provavelmente sido transportada pela atmosfera.

“Uma vez que determinamos que grandes quantidades de microplástico podem ser transportadas pelo ar, isso naturalmente levanta a questão de quanto microplástico estamos inalando”, observou.

No início do ano, outro grupo de cientistas encontrou lixo plástico na Fossa das Marianas, o local mais profundo da Terra, no Oceano Pacífico.

As descobertas ajudam a pôr em destaque a proporção epidêmica do problema do lixo em todo o mundo. A ONU calcula que, até hoje, em torno de 100 milhões de toneladas de plástico tenham sido despejadas nos oceanos.

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